Integrado na programação da Festa do Fado, que ao longo do mês promove, no Castelo de São Jorge, o encontro do fado com outras sonoridades, o concerto d'A Naifa esteve à altura do nome da iniciativa. Porque o ambiente que marcou a noite, não obstante a carga dolente de algumas das canções do quarteto, foi de facto de festa, neste caso pelo reencontro do público com uma banda cuja continuidade chegou a ser colocada em causa (devido à morte de um dos seus fundadores, João Aguardela, em Janeiro do ano passado).
Com formação renovada - Sandra Baptista é a nova baixista, Samuel Palitos ocupa-se da bateria -, A Naifa começa por seguir em frente olhando para trás, pelo menos a julgar por um alinhamento centrado nos seus três discos. E na actuação de ontem o grupo mostrou-se completamente à vontade com essas canções, acentuando o rigor e equilíbrio que, de resto, sempre esteve presente nos seus espectáculos.
Também é verdade que este profissionalismo raramente acolhe grandes surpresas, mas mesmo assim o concerto ainda potenciou algumas. Exemplos disso foram o tema inédito "Quando disseste que me amavas", da autoria de Aguardela (que tinha ficado de fora de "Uma inocente inclinação para o mal", de 2008) ou a colaboração com Celeste Rodrigues em duas canções - alguém com "65 anos de fado e 87 de idade", acentuou Maria Antónia Mendes ao apresentar a convidada especial.
Independentemente do factor surpresa, o grupo mostrou-se em forma e, durante cerca de hora e meia, teve no Castelo de São Jorge um belo cenário, tipicamente lisboeta, que combinou muito bem com as suas histórias onde se diz tanto sobre personagens anónimas (mas reconhecíveis) da capital (e não só).
Entre momentos introspectivos como o arrepiante "O ar cansado dos meus vestidos", as acelerações rítmicas do inevitável "Señoritas", o humor crítico de "Um feitio de rainha" ou a densidade de "Subida aos Céus" (óptima revisão dos Três Tristes Tigres), a noite fez-de de boas canções interpretadas com sentimento e entrega, combinação que A Naifa defendeu desde os primeiros dias. Espera-se por isso que este concerto (que fechou a digressão de Maio, "Esta depressão que me anima") corresponda agora aos primeiros dias de uma nova - e longa - fase da banda.
Texto e foto @Gonçalo Sá
Videoclip de "Esta depressão que me anima":
Videoclip de "Monotone":
Videoclip de "Música":
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