O ator e argumentista norte-americano John Frey, que trabalhou com o realizador Bruno de Almeida em "Operação Outono" e "Cabaret Maxime", morreu no sábado (23), em Nova Iorque, aos 62 anos, disse hoje (26) à Lusa fonte próxima do ator.
"Frey tinha há décadas fortes relações com o meio cinematográfico e teatral português. O seu último trabalho foi o argumento de 'Cabaret Maxime' (2018), coescrito e realizado por Bruno de Almeida, em que também atuou", lê-se na mensagem assinada pelos "Amigos de John Frey em Portugal", enviada à agência Lusa.
Residente em Lisboa desde 2009 "até há cerca de três anos", como disse o historiador de arte John Macdonald, um dos amigos do ator, em declarações à Lusa, John Frey criara na capital portuguesa o John Frey Studio for Actors, que funcionou no Teatro do Bairro, e mobilizou profissionais como Joana Pais de Brito e Tiago Castro.
Nascido no Bronx, em Nova Iorque, formado pelo William Esper Studio for Actors, desta cidade, onde lecionou "até há pouco", aqui iniciou a carreira, como ator, somando perto de três décadas de atividade, entre escrita, representação e ensino.
Nos palcos nova-iorquinos, destacam-se os seus desempenhos em “Gata em Telhado de Zinco Quente” e “27 Wagons Full of Cotton”, de Tennessee Williams, “Menina Julie”, de August Strindberg, “Ratos e Homens”, de John Steinbeck, e em particular a participação na retrospetiva dedicada ao artista Bruce Nauman, levada ao Dia Arts Center de Manhattan, escrita e dirigida pelo britânico Mark Wallinger.
Como encenador, também em Nova Iorque, dirigiu, entre outras, a peça de William Mastrosimone “The Woolgatherer”, no Flamingo East Theater, “Call it Clover”, de Wil Calhoun, no Trilogy, e “Summer and Smoke”, de Tennessee Williams, que levou a cena na sala John Houseman, assim como "Talk to Me Like the Rain and Let Me Listen", outra peça do dramaturgo do Sul dos Estados Unidos, que montou no Theater Row.
Em televisão, trabalhou em produções como "Days of Our Lives", "Frágil", "Mata Hari", com Rutger Hauer e Gérard Depardieu, e "Socorro", com Dennis Leary.
Mas foi sobretudo no cinema que se tornou conhecido em Portugal, num trabalho com o realizador Bruno de Almeida, quer como ator, quer como argumentista, que remonta ao filme “Em Fuga”, de 1999, e prosseguiu nos anos seguintes com “The Collection” (2005), série de curtas-metragens rodadas em Nova Iorque, o premiado “The Lovebirds” (2007), seis histórias de Lisboa, e "The Lecture" (2012), produzido para Guimarães Capital Europeia da Cultura.
A colaboração próxima de John Frey com Bruno de Almeida inclui igualmente a escrita em parceria da longa-metragem "Operação Outono" (2012), sobre o assassinato do general Humberto Delgado, por agentes da PIDE, a polícia política da ditadura.
Entrou ainda em "Call Girl", de António Pedro-Vasconcelos (2007), "The Hungry Ghosts", de Michael Imperioli (2009), e em "Em Câmara Lenta" (2012), o derradeiro filme de Fernando Lopes.
Entre Portugal e os Estados Unidos, trabalhou com atores como Ana Padrão, John Ventimiglia, Michael Imperioli, Drena De Niro, Nick Sandow.
Além da criação do John Frey Studio for Actors, em Lisboa, onde trabalhava a Técnica Meisner, em que era especialista, fundou também, em portugal, a companhia de teatro Below the Belt, em 2013, para a qual encenou "Danny e o Profundo Mar Azul", de John Patrick Shanley, e "The Motherfucker with the Hat", de Stephen Adly Guirgis.
De acordo com John Macdonald, embora John Frey já não morasse permanentemente em Lisboa, voltava todos os anos, reativando os cursos de representação no Teatro do Bairro e o trabalho com atores.
John Frey recebeu o Prémio Sophia de Melhor Argumento, da Academia Portuguesa de Cinema por "Operação Outono". Foi também distinguido pela escrita de "The Lovebirds", no Festival de Cinema Independente de Ourense, e por "Cabaret Maxime", nos Prémios da Sociedade Portuguesa de Autores.
Escreveu e realizou as curta-metragens "Another Day" (2006) e "Fantasia" (2015), que rodou em Lisboa, com Sofia Aparício.
De acordo com os seus amigos, atualmente trabalhava num guião biográfico sobre Herman Melville, o autor de "Moby Dick", cuja primeira versão terminara no Verão de 2020.
"John Frey era um apaixonado pela capital portuguesa, pela sua vida artística e boémia, de que se tornara uma figura permanente, admirada e acarinhada. Genuíno lisboeta por adopção, este foi um nova-iorquino que, como poucos, 'conhecia o código de Lisboa'", recordam os seus amigos, na mensagem enviada à agência Lusa.
O William Esper Studio for Actors, onde lecionava, lamenta, na sua página na Internet, a morte de um "artista de coração puro e generoso": "John era um apaixonado pelo ensino. Sentimos a sua falta".
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