“Sem Filtro” insere aquela que é uma das atriz mais bem-sucedidas do atual cinema "mainstream" francês - Alexandra Lamy - numa nova prova de superação: viver com o seu dependente marido cego (José Garcia, que mais soa a um sósia francês de Robert Downey Jr.) e com alguns défices cognitivos que o impedem, sobretudo, de ser empático e cordial.

Para o espectador o desafio é idêntico: como não “agredir cegos desconhecidos” depois deste visionamento.

Contudo, fora a composição das personagens, muitas delas prestes a ser vitimizadas pelo olhar das audiências, “Sem Filtro” parte do seu conceito básico que é o da comédia de enganos enrolados por uma dramaturgia novelesca, sempre pronta a posicionar-se no teor “feel good movies”.

Mesmo assim, a sua moral de superação atrai alguns polos opostos que nos fazem refletir quanto ao puritanismo romântico final e em cheque dessa avaliação está a personagem de Nuno Lopes.

Sim, o ator português que cada vez mais tem centrado a sua carreira em produções gaulesas (entre as quais, ainda por estrear, o interessante “Une Fille Facile”, de Rebecca Zlotowski, em que faz par com a mediática Zahar Dehar), é o amante lusitano que, de certa forma, estrangula o próprio estereótipo preconceituoso, mas se instala como um peão descartável deste enredo.

Na realização está Eric Lavaine, autor de várias comédias e dramas de mau gosto da indústria francesa, que nos oferece um trabalho medíocre sem brilho cinematográfico nem muito menos, tendo em conta as propostas atuais, dignidade televisiva. Ou seja, nada de memorável anda por aqui, mesmo dentro da fórmula a que se associa.

Eis um filme que merece uma valente filtragem da nossa parte.

"Sem Filtro": nos cinemas a 27 de junho.

Crítica: Hugo Gomes

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