Era o favorito e ganhou mesmo: "Roma" recebeu o Leão de Ouro, o principal prémio do Festival de Veneza.

Trata-se de um drama familiar do mexicano Alfonso Cuarón, filmado em preto e branco, sem celebridades, um filme muito pessoal ambientado no México na década de 1970 e inspirado na sua própria família, nos amores e desamores entre funcionários e empregadores.

O júri da 75ª Mostra, que começou a 29 de agosto e terminou este sábado, foi presidido pelo realizador mexicano Guillermo Del Toro, Leão de Ouro na edição passada com “A Forma da Água” e grande amigo de Cuarón, que brincou antes de anunciar o prémio: "vamos a ver se consigo pronunciar o nome".

Antes da anunciar o palmarés, Del Toro também alertou: "Aqui julgamos a qualidade das obras, independentemente do país de origem, ou do nome do realizador".

Mas dificilmente se irão ouvir acusações de favoritismo:  "Roma" já tinha obtido o número máximo de pontos (5) por parte de cinco dos dez críticos internacionais - os outros cinco deram a nota 4,5 - consultados pela "Ciak", a revista oficial da Mostra.

Além de ser o primeiro filme do México a ganhar o Leão de Ouro, o festival mais antigo do mundo também faz uma revolução com este prémio para "Roma": trata-se de uma produção Netflix, que fica agora numa excelente posição para se tornar a primeira nomeada para o Óscar de Melhor Filme e ainda Melhor Filme Estrangeiro.

Vale a pena recordar ainda que a plataforma de streaming decidiu retirou este e outros títulos de todas as seleções do Festival de Cannes porque a organização estabeleceu que qualquer filme em competição deveria ser exibido nos cinemas em França, o que obrigaria a aplicar a lei que exige que as plataformas esperem três anos entre a estreia do seu filme nas salas de cinema e a difusão para os seus assinantes.

O júri da secção competitiva de Veneza, que incluia ainda as atrizes Sylvia Chang, Trine Dyrholm, Nicole Garcia, Naomi Watts, os realizadores Paolo Genovese e Malgorzata Szumowska, o escritor Taika Waititi e o ator Christoph Waltz, reservou o Grande Prémio, que corresponde a um segundo lugar, para "The Favourite".

Realizado por Yorgos Lanthimos, conta a história de duas mulheres, interpretadas por Emma Stone e Rachel Weisz, que disputam a atenção da frágil rainha inglesa Ana (Olivia Colman) na Inglaterra do início do século XVIII.

Sem surpresas foram os prémios de interpretação: precisamente para Olivia Colman e ainda Willem Dafoe pela interpretação dos últimos meses de vida do génio torturado Vincent Van Gogh em "At Eternity's Gate", de Julian Schnabel.

"The Nightingale", crónica da brutalidade da antiga colónia penal na Tasmânia, cujos habitantes originais foram praticamente exterminados num genocídio na década de 1820, quando a ilha era conhecida como Terra de Van Diemen, foi o outro título que acumulou distinções: Prémio Especial do Júri (um terceiro lugar) e o Prémio Marcello Mastroianni Award para melhor ator emergente, para o aborígene Baykali Ganambarr.

A realização é de Jennifer Kent, a única mulher com um filme na secção competitiva.

LISTA DE PREMIADOS (secções principais)

SECÇÃO OFICIAL

Leão de Ouro
"Roma", de Alfonso Cuáron (México)

Grande Prémio do Júri
"The Favourite", de Yorgos Lanthimos (Grã-Bretanha, Irlanda, EUA)

Leão de Prata para Melhor Realização: Jacques Audiard , por "The Sisters Brothers" (França, Espanha, Roménia, EUA)

Taça Volpi para Melhor Atriz: Olivia Colman por "The Favourite" (Grã-Bretanha, Irlanda, EUA)

Taça Volpi para Melhor Ator: Willem Dafoe por "At Eternity's Gate" (Grã-Bretanha, França, EUA)

Melhor Argumento: Joel & Ethan Coen por ""The Ballad of Buster Scruggs" (EUA)

Prémio Especial do Júri: "The Nightingale", de Jennifer Kent (Austrália)

Prémio Marcello Mastroianni Award para melhor ator ou atriz emergente: Baykali Ganambarr por "The Nightingale", de Jennifer Kent (Austrália)

Secção Horizontes

Melhor Filme: "Kraben Rahu" ("Manta Ray"), de Phuttiphong Aroonpheng (Tailândia, França)

Melhor Realização: Emir Baigazin por "Ozen" ("The River") (Cazaquistão, Polónia, Noruega)

Prémio Especial do Júri: Anons ("The Announcement"), de Mahmut Fazıl Coşkun (Turquia, Bulgária)

Melhor Ator: Kais Nashif por "Tel Aviv On Fire", de Sameh Zoabi (Luxemburgo, França, Israel, Bélgica)

Melhor Atriz: Natalya Kudryashova por "Tchelovek Kotorij Udivil Vseh" ("The Man Who Surprised Everyone"), de Natasha Merkulova e Aleksey Chupov (Rússia, Estónia, França)

Melhor Argumento: "Jinpa di Pema Tseden", de Pema Tseden (China)

Melhor Curta-Metragem: "Kado", de Aditya Ahmad (Indonésia)

Leão do Futuro – Prémio “Luigi De Laurentiis” para primeiras obras

"Yom Adaatou Zouli" ("The Day I Lost My Shadow"), de Soudade Kaadan (Síria, Líbano, França, Qatar)

Secção Clássicos

Melhor Restauro: "A Noite de São Lourenço" (1982), de Paolo & Vittorio Taviani

Melhor Documentário sobre Cinema: "The Great Buster - A Celebration", de Peter Bogdanovich (EUA)

Secção Veneza Realidade Virtual

Melhor Realidade Virtual: "Spheres", de Eliza McNitt (EUA, França)

Melhor Experiência de Realidade Virtual: "Buddy VR", de Chuck Chae (Coreia do Sul)

Melhor História Realidade Virtual: "L’île Des Morts", de Benjamin Nuel (França)