A caminho dos
Óscares 2019
"Roma", a história da vida familiar do realizador Alfonso Cuarón no México dos anos 1970, e "A Favorita", uma comédia dramática que conta a história de duas mulheres que disputam a atenção da frágil rainha inglesa Ana na Inglaterra do início do século XVIII, lideram a corrida para os Óscares: ambos conseguiram 10 nomeações.
VEJA A LISTA COMPLETA DE NOMEADOS
Certamente para alívio da Academia, do canal ABC e dos produtores da cerimónia, não faltam filmes populares entre os nomeados e muita diversidade racial, apesar da completa omissão da lista de "Crazy Rich Asians" ("Asiáticos Doidos e Ricos"), a comédia sensação do último verão e a primeira produção de Hollywood em 25 anos com atores de ascendência asiática, e apenas nas categorias de Filme Estrangeiro, Documentário e Curtas surgirem títulos realizados por mulheres.
Podiam ser dez os candidatos ao Óscar de Melhor Filme, mas apenas oito conseguiram votos suficientes dos quase oito mil membros da Academia. Aos dois principais juntaram-se "Assim Nasce Uma Estrela" (oito nomeações), "Black Panther" (sete), "BlacKKKlansman: O Infiltrado" (seis), "Bohemian Rhapsody" (cinco), "Green Book: Um Guia Para a Vida" (cinco) e "Vice" (oito).
Enquanto "A Favorita" estreia a 7 de fevereiro em Portugal e também lidera as nomeações para os BAFTA, os prémios da Academia de Cinema e Televisão Britânica, "Roma", que valeu a Alfonso Cuarón quatro das dez nomeações, é uma produção Netflix, que assim obtém, pelo menos nesta fase, o primeiro grande reconhecimento dos prémios da Academia, a que se juntou "A Balada de Buster Scruggs", dos irmãos Coen, com três nomeações (argumento adaptado, guarda-roupa e canção) e os documentários (curta-metragem) "End Game" e "Period. End of Sentence".
"Black Panther" também fez história nos Óscares ao tornar-se o primeiro filme da Marvel e de super-heróis na corrida ao prémio principal.
Ainda que tenham ficado de fora o já citado "Crazy Rich Asians" e ainda "O Regresso de Mary Poppins", "Se Esta Rua Falasse", "O Primeiro Homem na Lua" e "Um Lugar Silencioso" , não há nenhuma presença ou omissão que surpreenda na corrida a Melhor Filme.
O mesmo não se pode dizer de outras categorias e a mais chocante será que "Assim Nasce Uma Estrela" valeu a Bradley Cooper nomeações nas categorias de Melhor Filme (como produtor), Ator Principal, Argumento Adaptado e Canção ("Shallow"), mas falhou... a da realização.
Azar também teve Peter Farrelly com "Green Book", acabando a categoria por ter uma das presenças mais diversificadas e internacionais deste ano e de toda a história dos Óscares: aos americanos Spike Lee ("BlacKkKlansman") e Adam McKay ("Vice") juntaram-se o mexicano Alfonso Cuarón (“Roma”), o polaco Pawel Pawlikowski ("Cold War - Guerra Fria") e o grego Yorgos Lanthimos ("A Favorita").
"BlacKkKlansman" colocou Spike Lee como nomeado como produtor (para Melhor Filme) e Argumento Adaptado, mas incrivelmente foi a primeira nomeação como realizador para este vencedor do Óscar honorário pela carreira em 2016. As suas únicas participações na cerimónia tinham sido pelo Argumento Original de "Não Dês Bronca" (1989) e o documentário "4 Little Girls" (1997).
Atores rejeitam Emily Blunt duas vezes
Se dúvidas existissem, as presenças de Yalitza Aparicio para Melhor Atriz Principal (a segunda mexicana alguma vez nomeada na categoria após Salma Hayek por "Frida", em 2005) e de Marina de Tavira nas secundárias confirmam o enorme impacto de "Roma" entre os votantes.
A primeira juntou-se às previsíveis Glenn Close ("A Mulher"), que conseguiu a sétima nomeação da carreira, Olivia Colman ("A Favourita”) e, claro, Lady Gaga ("Assim Nasce Uma Estrela"), que também está nomeada pela canção "Shallow". Melissa McCarthy também confirmou o favoritismo que lhe era atribuído nos últimos dias com "Can You Ever Forgive Me?".
Com isto ficou de fora Nicole Kidman ("Destroyer") e principalmente Emily Blunt por "O Regresso de Mary Poppins", que é mesmo a grande desprezada das nomeações pois também viu passar-lhe ao lado a categoria das secundárias com "Um Lugar Silencioso", juntando-se às ausentes Claire Foy ("O Primeiro Homem na Lua") ou Margot Robbie ("Maria, Rainha dos Escoceses").
A "culpa" é da já mencionada Marina de Tavira, que não tinha sido nomeada para quaisquer outros prémio pela interpretação da negligenciada matriarca que procura juntar os cacos da família em desintegração em "Roma", que se juntou a Amy Adams ("Vice"), que tem aqui a sexta nomeação em 13 anos, Regina King ("Se Esta Rua Falasse"), Emma Stone e Rachel Weisz ("A Favorita").
Os esperados Christian Bale ("Vice), Bradley Cooper ("Assim Nasce Uma Estrela"), Rami Malek ("Bohemian Rhapsody") e Viggo Mortensen ("Green Book - Um Guia Para a Vida") surgem na corrida para Melhor Ator. A única vaga que parecia disponível foi para Willem Dafoe ("À Porta da Eternidade"), o que deixou de fora John David Washington ("BlacKkKlansman") ou Ethan Hawke ("No Coração da Escuridão").
Para os secundários estão Mahershala Ali ("Green Book"), Adam Driver ("BlacKkKlansman") e Richard E. Grant ("Can You Ever Forgive Me?"), com Sam Elliott ("Assim Nasce Uma Estrela") e principalmente Sam Rockwell ("Vice"), que venceu esta categoria no ano passado com "Três Cartazes à Beira da Estrada", a impedirem Timothée Chalamet ("Beautiful Boy") de chegar aos finalistas.
Omissões, omissões...
Ethan Hawke e John David Washington não chegaram lá, Emily Blunt ficou duplamente de fora, Bradley Cooper e Peter Farrelly não conseguiram tudo o que podiam, mas o que dizer quando os favoritos a ganhar as respetivas categorias nem sequer são nomeados?
Foi isso que aconteceu a Justin Hurwitz, que falhou a corrida para Melhor Banda Sonora com "O Primeiro Homem na Lua", e "Won't You Be My Neighbor?" nos documentários.
No pode ser um sinal de que apenas ficará pela vitória das estatuetas nas categorias técnicas, Ryan Coogler não conseguiu ser nomeado pela realização de "Black Panther", que também viu ignorados o argumento adaptado e Michael B. Jordan para ator secundário.
"Se Esta Rua Falasse" não permitiu a Barry Jenkins repetir o feito de há dois anos com "Moonlight": o realizador só está nomeado pelo argumento adaptado e o filme surge ainda para atriz secundária (Regina King) e Banda Sonora.
"Roma" e os outros na corrida para Filme Estrangeiro
Além do estatuto conferido pelas dez nomeações, "Roma" é também o favorito na categoria de Melhor Filme Estrangeiro (ou mais corretamente Não Falado em Inglês), em representação do México.
Os outros nomeados foram "Shoplifters – Uma Família de Pequenos Ladrões", pelo Japão, vencedor da última Palma de Ouro de Cannes; "Nunca Olhes para Trás", pela Alemanha, com o qual Florien von Donnersmarck regressa à corrida após ter ganho mesmo troféu em 2006 por "As Vidas dos Outros"; "Cafarnaum", que vale a segunda nomeação de sempre para o Líbano, tendo a primeira sido apenas o ano passado para "O Insulto"; e "Cold War – Guerra Fria", pela Polónia, que marca o regresso do realizador Pawel Pawlikowski à corrida após a vitória em 2015 com "Ida".
O filme do cineasta polaco é, de resto, uma das grandes surpresas destas nomeações, uma vez que conseguiu ser também nomeado à estatueta de Melhor Realização e Fotografia.
A categoria tinha nove pré-nomeados dos 87 países que submeteram candidatura e não chegaram aos finalistas "Burning" (Coreia do Sul), "Pássaros de Verão" (Colômbia), "O Culpado" (Dinamarca) e "Ayka" (Cazaquistão).
Americanos dominam animações
No campo da Melhor Longa-Metragem de Animação, a Pixar e a Disney voltaram a entrar em jogo com "The Incredibles 2: os Super-Heróis" e "Ralph Vs Internet", Wes Anderson surge com "Ilha dos Cães" após ter sido nomeado por "O Fantástico Senhor Raposo" há quatro anos, e a Sony Animations consegue a sua primeira nomeação na categoria desde "Dia de Surf" em 2007 com o muito elogiado "Homem-Aranha: No Universo Aranha".
O único filme não americano a conseguir furar o top 5 foi o japonês "Mirai", do muito prestigiado Mamoru Hosoda, que já tinha sido nomeado ao Globo de Ouro e tem estreia prevista em Portugal no final de março. De fora, ficaram títulos como "Grinch", da Illumination, ou "Idade da Pedra", da britânica Aardman, tornando-se esta a primeira vez que Nick Park realiza um filme que não é nomeado ao Óscar.
As nomeações foram anunciadas em direto de Los Angeles desde as 5h20 (13h20 em Portugal Continental), pelos atores Tracee Ellis Ross (estrela da série "Black-ish" e filha da lendária artista Diane Ross) e Kumail Nanjiani (da série "Silicon Valley" e um antigo nomeado por " Amor de Improviso"), num evento transmitido em direto pelos canais de televisão e por "streaming" em Oscars.com e nas redes redes sociais.
A 91ª cerimónia dos Óscares será a 24 de fevereiro em direto do Dolby Theatre em Los Angeles e a Academia divulgou o cartaz oficial alguns minutos antes do anúncio das nomeações.
A não ser que surja alguma surpresa de última hora, será a primeira cerimónia desde 1989 que não haverá anfitrião, uma vez que o escolhido pela Academia Kevin Hart desistiu a 7 de dezembro por causa da polémica com comentários antigos homofóbicos.
Segundo a comunicação social especializada, a solução encontrada pelos produtores passará pela presença reforçada de grandes estrelas, nomeadamente dos filmes "Vingadores" da Marvel.
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