A obra está nas antípodas da pobreza franciscana do recente "Batman v Super-Homem", um exemplo menor que não fez favores nenhuns ao género. Esta nova aventura da Marvel agarra o espectador através de uma história à prova de bala e de magníficas sequências de ação que não parecem saídas de um mau videojogo. Aqui, o espectador assimila as cenas e deslumbra-se com o puro espetáculo.

Este é um exemplo onde se pode dizer que o filme é igual ou melhor do que a fonte original, no caso, a novela gráfica Civil War, escrita por Mark Millar e ilustrada por Steve McNiven.

Apesar de o filme deixar de fora muitas personagens – como os X-Men, Thor e Hulk, entre dezenas de outros heróis –, mantém, contudo, o lado mais geek, mais político e, sobretudo, mais caótico do universo Marvel.

"Capitão América: Guerra Civil" equilibra perfeitamente o coeficiente de conflito político e o dilema do direito à escolha ao mesmo tempo que adiciona outros interessantes fios narrativos. A redução do número de personagens permitiu trabalhar no perfil de cada um deles sem que se tenha perdido um níquel de diversão e emoção. É uma experiência que vale todos os cêntimos do bilhete e os atores e os criadores não se pouparam a esforços para atingir a excelência.

A palavra “épico” é talvez desajustada para um filme que cresce como um thriller dramático e que se joga entre a diplomacia e a espionagem com mágoas do passado que vêm à tona. O enredo começa com a busca de um personagem que poderá ser o causador de um atentado que cria uma cisão na equipa dos Vingadores. A história diverge depois do comic e encontra novos centros narrativos, como a relação de amizade entre Steve Rogers/Capitão América (Chris Evans) e Bucky/Soldado de Inverno (Sebastian Stan); a vingança do Pantera Negra (Chadwick Boseman) pela morte do pai; o plano de implosão de Zemo (Daniel Brühl); e a relação de Visão (Paul Bettany) com Wanda (Elizabeth Olsen, melhor interpretação do filme a par de Evans e Robert Downey Jr.).

A narrativa envolve uma panóplia de emoções que vão desde o valor da amizade, a lealdade, a vingança, o trajeto até ao ódio mortal ou até à redenção, e o amor que brota num ser que julgávamos incapaz de demonstrar qualquer afeição.

O registo tem o seu norte bem definido e equilibra lindamente a trama central e as sub-tramas, cheias de interação humana, com vários "stunts" espetaculares que precisamos de ver e rever para nos apercebermos da genialidade dos mesmos, quer nas perseguições quer nos inúmeros combates corpo-a-corpo (um recorde para a Marvel). As coreografias são um autêntico bailado que se mistura com a ferocidade de uma luta de rua. Retiramos novamente o chapéu aos realizadores, os irmãos Russo, que voltaram a cumprir a missão com louros após "Capitão América: O Soldado do Inverno".

Os personagens estão extremamente bem construídos, tendo espaço para respirar e interpretar nas pausas e nos momentos mais frenéticos. O "frisson" deste filme, a par da contenda de duas personalidades vincadas com modos distintos de ver o mundo – Capitão América e Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) – está no aparecimento do novo aracnídeo interpretado por Tom Holland. O reboot do Homem-Aranha inspira confiança no futuro, ele rouba o show em todas as sequências em que aparece; no confronto no aeroporto parece ligado à corrente com as doses de humor e originalidade onde sentimos o entusiasmo e o carisma do renovado personagem.

"Capitão América: Guerra Civil" é um evento incontornável com dimensão, maturidade, histórias envolventes, personagens icónicos, humor e entretimento cerebral. Os espectadores aqui não serão confrontados com a patética escolha entre vencedores e vencidos; nas guerras ninguém vence, todos perdem. Mas o resultado no final desta batalha não será esquecido. Os amantes do cinema-espectáculo não podem perder este filme. Os restantes podem dar o salto, irão encontrar uma bela surpresa.

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