Com sete prémios, “Oppenheimer", de Christopher Nolan, foi o grande vencedor dos Óscares, numa noite em que os votantes da Academia também mostraram ter gostado muito de "Pobres Criaturas".

Veja aqui a lista completa de vencedores dos Óscares 2024
Veja aqui a lista completa de vencedores dos Óscares 2024
Ver artigo

Superando todas as previsões, mas seguindo de perto o palmarés dos BAFTA da Academia britânica de cinema, houve quatro Óscares para o filme de Yorgos Lanthimos e um deles foi a maior surpresa da noite: Melhor Atriz para Emma Stone, deixando pelo caminho um prémio que quase todos viam destinado a Lily Gladstone, que seria o primeiro para uma americana com raízes indígenas.

De facto, os zero prémios para "Assassinos da Lua das Flores" simbolizam a má noite para as plataformas de streaming: Apple e Netflix tinham 32 nomeações ao todo e só a segunda conseguiu um prémio, para “A Incrível História de Henry Sugar”, o primeiro Óscar para o (ausente) realizador Wes Anderson.

Prémios históricos acabaram por ser a primeira estatueta para a saga japonesa “Godzilla” e para a Ucrânia com o documentário "20 days in Mariupol", duas entre várias categorias com vencedores internacionais da 96.ª cerimónia no Dolby Theatre, que começou uma hora mais cedo do que é habitual, a meia da tarde de domingo em Los Angeles (23h00 em Lisboa).

A decisão foi tomada assumidamente para continuar a recuperar audiências, evitando que os vencedores das categorias mais importantes fossem conhecidos na costa leste nos EUA já perto da meia-noite, mas as estrelas chegaram a horas para encher a passadeira vermelha com o glamour habitual.

AS ESTRELAS NA PASSADEIRA VERMELHA.

Um palmarés “Barbenheimer”, mas menos do que se esperava

Sem surpresa, a combinação em “Oppenheimer" de um realizador venerado, um elenco de renome, sucesso comercial e artístico, além de um tema relevante, revelou-se irresistível.

O prémio final foi anunciado por Al Pacino, que chegou ao palco e sem dizer quais eram os nomeados, abriu rapidamente o envelope e disse simplesmente “E os meus olhos veem 'Oppenheimer'”, deixando muitos confusos na sala. Nem sequer a câmara estava preparada para apanhar os vencedores.

VEJA O ANÚNCIO DO MELHOR FILME E O DISCURSO.

As previsões apontavam para oito Óscares para o épico de Christopher Nolan sobre o pai da bomba atómica, mas escapou inesperadamente Som para "A Zona de Interesse" e, sem surpresa, também não houve vitória nas categorias de Atriz Secundária (Emily Blunt), Argumento Adaptado (do próprio Nolan), Direção Artística, Guarda-Roupa e  Caracterização.

Melhor Filme, Realização, Ator (Cillian Murphy), Ator Secundário (Robert Downey Jr.), Montagem, Fotografia e Banda Sonora coroaram um percurso triunfal iniciado em julho do ano passado, quando conquistou os críticos e arrecadou quase mil milhões dos dólares nas bilheteiras como metade do fenómeno "Barbenheimer", antes de ganhar quase todos os principais prémios da temporada de Hollywood.

Maior sucesso de bilheteira a ganhar Melhor Filme desde "O Senhor dos Anéis - O Regresso do Rei" há 20 anos, os sete Óscares colocam “Oppenheimer" ao nível do palmarés de “O Bom Pastor” (1944), “Os Melhores Anos das Nossas Vidas” (1946), “Eva” (1950), “A Ponte do Rio Kwai” (1957), “Lawrence da Arábia” (1962), “Patton” (1970), “A Golpada” (1973), “África Minha” (1985), “Danças com Lobos” (1990), “A Lista de Schindler” (1993), “A Paixão de Shakespeare” (1998) e p vencedor do ano passado, “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo” (2022). Os campeões continuam a ser “Ben-Hur” (1959), “Titanic” (1997) e “O Regresso do Rei” (2003), todos com 11 estatuetas, mais uma do que “West Side Story” (“Amor Sem Barreiras”, 1961).

Foi uma vitória monumental ao nível do sucesso cinematográfico e comercial, com Christopher Nolan a receber as duas primeiras estatuetas da carreira, como realizador e produtor.

"À Academia, só dizer que os filmes têm pouco mais de 100 anos. Quero dizer, imaginem estar há 100 anos na pintura ou no teatro. Não sabemos para onde vai esta incrível jornada a partir daqui. Mas saber que pensam que sou uma parte significativa disso significa muito para mim", disse o cineasta no discurso de Melhor Realização, significativamente anunciado por Steven Spielberg, outro cineasta que revolucionou a indústria.

VEJA O DISCURSO.

Cillian Murphy

Pouco antes, à primeira nomeação e sexto filme com Nolan, foi Cillian Murphy, de 47 anos, a ser aplaudido de pé ao ser anunciado como o Melhor Ator, categoria na qual o veterano Paul Giamatti se apresentava como uma forte candidato com "Os Excluídos".

O ator agradeceu à dupla pela "jornada" e a toda a equipa, terminando a recordar o tema do filme: “Fizemos um filme sobre o homem que criou a bomba atómica. E para o bem ou para o mal, todos nós vivemos no mundo de Oppenheimer, portanto realmente gostaria de dedicar isto aos pacificadores em todo o lado".

VEJA O DISCURSO.

As estrelas no Dolby Theatre também se levantaram para o primeiro prémio que o filme recebeu: Robert Downey Jr. foi eleito, aos 58 anos, o Melhor Ator Secundário pelo papel do antagonista Lewis Strauss, o desfecho triunfal para quem tem uma história pessoal e profissional de sobrevivência após bater no fundo pela dependência das drogas (a que Kimmel se referiu no seu monólogo com pouca subtileza).

Robert Downey Jr

“Gostaria de agradecer à minha infância terrível e à Academia, nesta ordem”, começou por dizer, provocando o riso dos colegas.

“Gostaria de agradecer à minha veterinária – quero dizer, à minha esposa, Susan Downey, que está ali. Encontrou a mim, um animal de estimação resgatado e amou-me de volta à vida. É por isso que estou aqui", acrescentou.

O ator não esqueceu Nolan e a produtora Emma Thomas, dizendo que "precisava deste trabalho mais do que ele precisava de mim. O Chris sabia. A Emma fez questão de me rodear com um dos melhores elencos e equipas de todos os tempos".

Nos seus agradecimentos, destacou ainda mais uma pessoa: “O meu advogado no setor do entretenimento, Tom Hansen, há 40 anos. Metade desse tempo ele gastou a tentar conseguir que me fizessem os seguros e a pagar a fiança da prisão"

VEJA O DISCURSO.

As outras estatuetas foram nas categorias técnicas: Fotografia (Hoyte van Hoytema, prémio que lhe tinha sido negado por “Dunkirk”); Montagem (Jennifer Lame, apenas a 13.ª mulher em 96 anos a ganhar na categoria, à primeira nomeação e pela segunda colaboração depois de “Tenet”) e Banda Sonora (Ludwig Goransson, uma estatueta para juntar à que ganhou há cinco anos com “Black Panther).

Finneas O’Connell e Billie Eilish

Quanto a "Barbie", lançado no mesmo dia nos cinemas que "Oppenheimer", gerando uma receita de bilheteira dupla de 1,4 mil milhões de dólares em todo o mundo, com oito nomeações, não saiu de mãos a abanar, mas ficou abaixo do que se esperava, perdendo em categorias como Guarda-Roupa ou Direção Artística.

Apesar de ter sido a 'estrela' dos destaques da cerimónia, a comédia feminista satírica de Greta Gerwig só teve a estatueta para uma das duas canções que estavam na corrida, “What Was I Made For", que já tinha sido eleita Canção do Ano nos Grammys: como se esperava, os prodígios Billie Eilish, 22 anos, e Finneas O’Connell, de 26, tornaram-se os mais jovens vencedores de sempre de duas estatuetas em qualquer categoria, após o tema principal de “007: Sem Tempo Para Morrer” em 2022.

A ATUAÇÃO DE BILLIE EILISH E FINNEAS.

Ryan Gosling e "I'm Just Ken"

Para a nomeada "I'm Just Ken", a balada poderosa sobre o frágil ego masculino, ficou uma grande consolação: a triunfal interpretação ao vivo pela primeira vez.

O momento não desiludiu e colocou o público em pé ao fim de um minuto, dando energia a uma cerimónia morna com uma das maiores apresentações de sempre de uma canção nos Óscares: Ryan Gosling com um fato cor de rosa e óculos escuros, novamente em registo Ken, acompanhado em palco por Mark Ronson, Slash e dezenas de 'Ken' a dançar, incluindo dois do filme: Simu Liu e Kingsley Ben-Adir.

VEJA A ATUAÇÃO.

Emily Blunt e Ryan Gosling

Gosling, sem direito à estatueta de Ator Secundário, também esteve envolvido num grande momento "“Barbenheimer" com Emily Blunt (os dois têm um filme juntos, "Profissão: Perigo", a 2 de maio).

"“Estou muito feliz por finalmente podermos deixar de lado esta rivalidade ‘Barbenheimer’”, disse Gosling a Blunt.

"Da forma como esta temporada de prémios correu, não foi muita rivalidade", brincou a atriz.

"É verdade. Estávamos a correr muito bem. Parabéns. Mas acho que descobri por que se chama ‘Barbenheimer’ e não ‘Oppenarbie’. Vocês estão no fim porque andaram na cauda da ‘Barbie’ durante todo o verão”, respondeu o "ken", referindo-se aos resultados de bilheteira.

Blunt não se ficou e insinuou que o colega precisa de pintar os abdominais para ser nomeado: "Não se vê o Robert Downey a fazer isso".

VEJA O MOMENTO.

Óscares com sabor internacional e... finalmente “Godzilla”

Da'Vine Joy Randolph

Previsível foi mesmo o primeiro prémio da cerimónia: após a unanimidade na temporada de prémios foi a revelação de Da'Vine Joy Randolph como Melhor Atriz Secundária, a única estatueta em cinco nomeações para "Os Excluídos", o drama encantador sobre um trio improvável forçado a passar o Natal num internato americano na década de 1970.

No seu discurso, agradeceu à mãe por a encorajar a aceitar aulas de representação depois de ter começado como cantora, e todas as mulheres que a apoiaram nessa jornada: “Durante muito tempo quis ser diferente e agora percebo que só preciso ser eu mesma. Quando eu disse que não me vejo, vocês disseram 'não faz mal, vamos fazer juntas o nosso próprio caminho'”.

VEJA O DISCURSO.

Ultrapassando as candidaturas fortes de “Oppenheimer”, “Barbie”, “Pobres Criaturas” e “A Zona de Interesse”, foi "American Fiction" que recebeu a estatueta de Melhor Argumento Adaptado.

O prémio coloca na primeira divisão da indústria o argumentista e realizador Cord Jefferson e se estreou no cinema com uma sátira sobre o racismo sistémico dos EUA e a hipocrisia, onde um escritor negro (Jeffrey Wright) dececionado com uma indústria editorial que só se interessa por livros sobre a comunidade negra que abordem os problemas de drogas ou de pobreza nos seus bairros conhece o sucesso precisamente quando decide escrever sobre esses temas em jeito de brincadeira.

Cord Jefferson

"Isto significa o mundo para mim, muito obrigado à Academia e quem trabalhou no filme", começou por dizer o agora cineasta, que veio da televisão (ganhou um Emmy por escrever a minissérie “Watchmen”).

E acrescentou: "Tenho falado muito de quantas pessoas rejeitaram este filme. Preocupa-me que isso por vezes soe a vingativo, e não quero que seja, já não sou uma pessoa vingativa, trabalho muito para não o ser e é mais um apelo. Para reconhecer que há tantas pessoas por aí que querem a oportunidade que me deram. Percebo que esta é uma indústria avessa ao risco. Mas filmes de 200 milhões de dólares também são um risco. E nem sempre dá certo, mas corre-se o risco à mesma. Em vez de fazer um filme de 200 milhões, tentem fazer 20 filmes de 10 milhões. Ou 50 filmes de 4 milhões".

"O próximo Martin Scorsese anda por aí, a próxima Greta anda por aí — ambas as Gretas [Gerwig e Lee]. O próximo Christopher Nolan anda por aí, prometo-vos. Apenas querem aa oportunidade e nós podemos dar-lhes uma", disse.

VEJA O DISCURSO.

Arthur Harari e Justine Triet

O Melhor Argumento Original foi para o Justine Triet e o companheiro Arthur Harari por “Anatomia de uma Queda”, que era a única estatueta viável em cinco fortes nomeações para a Palma de Ouro que gerou tanto debate onde Sandra Huller brilhava no papel de uma mulher suspeita de ter assassinado o marido.

"Acho que isto vai ajudar-me ao longo da minha crise da meia-idade", disse a realizadora ao receber um prémio que nenhum filme francês não ganhava desde o emblemático “Um Homem e Uma Mulher”, de Claude Lelouch, há 57 anos.

"Este é um ano louco, em contraste com o que começou antes [o filme]. Presos em casa com dois filhos. Era o confinamento e nós os viciámos em desenhos animados para ter paz. E acho que não havia limite entre trabalho e fraldas”, acrescentou emocionada.

VEJA O DISCURSO.

Não foi apenas este prémio ou os Óscares por “Oppenheimer” para o diretor de fotografia holandês Hoyte van Hoytema (que pediu a Hollywood para 'tentar filmar com esta coisa chamada celulóide [em vez de digital], é mais fácil e faz as coisas terem um aspeto muito melhor') e o compositor sueco Ludwig Goransson, que deram um sabor internacional aos Óscares, espelho de 25% dos votantes da Academia viverem fora da América do Norte.

Por exemplo, "Pobres Criaturas", do realizador grego Yorgos Lanthimos, cuja visão retrofuturista do mundo que Bella Baxter, uma peculiar versão feminina de Frankenstein, estava ansiosa por descobrir até inclui Lisboa, a fadista Carminho e pastéis de nata, chegou muito mais longe no palmarés do que apontavam as previsões, com um 'segundo lugar' e quatro Óscares em 11 nomeações.

O Leão de Ouro no último Festival de Veneza começou por surpreender ao ganhar primeiro Melhor Caracterização, que as apostas apontavam como o único prémio possível para "Maestro" (o biopic de Bradley Cooper sobre Leonard Bernstein ficou mesmo sem nada) e logo a seguir, o mais esperado Direção Artística.

Logo a seguir, chegou o terceiro Óscar, Melhor Guarda-Roupa, onde se esperava a vitória de "Barbie". Por esta altura, "Oppenheimer ainda não tinha recebido anda e ficou no ar que podia não ficar por aqui.

Os produtores colocaram Melhor Atriz como o penúltimo prémio da noite, esperando uma vitória histórica de Lily Gladstone como a primeira indígena a receber o reconhecimento da Academia, mas foi uma claramente chocada Emma Stone que ouviu o seu nome pronunciado por Michelle Yeoh.

Depois de “La La Land” na cerimónia de 2017, Emma Stone conquistou um segundo Óscar, juntando-se aos 35 anos ao grupo exclusivo formado por Bette Davis, Ingrid Bergman, Jane Fonda, Elizabeth Taylor, Olivia de Havilland, Glenda Jackson, Jodie Foster, Sally Field, Vivien Leigh, Luise Rainer e Hilary Swank (Katharine Hepburn continua a ser a campeã com 4, mais uma do que Frances McDormand)

“O meu vestido está partido. Acho que aconteceu durante ‘I’m Just Ken”, disse ao receber o prémio antes de agradecer às apresentadoras e às outras nomeadas.

“Noutro dia, estava em pânico, como podem ver acontece muito - que talvez algo assim pudesse acontecer e o Yorgos disse-me, 'por favor, deixa-te disso'”, acrescentou, praticamente sem voz.

"E ele estava certo, porque não é sobre mim. É sobre uma equipa que se uniu para fazer algo maior do que a soma das suas partes”, disse.

VEJA O DISCURSO.

Na categoria que se chama mesmo Melhor Filme Internacional deu-se a esperava vitória de “A Zona de Interesse”, uma produção britânica filmada inteiramente na Polónia e com um elenco maioritariamente alemão liderado por Sandra Huller (nomeada para Melhor Atriz por “Anatomia de uma Queda”) que aborda a vida familiar do comandante de Auschwitz.

Aqui cumpriu-se a estatística de que ganham sempre os que acumulam com a nomeação para Melhor Filme (e não se chamam “Parasitas”, claro, que recebeu ambas), apesar das esperanças da Netflix para “A Sociedade da Neve”.

No seu discurso, o realizador Jonathan Glazer ligou o tema do filme ao atual conflito em Gaza: "Todas as nossas escolhas foram feitas para refletir e confrontar-nos no presente. O nosso filme mostra até onde pode ir a desumanização no seu pior".

Glazer, que é judeu, acrescentou: "Neste momento, estamos aqui como homens que rejeitam que o seu Judaísmo e o Holocausto estejam a ser sequestrados por uma ocupação, que levou ao conflito para tantas pessoas inocentes - quer sejam as vítimas do 7 de outubro em Israel ou o ataque em curso em Gaza - todos os vítimas desta desumanização… como podemos resistir?”

VEJA O DISCURSO.

Houve mais um Óscar de Melhor Som que surpreendeu: havia muita admiração, mas esperava-se que fosse mais um prémio para "Oppenheimer" (não surpreendente que um dos galardoados, Tarn Willers, tenha dito 'Obrigado à Academia por ouvir o nosso filme').

Também internacional era Melhor Documentário, já sem a presença de qualquer produção americana, onde foi premiado "20 Days in Mariupol", com aplausos de pé para o primeiro Óscar para uma produção da Ucrânia, que retrata uma equipa de jornalistas presa na cidade cercada de Mariupol após a invasão da Rússia que luta para continuar o seu trabalho de documentar as atrocidades da guerra.

20 Days in Mariupol: Mstyslav Chernov a discursar

"Sou o único realizador aqui que gostaria de nunca ter feito este filme", disse Mstyslav Chernov ao receber o Óscar, afirmando que preferia que a Rússia nunca tivesse invadido a Ucrânia e ocupado as suas cidades, e que nunca tivesse feito reféns civis e militares.

"Mas não posso alterar a História nem o passado", prosseguiu Chernov. "Todos juntos, porém, podemos fazer com que a História tome o rumo devido e que a verdade perdure".

O jornalista e realizador apelou ainda a que os habitantes de Mariupol jamais sejam esquecidos. E concluiu: "O cinema cria memória e a memória faz a História".

VEJA O DISCURSO.

Ainda sintomático do espírito internacional, “Godzilla Minus One”, o 37.º filme da saga japonesa, um grande sucesso internacional que custou cerca de 12 milhões de dólares e ganhou Melhores Efeitos Visuais, batendo as produções milionárias “Guardiões da Galáxia: Volume 3”, “Missão: Impossível - Ajuste de Contas - Parte Um”, “Napoleão” e “O Criador” (o técnico Neil Corbould estava nomeado pelos três últimos).

Godzilla Minus One": Masaki Takahashi, o realizador Takashi Yamazaki, Kiyoko Shibuya e Tatsuji Nojima

Este é um prémio histórico, o primeiro para uma saga já com 70 anos e a primeira vez que ganha na categoria um filme que não é falado em inglês. Um dos premiados foi o realizador, que começou a carreira pelos efeitos visuais: Takashi Yamazaki é o primeiro realizador a ganhar nesta categoria desde Stanley Kubrick com “2001 - Odisseia no Espaço”, de 1968.

Ao contrário da expectativa, o Óscar de Melhor Longa-Metragem de Animação foi para o japonês “O Rapaz e a Garça”, o muito elogiado filme de despedida do japonês Hayao Miyazaki, que assim arrebata o segundo Óscar na categoria, cerca de duas décadas após a primeira vitória com “A Viagem de Chihiro”.

Não se sabe se a razão foi partilhar a convicção generalizada de que a vitória iria para “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso”, mas o lendário cineasta, com 83 anos, que também já ganhou um Óscar honorário de carreira, não esteve presente, nem ninguém da equipa, pelo que a Academia aceitou a estatueta em seu nome.

Na curta de animação, o Óscar foi para “War Is Over! Inspired by the Music of John and Yoko” um filme de mensagem pacifista de 11 minutos realizado por Dave Mullins, baseado na canção de Natal "Happy Xmas (War Is Over)", de John Lennon e Yoko Ono.

No lado das curtas de imagem real, “The Last Repair Shop”, sobre a reparação de instrumentos musicais para escolas desfavorecidas e que pode ser visto no Disney+, conquistou o Óscar de Melhor Curta Documental.

Já “A Incrível História de Henry Sugar”, disponível na Netflix, conquistou o troféu para Melhor Curta de Imagem Real, valendo assim a primeira estatueta a Wes Anderson, cineasta famoso por longas-metragens como “Grand Budapest Hotel” ou “Um Peixe Fora de Água”.

Jimmy Kimmel abre Óscares a recordar desprezo a Greta Gerwig e toxicodependência de Robert Downey Jr.

Jimmy Kimmel abriu a cerimónia dos Óscares destacando que começou uma hora mais cedo, mas iria continuar a acabar "muito, muito tarde".

"De facto, já estamos cinco minutos atrasados e não estou a brincar", acrescentou, referindo-se ao início às 23h05 (hora de Lisboa), sem mencionar o motivo: centenas de manifestantes pró-palestinianos conseguiram fechar uma grande parte do trânsito em Hollywood, causando enormes atrasos para as celebridades chegarem ao Dolby Theatre.

Antes de surgir em palco, o comediante colocou-se dentro de uma famosa cena de "Barbie" durante uma montagem com vários filmes do ano passado. Já durante o seu monólogo elogiou a qualidade de filmes e interpretações nomeados, notando que "esta noite está cheia de enormes talentos e potencial incalculável, mas ‘Madame Webb’ também tinha", referindo-se ao recente fracasso de bilheteira.

Perante a falta de reação, Kimmel acrescentou um "estamos a começar mal?" antes de recuperar o público ao saudar o sucesso de "Barbie" e brincar: "Agora Barbie é um ícone feminista, graças a Greta Gerwig, que muitos acreditavam que merecia ter sido nomeado para Melhor Realização esta noite. Um momento. Sei que estão a aplaudir, mas foram vocês que não votaram nela. Não ajam como se não  tivessem nada a ver com isso".

Kimmel também falou sobre Robert Downey Jr. em Hollywood e arriscou uma piada mais ousada, dizendo que ele estava "num dos pontos mais altos da sua carreira”, que foi interpretado na sala como uma referência ao seu passado de dependência de drogas.

O visado entrou no espírito da piada, apontando para o seu nariz.

Kimmel continuou, recordando que, num dos momentos baixos, o ator interpretou o vilão num filme onde Tim Allen se transformava num cão e sugeriu que se quiser fazer uma nova versão, tinha um candidato perfeito: Messi, o cão de "Anatomia de uma Queda".

"Ele tem uma cena de overdose. Não vejo um ator francês comer vómito assim desde Gérard Depardieu”, notou, referindo-se obliquamente aos escândalos de abusos sexuais dos últimos meses.

Messi nos Óscares

Kimmel também recordou o ano incrível da atriz Sandra Hüller, notando que interpretava uma mulher que era acusada de matar o marido em "Anatomia de Uma Queda" e a esposa do comandante nazi de Auschwitz em "A Zona de Interesse".

"Embora estes filmes são temas bastante pesados para os espectadores americanos, no país da Sandra, a Alemanha, chamam-se comédias românticas", esclareceu.

No Deadline, o jornalista Damon Wise escreveu: "Sandra Hüller não gostou das piadas do Kimmel. Conheço-a bem e conheço aquele olhar de descontentamento que ela lhe lançou".

VEJA O MONÓLOGO.

Gerindo de forma segura a noite com a confiança de quem estava pela quarta vez na posição de anfitrião, Kimmel foi profissional, generoso e sincero nos elogios, recordou o impacto das greves dos atores e argumentistas no ano passado e apoiou a luta laboral em que estão agora envolvidos os trabalhadores que desempenham tarefas de bastidores na indústria, alguns deles envolvidos precisamente nos Óscares, que chamou ao palco.

Prevista para três horas e meia, a cerimónia terminou cinco minutos antes da hora prevista por causa de duas categorias com premiados ausentes. E ainda não foi mais porque Kimmel aproveitou para partilhar uma (genuína) reação contundente ao seu trabalho das redes sociais, num grande momento quase ao cair do pano.

"Alguma vez houve um anfitrião pior do que Jimmy Kimmel nos Óscares? A sua abertura foi o de uma pessoa abaixo da média a tentar muito ser algo que ele não é e nunca poderá ser. Livrem-se de Kimmel e talvez substituam-no por outro 'talento' da ABC, esgotado, mas barato, o George Slopanopoulos [um trocadilho com o nome do apresentador George Stephanopoulos]. Ele faria com que todos no palco parecessem maiores, mais fortes e mais glamorosos. Bla, blá, blá. Tornar a América Grande Outra Vez", leu diretamente do telefone.

"Vejam se conseguem adivinhar quem foi o antigo apresentador que acabou de partilhar isto na Truth Social", acrescentou.

“Obrigado por assistir. Estou surpreendido que ainda esteja... já não passou da sua hora de prisão?", brincou, com a multidão a começar a festejar.

VEJA O MOMENTO.

Além do momento 'I’m Just Ken', outro destaque incontornável foi quando o ator John Cena esteve praticamente nu em palco.

Tudo começou Jimmy Kimmel começou por recordar o vídeo de um dos mais momentos mais bizarros na história dos Óscares que fazia 50 anos, quando um homem conseguiu infiltrar-se na 46.ª cerimónia, em 1974 e correu nu pelo palco quando o anfitrião David Niven se preparava para anunciar Elizabeth Taylor para apresentar o Óscar de Melhor Filme.

"Podiam imaginar se um homem nu corresse pelo palco hoje?', perguntou Kimmel ao público da cerimónia deste ano.

Com a audiência a não saber bem como reagir, acrescentou em tom de quem está a preparar um momento: "Eu disse, podem imaginar se um homem nu corresse hoje pelo palco? Não seria de doidos?".

Nessa altura, John Cena colocou a cabeça para fora do canto do palco, claramente sem camisa e com ar comprometido.

"Mudei de ideias. Não quero fazer a parte do homem nu [streaker]. Não me sinto bem com isso. É um evento elegante, devias ter vergonha neste momento por sugerires uma piada de tão mau gosto", disse o ator.

O anfitrião responder que aquele segmento “era para ter piada", ao que Cena respondeu: “O corpo masculino não é uma piada!”

E a seguir, perante as gargalhadas do público e um envelope gigantesco, entrou mesmo em palco para apresentar o Óscar de... Melhor Guarda-Roupa.

VEJA O MOMENTO.

Muito popular entre o público e já um vídeo viral: o comediante a explicar às estrelas todo o enredo do filme "Campo de Sonhos" (1989) antes de apresentar Melhor Som (e, antes, outra piada piada a "Madame Web", usando um diálogo do filme como se fosse tão importante como os que tirou de "Tubarão" e "Um Amor Inevitável").

VEJA O MOMENTO.

Arnold Schwarzenegger e Danny DeVito

Também funcionou bem a reunião nostálgica de Arnold Schwarzenegger e Danny DeVito, a dupla de "Gémeos" e "Junior", que brincaram com os seus papéis de vilão nos filmes "Batman", dirigindo-se a Michael Keatona na audiência.

VEJA O MOMENTO.

Scott George e os cantores da Nação Osage

Com um forte grupo de nomeados e a popularidade de “Oppenheimer" e Barbie", os produtores da cerimónia não complicaram, montando um espetáculo focado em homenagear nomeados e premiados com poucas distrações para além das canções ao vivo.

A ATUAÇÃO DE JON BATISTE COM 'IT NEVER WENT AWAY', DE "AMERICAN SYMPHONY".

A ATURAÇÃO DE BECKY G: 'THE FIRE INSIDE', DE "FLAMIN’ NOT".

A ATUAÇÃO DE SCOTT GEORGE E OS CANTORES DA NAÇÃO OSAGE:  'WAZHAZHE (A SONG FOR MY PEOPLE)", DE "ASSASSINOS DA LUA DAS FLORES".

Retomando um conceito da cerimónia de 2009 que foi um sucesso mas só voltou a ser repetida uma vez, reformulada, no ano a seguir, os vencedores dos Óscares das categorias de interpretações tiveram a companhia de antigos outros atores premiados para apresentar as nomeações, com elogios a substituir imagens dos filmes.

Atrizes: Sally Field, Jennifer Lawrence, Michelle Yeoh, Charlize Theron e Jessica Lange

A ideia nostálgica voltou a funcionar: Jamie Lee Curtis, Regina King, Rita Moreno, Lupita Nyong’o e Mary Steenburgen apresentaram Melhor Atriz Secundária; Mahershala Ali, Ke Huy Quan, Tim Robbins, Sam Rockwell e Christoph Waltz o Melhor Ator Secundário; Nicolas Cage, Brendan Fraser, Ben Kingsley, Matthew McConaughey e Forest Whitaker o Melhor Atoer; e Sally Field, Jennifer Lawrence, Jessica Lange, Charlize Theron e Michelle Yeoh a Melhor Atriz.

A APRESENTAÇÃO DO MELHOR ATOR SECUNDÁRIO.

A APRESENTAÇÃO DO MELHOR ATOR.

Um dos segmentos mais aguardados da noite é o 'In Memoriam", em homenagem aos profissionais com contribuições significativas ao mundo do cinema que morreram desde a cerimónia no ano passado.

Este ano, abriu pela primeira vez com alguém cuja ligação ao cinema foi periférica: Alexei Navalny, com a apresentação de um dos excertos e citações mais conhecidos do documentário "Navalny", que ganhou o Óscar da sua categoria há um ano.

Andrea Bocelli e o seu filho Matteo

Ao mesmo tempo que Andrea Bocelli e o seu filho Matteo interpretava o seu famoso tema "Con te partirò" ("Time to Say Goodbye"), acompanhados de dançarinos, surgiram imagens de Michael Gambon, Harry Belafonte, Alan Arkin, Julian Sands, Andre Braugher, Chita Rivera, Tom Wilkinson, Glynis Johns, Jane Birkin, Paul Reubens, Piper Laurie, Richard Roundtree, Ryan O'Neal, Ryuichi Sakamoto, entre outros , antes de fechar com Matthew Perry, Lee Sun-kyun (do filme "Parasitas), Carl Weathers, Glenda Jackson e Tina Turner.

A HOMENAGEM.