A HISTÓRIA: Hakim, um simpático polícia francês de origem marroquina, é incumbido de se infiltrar numa comunidade portuguesa para conduzir uma investigação. Mas será que é possível “tornar-se” português em 3 dias? Especialmente Hakim, um desastre ambulante nas suas investigações, cuja falta de jeito e eterno azar transformam as suas inúmeras missões em cataclismos. Claramente que Hakim não é homem para a missão... Rapidamente, Hakim fica dividido entre a sua missão e os seus sentimentos, quando descobre neste grupo de pessoas, não apenas uma comunidade, mas também uma família.

"Operação Portugal": nos cinemas a partir de 12 de agosto.


Crítica: Hugo Gomes

Coloquemos os pontos nos “is”: rir de nós próprios é saudável e um exercício que se recomenda nestes tempos de constante tribalização. Uma comédia disparatada que satiriza a comunidade portuguesa em França seria, antes de mais, um desafio estimulante para o nosso humor algo seletivo.

História de um simpático polícia francês de origem marroquina incumbido de se infiltrar numa comunidade portuguesa para conduzir uma investigação, “Operação: Portugal” possui o “dom” de nunca se interessar por nada disto e escolhe o puro e estendido mau gosto. Um espetáculo de “stand-up comedy” de piadas feitas, vendidas e recicladas, e algumas, tendo em conta os dias atuais, quase medievais.

Sim, chega a ser ofensivo o retrato que estes “gauleses” fazem dos portugueses, aprisionando os “gags" em exotismos religiosos (“vão à missa todas as manhãs de domingo, mas antes acendem as brasas para o churrasco”), gastronomia e até mesmo o nosso alegado provincianismo (como quem enaltece as raízes pobres e humildes). Somos ainda apresentados como “trolhas” (o filme faz questão de nos chamar isso) e ainda, de maneira mais disfarçada, como uma comunidade violenta (o que terá passado pela cabeça do argumentista para pensar que um “chute no cu” faz parte da nossa tradição?).

No centro deste “Donnie Brasco” da loja dos 300, está o franco-marroquino D’Jal, querido pelas suas piadas e personificações de imigrantes portugueses, um bobo que nos tenta fazer rir disparatadamente através de uma combinação de “gags” físicos e choque cultural-religioso (que chega a ser o mais interessante que tem para nos oferecer um filme que não quer ser mais do que um palco para o cómico).

Recheado de estereótipos portugueses mas também sobre os árabes, “Operação Portugal” não apresenta mais do que uma perspetiva que daria orgulho a Marine Le Pen. Um “atentado” ao humor, cuja grande ofensa está na total ausência de uma ideia de Cinema. Tudo isto é (má) televisão. Tudo isto é triste. Tudo isto é Fado.