Conforme relata Ilan Nguyen, a primeira metade do século XX foi marcada, essencialmente, pelas influências estrangeiras - especialmente americanas e francesas. Não há uma continuidade entre as tradições das “lanternas mágicas” do século XIX com os rumos que os desenhos animados vão tomar no grande ecrã.

A influência de Walt Disney

Aliás, tal como no Ocidente, é vasta a influência de Walt Disney, que começa a produzir séries de caráter experimental especialmente a partir de 1929 - precisamente na altura em que o cinema faz o seu trajeto rumo ao sonoro. A primeira longa-metragem dele, como se sabe, chegará em 1937 - “A Branca de Neve e os Sete Anões”.

O grande ponto de viragem na animação japonesa dar-se-á já depois da 2ª Guerra Mundial. Durante o conflito, inclusivamente, a influência “yankee” não deixou de chegar - neste caso trazida pelos soldados dos palcos do Pacífico - de locais como Malásia e Indonésia. Por estas alturas, os japoneses iniciam aquilo que será uma das suas marcas nas suas primeiras décadas: apreender e tentar fazer à sua maneira.

Nos anos 50, o país recuperava-se do desastre de uma guerra selvática que culminou com as bombas atómicas de Hiroshima e Nagasaki e, em 1956, decorre o momento crucial: a fundação da Toei - estúdio que alcançará sucesso e garantirá o lançamento regular de uma produção anual. “Essencialmente a ideia foi: se os americanos conseguem, nós também conseguimos”, observa Nguyen.

Entre a experimentação e o comércio, entre o cinema e a televisão

Um pouco desiludido com os rumos comerciais do estúdio, um dos seus pioneiros, um dos grandes por trás da revolução do Manga, Osamu Tezuka, resolve criar o seu próprio empreendimento e concorrer com a Toei. O resultado foi a bastante bem-sucedida Mushi Produções - embora longe de satisfazer os apetites de Tezuka por um cinema mais experimental. No início dos anos 70, Tezuka abandonaria o estúdio.

Conforme lembra o historiador, a história do cineasta nos anos 60 foi marcada por um profundo contraste entre essa ambição e a necessidade de uma rápida comercialização dos produtos do estúdio. Coube a ele, aliás, a série “Astroboy”, que revolucionou o mundo da animação ao permitir um aporte regular (episódios de 20 minutos uma vez por semana) num meio cada vez mais popular - a televisão.

Nos anos 70 começaram a surgir novos nomes preocupados em introduzir qualidade no cinema - sendo notórios os nomes de Isao Takahata e o seu pupilo, Hayao Miyazaki - que fundariam, nos anos 80, os notórios estúdios Ghibli.

Mas enquanto “Heidi”, uma das propostas Takahata, era o grande vencedor em termos de popularidade em 1974, a reposição na TV, três anos depois, de “Space Battleship Yamato”, representa outro marco importante.

Os anos 80: a glória

Embora os anos 90 sejam, por vezes, referidos como a “era do ouro” da animação japonesa, Ilan Nguyen acredita que este epíteto pertence aos 80. Nesta época deu-se uma explosão de quantidade e de qualidade, para além do avanço ainda mais efetivo sobre os mercados mundiais, que tornou a animação nipónica amplamente conhecida.

Um dos casos foi, obviamente, o de “Dragon Ball” - que teve o condão de espalhar como um vírus as artes marciais pela animação mundial. Mais ao gosto de um público refinado, começa aqui a atividade dos estúdios Ghibli e pertencem a esta década obras-primas como “O Túmulo dos Pirilampos”, de Takahata.

Outro dos casos mais emblemáticos é o de “Akira” - clássico que, ainda hoje, retém a sua capacidade de impressionar. O filme de Katsuhiro Otomo representa a evolução de décadas da Anime para um público mais adulto - embora Otomo tenha se baseado nas suas histórias para uma revista direcionada a adolescentes. Estas já davam conta da grande violência gráfica e da conduta amoral e sem particular significado dos seus personagens.

Curiosamente, o filme foi um falhanço comercial no Japão e seria o Ocidente a lhe conceder toda a sua glória. Para além destes temas de crueldade e desencanto com tonalidades políticas, Nguyen reforça o lado estilístico como um dos atributos mais apelativos para o público - onde a representação de uma talentosa equipa de trabalho aproximou “Akira” do “fotorrealismo”.

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