O Festival de Cannes assistiu esta quinta-feira às imagens da vida diária sob as bombas e os tiros na Ucrânia, com o documentário "Mariupolis 2", do realizador lituano Mantas Kvedaravicius, que morreu durante as filmagens.

Com quase duas horas de duração, o documentário foi montado de forma simples pela sua equipa: o realizador morreu a 30 de março, durante uma operação das tropas russas, informa um comunicado da produtora The Match Factory.

Segundo a imprensa, tudo aconteceu quando tentava abandonar aquela cidade portuária no Mar de Azov: foi feito prisioneiro por soldados russos e mais tarde executado com tiros na cabeça e peito, sendo o seu corpo atirado à rua.

Kvedaravicius já estava em Mariupol em 2015, quando aconteceu o levantamento da minoria de língua russa na região do Donbass.

O cineasta regressou em fevereiro deste ano "para reunir-se com as pessoas que tinha conhecido e filmado entre 2014 e 2015", explica o comunicado.

Mantas Kvedaravicius

Sem narração ou banda sonora, o documentário oferece um olhar seco, com longos planos filmados principalmente dentro e fora de uma igreja da cidade, com um grupo de refugiados, habitantes de Mariupol que resistiram a abandonar a cidade.

Sob grande risco, os homens e mulheres da igreja saem para procurar alimentos e roupas, sob o barulho incessante das bombas, dos tiros, às vezes distantes e em alguns momentos muito perto.

Dois refugiados encontram um gerador de de energia elétrica numa casa. Dois corpos são vistos na porta de um prédio, mas não há tempo para enterrar as vítimas, afirma um morador.

Os refugiados fazem uma rápida oração para agradecer a Deus por terem sobrevivido mais um dia.

Um homem fala: "Se alguém duvida do Senhor, da sua bênção, vá ao teatro e dê uma olhadela na vala comum, ou visite a fábrica".

Denúncias de várias organizações não governamentais afirmam que centenas de pessoas que estavam refugiadas num teatro de Mariupol morreram num ataque das tropas russas em março.

Os refugiados na igreja acreditam que a proteção divina salvará o grupo das bombas. Num momento do documentário, uma autoridade pede que deixem o local para fechar o templo. Os que estão dentro recusam-se e ao espectador resta apenas tentar imaginar o que acontecerá com estas pessoas.

Cannes começou esta semana com um vídeo gravado do presidente ucraniano, o ex-ator Volodymyr Zelensky, que pediu ao mundo da cultura que se envolva na denúncia da invasão russa.

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