Que memórias guarda do telefilme de 1973 em que baseou este filme e porque é que teve tanto impacto em si?

O que é realmente assustador em relação ao original é que foi a primeira vez que eu vi criaturinhas ferozes e imparáveis. Normalmente, em criança, temos medo de dragões ou monstros gigantes, estamos habituados a que o poder e a ameaça venham do tamanho. Mas de certa forma era ainda mais assustador e perverso ver o quão aterrorizantes eram estas criaturinhas. Ainda por cima, o design das criaturas não fazia qualquer tipo de sentido, mas por alguma razão, e por muito idiota que isto pareça, o fato de não fazer qualquer sentido levava-nos a assumir que elas deviam ser reais. Para a mente de uma criança, fazia todo o sentido que aquelas criaturas fossem mesmo assim. E devido à severidade do rosto delas e à sua natureza pálida, eram arrepiantes porque sabíamos que elas eram inteligentes e eram capazes de estratégia. Não era uma questão força bruta, mas do quão espertas eram estas coisas.

Então o filme arrepiou o jovem Guillermo.

Absolutamente. Poucas vezes tive tanto medo e tanto entusiasmo. Há provavelmente 20 filmes que assustaram mesmo na minha vida e muitos deles são telefilmes. No México, tivemos os dias gloriosos de séries terror americanas como «Night Gallery» ou os filmes de Dan Curtis – «The Night Stalker», «The Night Strangler», «The Norliss Tapes»… Em Guadalajara, onde eu vivia, estes filmes eram exibidos e felizmente os meus pais eram negligentes o suficiente para não me proibirem de os ver.

O seu protagonista é uma jovem de 10 anos que passa por um mau bocado. Que intenções tinha em relação a Sally, interpretada por Bailee Madison?

O que eu queria era um duelo de vontades. A Sally é uma rapariga cheia de recursos. Ela é inteligente, articulada e não é esmagada fisicamente até ao fim. É uma luta de vontades e a minha preocupação principal foi tornar as personagens de Bailee e de
Katie [Holmes] ativas, não fazer delas vítimas. Sally é um osso duro de roer.

Há limitações em relação àquilo que pode mostrar acontecer a uma criança no cinema?

Suponho que sim mas o nosso filme não está a tentar quebrar as barreiras do bom gosto ou dos padrões sociais. Estávamos interessados em fazer uma viagem trepidante, gótica e muito emocionante por isso não nos preocupamos com isso. E sem querer estragar a surpresa ao público, as pessoas que viram o filme nos visionamentos ficaram muito chocadas pelo destino horrível que demos no fim da fita a uma personagem muito forte. Mas isso foi algo que me impressionou muito no filme original. Parte do terror está em não haver justiça e hoje em dia os fins dos filmes de terror são muitas vezes justos: o herói sobrevive, o monstro foi destruído, tudo acaba bem... Não acredito muito nesse tipo de final. Estou mais interessado num final onde o mal esteja vivo e esta ou aquela personagem tenham um destino terrível.

A Katie Holmes tem sido muito criticada nos últimos tempos por trazer atrás de si uma imagem demasiado grande de celebridade para conseguir cativar as audiências. Teve alguma dúvida quando a escolheu?

Não, muito pelo contrário. Acho que além da celebridade pública, as pessoas devem lembrar-se de que ela é uma grande atriz. Quando pensamos nos começos dela, em «Go» ou
«Pedaços de Uma Vida», percebemos que ela é uma atriz sólida. E é fácil empatizar com ela. O resto sinceramente eu não notei… Para nós, o nome era muito importante, queríamos que fosse trouxesse à ideia alguém fosse um sólido ator. As pessoas dizem que os efeitos especiais são o mais importante nestes filmes mas o mais importante são os atores porque sem eles a realidade da situação não tem qualquer valor. Sempre quisemos a Katie, sempre quisemos o
Guy Pearce e quando eles aceitarem sentimo-nos muito afortunados. Muitos atores acham que um filme de terror é um filme de série B mas se for bem feito é um ótimo veículos para os intérpretes. Veja-se a
Mia Farrow na
«A Semente do Diabo» ou a
Nicole Kidman n'
«Os Outros».

Há um rumor de que está envolvido no filme «Maleficent», da Disney sobre a bruxa má de «A Bela Adormecida». Isso ainda vai acontecer?

Não, não vou. Mas adoro as vilãs da Disney. Sou fascinado por elas. Mas é sempre melhor não ter uma personagem fraca. Se vir o «Don’t Be Afraid Of The Dark» original, a personagem de Sally é uma vítima de toda a gente: do marido, das criaturas… enquanto se vir a personagem da rapariga de
«O Labirinto do Fauno», ela não é uma vítima, mesmo que esteja a viver sob a alçada do capitão. Ela faz-lhe frente, enfurece-o, não lhe obedece.

Hollywood gosta muito de remakes hoje em dia. Quais são as armadilhas a evitar?

Os remakes não são a) intrinsecamente maus nem b) um fenómeno moderno. Acho que são horríveis quando surgem de um cálculo mercantilista e económico – um estúdio que diz «Temos um título, vamos relançá-lo e ganhar dinheiro. Ponto final… Quem é o realizador? Não interessa». Mas o
Cronenberg refez
«A Mosca», e fez um filme melhor que o original, que já era muito bom; o
«Veio do outro Mundo» de
John Carpenter é um dos melhores filmes de terror de sempre. Se o remake vier de um realizador, um argumentista ou um produtor que tenha uma visão genuína sobre o material antigo, então não há razão para preocupações. É importante que o filme venha de um lugar puro.

Esteve em Wellington, na Nova Zelândia, a desenvolver o «The Hobbit» quando este filme estava ser rodado em Melbourne. Escolheu rodar o filme na Austrália para ter um acesso mais facilitado?

Sim, essa foi a razão principal. Acabei por estar no set 85 a 90% do tempo e se o filme tivesse sido rodado noutro sítio eu não poderia ter lá estado. Esta é uma fita que estava a tentar fazer há anos, é um trabalho de amor e queria estar por perto. E o
Peter Jackson foi excelente em relação a isso. Ele deu-me luz verde para ir lá quando quisesse. Foi muito fácil para mim.

É um dos homens mais ocupados da indústria do cinema, ligado a imensos projetos diferentes. Como consegue não perder o rumo na sua cabeça?

Muitos deles não são reais ou nunca chegaram a concretizar-se. São anunciados antes dos negócios serem fechados por isso não são tantos como pensa. Houve um artigo há alguns anos que dizia «Guillermo ocupado até 2015». Quem me dera! Se cada conversa se tornasse um filme, eu já teria rodado uns 20. Mas a verdade é que muitos desses projetos, como «Não Tenhas Medo do Escuro», já estão em cima da mesa há 13 anos. Foi aí que foi terminado o argumento original e fechado o negócio. Ou o «Pinocchio» que foi anunciado há dois anos mas no qual estamos a trabalhar há seis. Por isso não é tão louco como parece. É duro, eu admito, não tenho tempo livre. Mas eu não gosto de tempo livre. Para mim o tempo livre é horrível e a minha família sabe disso.