A HISTÓRIA: Quando decidem separar-se, Linda (Anne Hathaway) e Paxton (Chiwetel Ejiofor) acabam por descobrir que a vida tem outros planos, quando ficam presos em casa num confinamento obrigatório. A coabitação está a revelar-se um desafio, mas alimentada pela poesia e por grandes quantidades de vinho, vai aproximá-los da forma mais surpreendente.

"Locked Down": disponível na HBO a partir de 5 de fevereiro.


Crítica: Hugo Gomes

A grande falha de “Locked Down”, e possivelmente o obstáculo para uma potencial vaga de filmes sobre o confinamento, é o de tentar convencer-nos de que nos mostra realmente o confinamento.

O logo à partida desatualizado novo e mais experimental filme de Doug Liman (“Identidade Desconhecida”, “Mr. e Mrs. Smith”, "No Limite do Amanhã") sofre para tentar encontrar essa credibilidade, apesar de recorrer a elementos reconhecíveis pelos espectadores, das aplicações de videoconferência até às “paneladas” em louvor dos operacionais de saúde na linha da frente ao combate da COVID-19.

Há uns anos, Abel Ferrara tentou ligar os mesmos elementos para um cenário apocalíptico em “4:44 Último Dia na Terra” (2011), que também partilha com este “Locked Down” uma prejudicial artificialidade. Tendo como guionista o muito dramaturgo e prestigiado Steven Knight (do filme “one-man-show” “Locke” e criador da série “Peaky Blinders”), o resultado são diálogos pomposos e os existencialismos de um bando de privilegiados... e se há algo que a pandemia nos ensinou é que realmente não estamos “todos” no mesmo “barco”.

E se a sua falta de noção do que foi (é) o confinamento e a psicologia trazida por este “trauma” afetam a nossa experiência ao ver o filme, “Locked Down” tem ainda a “humildade” de soar como um incompleto e oportunista "brainstorm".

Por aqui, as ideias são meros post-its que não se consolidam numa intriga solenemente fluída, a linha narrativa tem perturbações óbvias. A dupla Liman / Knight "pega" em tudo, não conseguindo desenvolver rigorosamente nada e com isto o filme fica numa espécie de estado de esquizofrenia: não sabe se é um drama, um filme de golpe ou uma comédia de enganos e de costumes, e o que poderia ser uma rica e diversificada salada converte-se num pouco trabalhado “fast food”, ditado por exageros e anorexias narrativas.

Talvez seja o próprio confinamento que todos nós vivemos que nos torna mais exigentes quanto às suas representações. E “Locked Down” é exatamente isso, uma espectral representação burguesa.

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