Está a ser uma má semana para "O Mundo a Seus Pés".
Primeiro foi "Mank", o filme de David Fincher sobre os bastidores da produção de 1941, perder oito dos dez Óscares para que estava nomeado na cerimónia de domingo à noite; esta terça-feira, foi a vez do clássico de Orson Welles perder a cotação de 100% de aprovação no Rotten Tomatoes, o famoso site agregador de críticas.
Tudo por causa de uma crítica com 80 anos incorporada no site que fez a cotação descer para 99% recentemente descoberta no âmbito de um projeto para recuperar textos do passado e adicioná-los a filmes clássicos de Hollywood.
Após cerca de 20 anos no topo da lista de dezenas de títulos com 100% de cotação, o "melhor filme de todos os tempos", pelo menos para o Rotten Tomatoes, passou a ser "Paddington 2", em que todas as 244 críticas são positivas.
À frente estão agora também filmes como "Serenata à Chuva" (1951), "O Exterminador Implacável" (1984) e "Toy Story" (1995).
A conta oficial de "Paddington" já reagiu: "Espero que o sr. Kane não fique demasiado chateado quando souber que o ultrapassei no Rotten Tomatoes."
Paul King, o realizador dos dois primeiros filmes, também declarou ao The Hollywood Reporter que "é extremamente adorável estar em qualquer lista que inclua 'O Mundo a Seus Pés', mas é obviamente uma lista bastante excêntrica que vai de 'O Mundo a Seus Pés' para 'Paddington 2', pelo que tentarei não levar isso muito a sério".
"Não vou deixar isso subir muito à minha cabeça e construir imediatamente o meu Xanadu [uma referência à mansão de Kane]. Mas tenho andando a cozinhar um modelo só por precaução", acrescentou.
O realizador também brincou que se Welles fosse vivo hoje e "tivesse acesso ao tipo de tecnologia" agora disponível, poderia ter criado algo "quase tão bom" quanto "Paddington 2".
"Mas ele teve de se arranjar. Juntou o seu escasso talento para simplesmente derrubar o Citizen Kane", acrescentou [a personagem inspirava-se parcialmente no magnata da imprensa William Randolph Hearst].
A única crítica negativa nas 116 agora disponíveis para o filme de Welles chama-se "'Citizen Kane' Fails to Impress Critic as Greatest Ever Filmed" ['Citizen Kane' não consegue impressionar o críticos como o melhor já filmado"].
Publicada no Chicago Tribune por um crítico que escreveu sob o pseudónimo habitual da época Mae Tinée (para se parecer com matinée) e apenas disponível na versão digitalizada do recorte do jornal, o texto começa com "Na noite passada, dois cinemas trouxeram para os seus ecrãs um estudo de magnífica futilidade, a vida de 'Citizen Kane'. Já ouviram falar muito sobre este filme e vejo pelos anúncios que alguns especialistas acham que é 'o melhor filme de todos os tempos'. Eu não".
"É interessante. É diferente. Na verdade, é bizarro o suficiente para se tornar uma peça de museu. Mas o seu sacrifício da simplicidade à excentricidade rouba-lhe excelência e o valor geral de entretenimento", continua o texto.
O tão elogiado uso icónico das sombras não passou despercebido ("Dá-me arrepios e fiquei a desejar que deixassem entrar um pouco de sol"), mas ficaram elogios para Welles pela interpretação de Kane ("um artista dedicado e eficaz").
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