Já a comemorar quinze anos, o
Queer Lisboa volta a trazer à capital uma seleção da produção cinematográfica gay, lésbica, bissexual, transgénero e transsexual, apostando sobretudo em obras recentes - e com muitos títulos da América Latina, de onde têm surgido algumas das maiores surpresas do cinema queer dos últimos tempos.

Embora a transgressão seja o tema em destaque este ano, é um conceito que tem marcado o festival desde os primeiros dias. "Transgredir não era um objetivo nosso, mas o festival acabou por ter essa marca, essa leitura por parte do público e da imprensa. Por isso também demorou um bocadinho a conquistar alguma credibilidade no meio cultural e nos media", explica
João Ferreira.

Hoje, contudo, o contexto é diferente. Quinze anos depois, tanto o festival - "plenamente integrado" - como o cinema queer são encarados com menos desconfiança. "Atualmente há mais financiamento para este cinema a nível internacional. Há muitos distribuidores que pegam nestes filmes para o circuito dos festivais, por isso há uma visibilidade cada vez maior, assim como um conhecimento de que este cinema dá dinheiro. E isso é importante, porque faz crescer esta indústria, a do cinema queer. Mas apesar de já haver uma indústria, também continua a ser muito importante olhar para o cinema mais marginal, com uma linguagem experimental, e é a esse que continuamos a dar mais atenção. Interessam-nos os jovens realizadores, interessa-nos quem precisa de um espaço para que a sua obra seja vista: um festival de cinema existe para isso", realça o diretor do
Queer Lisboa.

Albano Jerónimo, um dos elementos do júri deste ano, foi até agora um dos poucos espetadores de grande parte dos filmes da programação. E embora não destaque nenhum para já, garante que há boas descobertas nesta seleção "transgressora". Até porque ele próprio, enquanto ator, também mantém uma relação próxima com a transgressão. "A associação faz todo o sentido, ser ator também é ser transgressor. Cada trabalho é uma plataforma para poderes experimentar, para te poderes conhecer, para transgredir. Mesmo quando tens um grande texto, é importante manter esse ponto de partida".

As transgressões, sob a forma de longas e curtas metragens, documentários, videoclips, artes visuais e até teatro, prometem continuar a acrescentar adeptos ao festival mais antigo - mas nem por isso acomodado - da capital, entre 16 e 24 de setembro.