Com mais de 800 filmes produzidos e um recorde de lançamentos de estrelas em Hollywood, Lloyd Kaufman pode ser o maior cineasta sobre o qual a maioria das pessoas jamais ouviu falar.
Aos 72 anos, o cofundador da Troma Entertainment - o estúdio de cinema independente mais antigo do mundo - ocupa há meio século o posto de "enfant terrible" da comédia de horror, um Abbott e Costello para uma audiência que deseja coisas asquerosas.
O seu catálogo inclui pérolas sórdidas e sanguinárias como "The Toxic Avenger" (1985) - apontado como a sua obra-prima -, "Surf Nazis Must Die" (1987), "Poultrygeist: Night of the Chicken Dead" (2006) e "Tromeo and Juliet" (1996).
A agência AFP conversou com Kaufman em Los Angeles a propósito da estreia da sua produção mais recente: "Return to Return to Nuke 'Em High: AKA Vol. 2".
Desde a sua fundação, em 1974, a Troma lançou centenas de filmes, todos de baixo orçamento, caracterizados por um espírito livre e muitas vezes anárquico. Embora não registem lucros desde os anos 1990, fazem parte da cultura americana e ainda são exibidos em salas de cinema pequenas, voltadas para as produções independentes, e universidades.
"A Troma deixou uma grande marca na indústria, mas não somos tão conhecidos", lamenta Kaufman, que descreve o estúdio que fundou com o amigo de universidade Michael Herz como "o jalapenho numa pizza cultural".
A sua filmografia não chega nem perto do politicamente correto e está mais para uma caixa de Pandora de canibalismo, substâncias radioativas, fluídos corporais e seios falsos, sem mencionar os estereótipos raciais, religiosos e sexuais.
Figuras de destaque da indústria audiovisual americana deram seus primeiros passos na Troma, como os vencedores de Óscares Oliver Stone - com quem Kaufman estudou em Yale e a quem deu o seu primeiro trabalho no cinema - e Kevin Costner, assim como o realizador James Gunn ("Guardiões da Galáxia" 1 e 2) e a dupla Trey Parker e Matt Stone, responsável pelas animações "South Park".
Entre os atores que trabalharam em produções da Troma no início da carreira estão Robert De Niro, Dustin Hoffman, Vincent D'Onofrio e Samuel L. Jackson.
Mas a sua opinião sobre Hollywood não é das melhores: "O pequeno número de conglomerados internacionais dos media adoradores do diabo".
"99,9% das pessoas na indústria do cinema são a escória da Terra, estúpidos, incompetentes, desonestos, o pior", afirma, antes de citar como prova a "cultura suja" da indústria a respeito de Harvey Weinstein, que era adorado enquanto abusava sexualmente com impunidade.
"Quantas pessoas nuas apareceram nos nossos filmes? Milhares. De facto, já apareci nu nos meus filmes. Mas o o ponto é que somos como 'Bambi' em comparação com o lixo da indústria convencional", esclarece o cineasta e produtor.
Kaufman revela que as suas estrelas participam nas seleções de elenco nuas, mas afirma que uma agente de casting ou outra testemunha está sempre na sala.
Mas ele não perde a oportunidade de fazer a piada: o estúdio promoveu o personagem Toxie - de "The Toxic Avenger" - com a hashtag #MeTutu, numa clara referência ao movimento #MeToo contra os abusos sexuais em Hollywood.
"The Toxic Avenger" - um homem que cai num barril de resíduos químicos para se tornar o primeiro super-herói de Nova Jersey - foi ignorado no seu lançamento em 1984, mas com o passar dos anos ganhou muitos fãs, de Nova Iorque a Tóquio.
O filme inspirou três sequelas, um musical, uma banda desenhada da Marvel, um jogo eletrónico e uma série de desenhos animados infantil. E para completar a consagração, a longa-metragem deve entrar este ano para o catálogo da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos para ficar preservada para a posteridade.
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