Não houve maior surpresa no anúncio dos nomeados aos Óscares a 24 de janeiro do que a presença de Andrea Riseborough na corrida para Melhor Atriz pelo filme "Para Leslie".

Embora a sua atuação de uma mãe que ganha na lotaria no Texas mas acaba por perder tudo e entregar-se ao alcoolismo tenha sido aplaudida pela crítica, o filme arrecadou pouco mais de 27 mil dólares nas bilheteiras durante um breve lançamento em outubro do ano passado e não foi amplamente promovido, elementos considerados essenciais para se destacar diante da Academia.

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Com a nomeação confirmou-se o impacto de uma campanha centrada essencialmente no passar a palavra centrada no ramo dos atores da Academia: Gwyneth Paltrow, Edward Norton, Jennifer Aniston, Frances Fisher, Susan Sarandon, Amy Adams, Jane Fonda, Sally Field, Liam Neeson, Laura Dern, Catherine Keener, Geena Davis, Mira Sorvino, Rosie O’Donnell, Alan Cumming e Zooey Deschanel foram alguns dos que elogiaram publicamente o filme e a atriz nas redes sociais.

Alguns desses atores e ainda Charlize Theron, Courteney Cox, Minnie Driver e Demi Moore foram ainda mais longe, surgindo no papel de anfitriões de sessões especiais de visionamento, enquanto Kate Winslet organizou um "Q&A" virtual com Riseborough. A própria concorrente Cate Blanchett destacou a colega no seu discurso ao aceitar o prémio de Melhor Atriz nos Critics’ Choice Awards.

Se inicialmente houve elogios para uma campanha que conseguiu ter sucesso num sistema que favorece as distribuidoras dos filmes que investem milhões de dólares em marketing, firmas e estrategas dos prémios, o debate ganhou a seguir tons raciais à volta de um movimento de atores famosos "brancos" a apoiar outra atriz "branca" que "empurrou" para fora da corrida as atrizes "negras" Viola Davis por "A Mulher Rei" e Danielle Deadwyler por "Justiça para Emmett Till".

Três semanas depois, Andrea Risebourogh falou pela primeira vez à The Hollywood Reporter, mas medindo bem as palavras: a revista nota que preferiu responder posteriormente por email a perguntas sobre a campanha ou o debate sobre raça e privilégio.

Sem ser uma estrela, mas com uma carreira de respeito de duas décadas em cinema, TV e teatro, a atriz de 41 anos disse que ainda não sabe o que sentir por estar no mesmo grupo de Cate Blanchett ("Tár"), Michelle Yeoh ("Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo"), Michelle Williams ("Os Fabelmans") e Ana de Armas ("Blonde").

"Não sei o que sei. Acho que quando tiver tempo para processar tudo, posso perceber um pouco melhor", indicou.

"Tem sido confuso. E é maravilhoso que o filme esteja a ser visto. Imagino que seja um raio realmente brilhante de luz. Quando qualquer um de nós se envolve em alguma coisa, queremos que esse trabalho seja absorvido de alguma forma. Não se pode controlar como as pessoas o absorvem", notou.

Após uma investigação, a Academia anunciou a 31 de janeiro que a campanha não tinha "chegado ao nível" de ir contra as suas regras, mas algumas das táticas usadas na promoção do filme nas redes sociais e de campanha tinham causado preocupação e seriam abordadas diretamente com as pessoas envolvidas.

Por escrito, a atriz comentou o debate sobre a sua nomeação: "Não só faz sentido que se desencadeie esse debate, como é necessário. A indústria cinematográfica é terrivelmente desigual em termos de oportunidades. Estou atenta para não falar pela experiência de outras pessoas porque elas estão em melhor posição para falar e quero ouvir".

Mas sem ser por escrito, Riseborough notou outra desigualdade: "A campanha de prémios é tão exclusiva como sempre foi. Ainda não sei quais as medidas que poderão encorajar melhor a meritocracia. Tenho tentado descobri-las e continuarei a fazê-lo".

A nomeação e a polémica contribuíram para finalmente dar visibilidade a "Para Leslie", incluindo fora dos EUA: o filme estreou esta quinta-feira nos cinemas portugueses.

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