Kirk Douglas foi a "poderosa e casada estrela de cinema" muito mais velha que violou a atriz Natalie Wood quando esta tinha 16 anos, acusa a irmã da atriz, Lana Wood, num livro de memórias que será publicado na próxima semana chamado "Little Sister" [Irmã mais nova, em tradução aproximada].
Há décadas que circula em Hollywood o sombrio rumor sobre uma alegada violação bastante violenta na primavera de 1954 que durou horas, quando o ator a convidou para fazer um teste no seu quarto no Chateau Marmont em Los Angeles, mas os excertos divulgados esta quinta-feira à noite pela Associated Press e pelo jornal britânico The Guardian situam no verão de 1955, depois de Lana, então com oito anos, e a mãe de ambas, Maria Zakharenko, terem deixado a atriz no famoso hotel.
No livro, Lana Wood recorda que a progenitora organizou este encontro com o ator, então com 39 anos, na convicção de que poderia abrir portas em Hollywood "apenas com um acenar da sua famosa e bela cabeça a seu favor".
Natalie Wood, antiga famosa estrela infantil na década de 1940, estava a dar os primeiros passos na carreira como adulta: foi "Fúria de Viver", ao lado de James Dean e Sal Mineo, cuja rodagem terminou no final de maio de 1955, que permitiu fazer essa transição e lançou-a para uma carreira que incluiu três nomeações para os Óscares e filmes como "West Side Story", "Esplendor na Relva", "Gypsy, a cigana, "Amar Um Desconhecido", "O Estranho Mundo de Daisy Clover", "A Flor à Beira do Pântano" e "Bob, Carol, Ted e Alice".
"Pareceu que tinha passado muito tempo até a Natalie regressar ao carro e me acordar quando bateu com a porta. Parecia horrível. Estava muito desgrenhada e muito perturbada, e ela e a mãe começaram a sussurrar uma com outra de forma frenética. Não conseguia realmente ouvi-las ou perceber o que estavam a dizer. Aparentemente, alguma coisa má tinha acontecido com a minha irmã, mas o que quer que seja, pelos vistos eu era muito jovem para me dizerem", escreve Lana Wood no livro.
Na versão da irmã, Natalie Wood só lhe terá contado diretamente o que se passou quando ambas eram adultas e pediu-lhe para manter em segredo para proteger a sua carreira.
Natalie Wood faleceu em 1981, aos 43 anos, de uma morte por afogamento em circunstâncias nunca claramente esclarecidas. E após a morte de Kirk Douglas em 2020, aos 103 anos, e da sua viúva Anne Buydens em abril deste ano, Lana Wood justifica no livro a decisão de identificar o ator: "Com mais ninguém vivo para proteger, tenho a certeza que ela me vai perdoar por finalmente quebrar essa promessa".
Michael Douglas, o famoso filho de Kirk Douglas, não respondeu aos pedidos da reação da comunicação social, mas o seu relações-públicas divulgou um curto comunicado à Associated Press: "Que ambos possam descansar em paz".
Agora com 75 anos, a também atriz Lana Wood não tem uma boa relação com a família de Natalie Wood: um documentário da HBO, "Natalie Wood: What Remains Behind", produzido pela filha Natasha Gregson Wagner, inclui depoimentos de amigos e familiares que a acusam de explorar a morte da irmã com alegações sensacionais sobre o acidente do barco em que perdeu a vida.
No entanto, a alegada violação foi um rumor que circulou em Hollywood durante décadas e a Associated Press recorda que Natalie Wood também se tornou um tópico nas redes sociais na altura em que Kirk Douglas morreu. Numa entrevista para um podcast em 2018, Lana Wood confirmou a violação e em que local, omitindo a identidade do responsável.
Também sem incluir o nome do ator, o primeiro relato público sobre o alegado encontro violento surgiu numa biografia de Suzanne Finstad sobre Natalie Wood publicada em 2001, a partir de informações prestadas pelos seus amigos, incluindo os atores Dennis Hopper e Scott Marlowe.
"Embora as memórias dos cinco amigos íntimos de alguns detalhes ou momentos divirjam após 45 anos, a essência do que cada um se lembra que Natalie lhes confidencial é a mesma: que a mesma estrela de cinema casada atraiu ou enganou Natalie, violou-a tão brutalmente que ela ficou fisicamente ferida e estava demasiado assustada ou intimidada para denunciar à polícia. Natalie 'odiou' o seu antigo ídolo do cinema a partir daí, 'estremecendo' se ouvisse o seu nome. Ela guardaria o horrível segredo e comportar-se-ia como se nada tivesse acontecido sempre que os seus caminhos se cruzavam, demasiado educada por 'Mud' [a sua mãe] nos meambros de Hollywood para enfrentar uma poderosa estrela de cinema", escrevia a biografia.
Reeditada em 2020, a biografia apresentava detalhes específicos sobre a alegada violação, que teria terminado com uma ameaça da grande estrela de cinema: "Se disseres a alguém, será a última coisa que fazes".
Além do relato de que Natalie Wood esteve presente numa festa na casa de Kirk Douglas de homenagem aos astronautas Georgy Beregovoi e Konstantin Feoktistov no final de outubro de 1969, existem duas fotografias na internet em que os dois coincidem: uma que inclui o marido da atriz, Robert Wagner (agora com 91 anos), tirada quando eles estavam casados pela primeira vez, entre 1957 e 1961, e outra também não datada, mas que se pode situar em meados da década de 1960.
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