"Uma grande chatice": foi nestes termos que, após duas semanas de silêncio, uma responsável da Netflix reagiu à polémica que rodeia "Emília Pérez".

O narcomusical de Jacques Audiard sobre o líder de um cartel de drogas que transita para a vida de mulher e vira as costas ao crime lidera a corrida aos Óscares com 13 nomeações, mas a sua campanha descarrilou desde a revelação de mensagens nas redes sociais da protagonista Karla Sofía Gascón sobre a presença muçulmana na Espanha e outras questões sociais e políticas.

Veja aqui a lista completa de nomeados aos Óscares 2025
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Após 30 de janeiro, a Netflix removeu a atriz espanhola, a primeira pessoa abertamente transgénero nomeada para um Óscar de interpretação, para destacar apenas Zoë Saldaña, que concorre para Melhor Atriz Secundária, uma mudança estratégica entendida como a tentativa de salvar um investimento de mais de 30 milhões de dólares na campanha para o que antes parecia a mais forte possibilidade para finalmente conquistar a estatueta de Melhor Filme.

“Acho que é realmente uma chatice para as 100 pessoas incrivelmente talentosas que fizeram um filme incrível. E se se olhar para as nomeações e todos estes prémios que recebeu, acho que é uma grande chatice que tenha distraído disso”, disse Bela Bajaria, diretora de conteúdo da Netflix, ao podcast "The Town" (citada pela revista Variety).

Esta responsável do estúdio também admite implicitamente que a polémica ofuscou o posicionamento do filme como um símbolo de tolerância, progresso e inovação virado para o futuro.

'Imperdoável': Jacques Audiard, realizador de "Emília Pérez", distancia-se da atriz Karla Sofía Gascón
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"De certa fora, realmente levou o debate para uma direção diferente deste filme incrível que fez o Jacques Audiard, que é um realizador fabuloso. É realmente uma chatice para muitas pessoas, como a Zoe e a Selena [Gomez]. E a nossa equipa de prémios fez uma campanha incrível para este filme.”, notou.

Com a revelação das mensagens, ficou ainda em causa o profissionalismo da Netflix: "Emília Pérez" foi comprado no Festival de Cannes em maio do ano passado, onde ganhou o Prémio do Júri e o seu elenco feminino o prémio de Melhor Atriz, e houve meses para examinar o rasto nas redes sociais de Karla Sofía Gascón, ainda que em castelhano.

“Não é uma realmente uma prática habitual as pessoas [dos estúdios] examinarem dessa forma as mensagens nas redes sociais. Muitas pessoas estão a reavaliar isso. Acho que está a levantar questões para muitas pessoas sobre a reavaliação desse processo”, respondeu a diretora de conteúdo quando questionada se o estúdio iria reexaminar a verificação do que partilham os seus talentos nas redes sociais para futuros projetos.

Pressionada sobre o tema, admitiu que o seu estúdio está a reavaliar o processo, mas apontou para as dificuldades.

“Acho que também precisamos [perguntar]: vamos realmente olhar para as redes sociais de dezenas de milhares de pessoas, todos os dias em todo o mundo, [dada a] quantidade de filmes e programas de TV originais e coproduções que fazemos e licenciamos? Levanta muitas perguntas sobre como é que isso devia ser", explicou.

Ainda assim, a responsável da Netflix prefere olhar para o todo.

“Se me perguntarem hoje, sabendo tudo o que sei, ainda compraríamos o filme. É incrível, criativo e ousado – é isso que se quer e teve impacto em muitas pessoas este ano.”, concluiu.

A votação para os Óscares começou na terça-feira e decorre durante uma semana, até 18 de fevereiro.

A 97.ª edição dos Óscares está marcada para 2 de março, em Los Angeles, Califórnia, com apresentação de Conan O’Brien.

TRAILER "EMÍLIA PÉREZ".