
Horas antes de subir ao palco do Isle of MTV Malta, o maior festival gratuito da Europa, o DJ e produtor brasileiro Alok conversou em exclusivo nacional com o SAPO Mag sobre a evolução da sua carreira, os desafios de se reinventar em palco e o equilíbrio entre inovação tecnológica e ligação emocional com o público.
O artista é hoje um dos nomes mais reconhecidos da música eletrónica mundial, mas o caminho até aqui foi feito com muitas viragens. Conhecido por ter sido um dos principais impulsionadores do Brazilian Bass, Alok construiu uma identidade sonora que rompeu fronteiras e o levou de clubes no Brasil a palcos internacionais como o Tomorrowland, o Rock in Rio e, mais recentemente, o festival de Coachella.
"Sou um eterno aprendiz", confessa ao SAPO Mag. "A indústria muda muito e é preciso adaptar-me, mas mantendo uma ligação genuína com quem me acompanha", acrescenta.
Está a ser um verão intenso, com espetáculos na Europa, Brasil... estiveste também em Portugal...
Foi maravilhoso. Em Portugal, na verdade, sinto-me como se estivesse em casa. Porque acho que não é só a questão de não haver essa barreira linguística, mas também porque sinto que o meu trabalho tem muita influência em Portugal — mais do que noutros países da Europa, com toda a certeza.

E ainda te lembras do primeiro espetáculo em Portugal? Como foi?
A primeira vez que fui a Portugal foi meio desastrosa, na verdade. Lembro-me que toquei… Antes de mim tocou um artista que arrasou. Depois entrei eu para tocar, e enquanto estava a tocar, o pessoal começou a vaiar-me. Estava complicado… Porque era um som que eu fazia e que a malta não entendia. O EDM estava muito em alta, e eu estava a fazer New Brazilian Bass. Então pedi para sair mais cedo. Depois entrou o Diego Miranda, e já entrou a partir tudo. Fiquei tipo: 'Caramba, tenho mesmo de me adaptar aqui'. Mas depois, claro, acabámos por seguir em frente com isto.
Estiveste no RFM Somnii, na Figueira da Foz, mas o espetáculo em Malta é diferente e já foi apresentado no Brasil ou no festival de Coachella. Como foi preparar tudo?
Foi muito desafiante. Se vires o palco, está mesmo no limite do limite — é puxado. Tivemos de readaptar tudo num espaço de tempo muito curto. E, principalmente, o facto de eu ter saído do Brasil no dia 29 ou 30 de junho, e termos tido praticamente só duas semanas para ensaiar antes de irmos para Itália, para estarmos aptos a fazer o espetáculo aqui em Malta. Portanto, muito intenso, trabalho muito intenso.
E para ti, é sempre um desafio criar espetáculos diferentes, pensar em algo mais do que um DJ set convencional? É essa mistura de tecnologia, drones, efeitos visuais… que te entusiasma realmente?
Acho que há sítios para isso tudo e há outros em que é mais sobre a música e a vibe, percebes? Aliás, sempre que faço projetos como Aloki, há muita pressão à volta da inovação e de tudo o que vamos apresentar, mas, para mim, o mais importante é sempre a narrativa. Qual é a história por trás do que estamos a fazer? Tem de fazer sentido e é isso que é o "Keep Art Human", não é?
Mas, por exemplo, também tenho outro projeto, que chamo de "Something Else", onde tudo o que eu não quero é essa pressão. Não há LEDs, não há grandes produções — sou só eu, o público e a vibe. Que é onde tudo começou — foi aí que dei os primeiros passos — e também preciso disso para me ligar às minhas raízes, para as alimentar e manter vivas.

E olhando para o início da tua carreira, sempre tiveste clara a identidade que querias construir? Sabias o que querias fazer desde o princípio, ou foste descobrindo isso ao longo do processo?
Ainda estou no processo de descoberta... sou um eterno aprendiz. Especialmente por causa das adaptações que vão surgindo, não é? A indústria da música está sempre a mudar, e eu estou constantemente a tentar adaptar-me, mas sem perder a autenticidade, de forma a manter uma ligação genuína com a minha base de fãs. Mesmo que decida mudar de direção, é importante que os fãs percebam esse movimento e o motivo por trás disso, percebes? Para não parecer que estou, tipo a disparar para todos os lados.
Assim como fui um game changer em vários momentos, também reconheço que há outros artistas que o são — e que acabam por mudar a forma como passamos a olhar para a cultura e para a arte, daqui para a frente. Por isso, entendo perfeitamente esse processo.
Quando mudei, por exemplo, lá no Brasil, na América Latina, não foi algo intencional. Eu fazia algo em que acreditava e, de alguma forma, isso acabou por transformar muita coisa, obrigando as pessoas a adaptarem-se. E, da mesma forma, sei que também tenho de me adaptar ao que os outros estão a fazer, ao que o público está a observar e a valorizar.
E como é para ti pensar no alinhamento e na construção do set de um espetáculo? Dependendo do formato, imagino que já tenhas tudo mais definido desde o início — até porque há toda a questão da tecnologia, dos drones, do lado visual. Mas quando estás num daqueles espetáculos mais ligados ao teu início, isso permite-te improvisar mais?
Na verdade, até no concerto de São Paulo que fizemos, só metade estava prevista. A outra metade foi mesmo sentida ali, com o público. E foi interessante, porque neste projeto tive ainda mais liberdade criativa. Como é o "Keep Art Human", não precisa de ser tudo milimetricamente programado — há espaço para o imprevisível. Então, também passo essa responsabilidade do ‘ao vivo’ para a minha equipa, e eles vão reagindo comigo.
Foi giro, porque todas as vezes que fazia um espetáculo, a equipa ficava meio maluca — eu mudava a programação em cima da hora. Dizia: ‘Malta, vamos só pensar no que é a intro, definir alguns blocos no meio e o final. O resto deixem-me livre, à vontade’. E agora, com o "Keep Art Human", essa liberdade ainda aumentou.
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