A HISTÓRIA: Os caminhos de um ex-soldado, uma adolescente e um polícia cruzam-se em Nova Orleães, enquanto procuram a fonte de uns novos comprimidos que provocam poderes temporários.

"Project Power: Descobre o Poder": na Netflix.


Crítica: Daniel Antero

Imagine que existia uma droga poderosa que lhe daria super-poderes num ápice. Com a sua fonte química manipulada em laboratório a partir da incrível diversidade genética do reino animal, cada cápsula dessa droga traria um poder único, só seu.

Durante cinco minutos teria uma mutação dentro de si capaz de o transformar num herói ou vilão de banda desenhada. Ou poderia matá-lo, fazendo-o explodir, entrar em combustão espontânea, levar o seu corpo a graus negativos até se quebrar em milhões de pedaços.

Fã da DC Comics e já escrivão de serviço do novo "The Batman" (realizado por Matt Reeves e interpretado por Robert Pattinson), o argumentista Mattson Tomlin vibrou com esta ideia potente e intrigante e escreveu "Project Power", uma espécie de guião proto Batman sem Batman, (mas com uma óptima versão não-oficial de Robin), onde debitou um dispositivo de resultados imprevisíveis para justificar as mais variadas performances sobrenaturais.

Só que em vez de ser inventivo, limitou-se a organizar os clichés mais gastos e formulou um filme de acção genérico, desinspirado, suportado apenas pelas estrelas convidadas.

Realizado por Henry Joost e Ariel Schulman, "Project Power: Descobre o Poder" é elevado pela utilização de efeitos especiais práticos e o estilo irreverente do director de fotografia Michael Simmonds: cores saturadas saídas de um videoclip de hip-hop, movimentos nervosos e arrojo na forma como filma as cenas de luta, dão vida à cidade de Nova Orleães.

Project Power

Mas são factores exercidos para compensar a falta de originalidade na paupérrima lista de poderes e motivações: invencibilidade, pele inquebrável ou capacidade de expelir raios de energia são algumas das habilidades presentes, quase sempre usadas para proveito próprio. Somente um pontual poder de camuflagem camaleónica se destaca no marasmo de ideias.

Com o mesmo propósito, o trio de actores, carismáticos, dinâmicos e divertidos, são coesos e electrizam este filme, mas não são suficientes para anular a decepcionante falta de substância.

Jamie Foxx, como quase sempre cheio de swag, acrescenta aqui um cinismo e intensidade no papel de ex-soldado, cobaia enraivecida, disposto a virar as ruas para encontrar a sua filha raptada.

Gordon-Levitt, recapitulando o seu Robin de "O Cavaleiro das Trevas Renasce", é um polícia atrás da origem da droga, com controlo sobre o seu próprio poder: torna-se à prova de bala e tem super-força, bem como uma engraçada imitação de Clint Eastwood em "Dirty Harry".

Já Dominique Fishback é Robin, estudante, rapper com dom da palavra, dealer para pagar os tratamentos da mãe. Ela é o foco e o elo entre as várias veias obstruídas de uma cidade em convulsão, onde o poder das cápsulas dispersa e aumenta. Na sua figura e na sua rima estaria o poder do filme, onde uma vontade de almejar mais alto teria de ser posta à prova, para tornar esta miúda negra, imperiosa e relevante para a sua geração.

Mas dentro do seu mundo, onde é referido de modo epidérmico o fluxo promíscuo do poder entre os mais poderosos e as desvantagens que o sistema impõe às mulheres negras, a narração e o subtexto de "Project Power" só tem força durante cinco minutos.

Tudo encapsulado num filme de acção com várias linhas narrativas modelo: um pai procura a sua filha raptada; um polícia enfrenta sozinho a organização corrupta que o envolve. O resto já conhecemos bem e não surpreende, nem acrescenta.

Como tem vindo a ser apanágio de qualquer produção Netflix com orçamento "blockbuster", este é mais um projecto em que a plataforma não arriscou, e perdeu o poder para marcar a diferença.

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