
No final do julgamento, os jurados terão de decidir se o artista e produtor, vencedor de vários prémios Grammy, usou a sua fama, riqueza e influência no mundo do hip-hop para sujeitar as vítimas à prostituição e abusar delas.
Na semana passada, Cassie, cujo nome verdadeiro é Cassandra Ventura, descreveu com detalhes as orgias, ou “freak-offs”, que estão no centro das acusações. Tratavam-se de maratonas sexuais em que, sob o efeito de drogas, tinha de entregar o seu corpo a outros homens para satisfazer os desejos de Diddy, que filmava os encontros.
A defesa tentou demonstrar que a sua participação foi voluntária.
Esta segunda-feira, Kerry Morgan, ex-melhor amiga de Cassie, que conheceu quando ambas trabalhavam como modelos, descreveu alegados abusos físicos e psicológicos cometidos por P. Diddy.
"Já não era a mesma"
"Ela [Cassie] perdeu completamente a confiança em si própria. (...) Tinha perdido o brilho, já não era a mesma Cassie", declarou Kerry Morgan, de 39 anos, no tribunal de Manhattan.
Num incidente ocorrido em Los Angeles, Morgan contou que pediu, em vão, a um dos seguranças de P. Diddy que “fizesse alguma coisa” para impedir que ele agredisse Cassie. Segundo a testemunha, Cassie encontrava-se isolada, uma vez que o círculo próximo de Diddy — cuja fortuna é estimada em cerca de 700 milhões de dólares, segundo a revista Forbes — era composto por empregados e sócios.
“Era evidente que tentavam convencê-la de que tudo estava bem”, acrescentou Morgan, referindo-se em particular a um incidente ocorrido em 2016, num quarto de hotel em Los Angeles. De acordo com imagens captadas pelas câmaras de segurança do hotel, exibidas na semana passada em tribunal, Diddy agrediu Cassie de forma violenta.
Morgan, que se encontrava com Cassie nesse momento, declarou que P. Diddy se aproximou e começou a bater à porta com um martelo. “Acho que ela temia que ele entrasse e a matasse”, afirmou Morgan, que disse ter aconselhado Cassie a deixar Diddy ou, pelo menos, a chamar a polícia.
Frigideira
Segundo Morgan, Cassie, cuja carreira era gerida por Diddy, disse-lhe que “não podia” fazê-lo porque ele “controlava tudo”, e que corria o risco de perder “o trabalho, o carro, o apartamento”. “Ela perderia todos os meios de subsistência”, afirmou.
Também esta segunda-feira, Dawn Richard, cantora do grupo Danity Kane — produzido por Diddy e cujo tema “Show Stopper” chegou ao top 10 da Billboard em 2006 — testemunhou sobre a violência sofrida por Cassie.
Contou ao júri que uma vez viu o empresário tentar atingir a ex-namorada com uma frigideira. Segundo Richard, Cassie encolheu-se no chão da cozinha e o rapper empurrou-a contra o pavimento.
Descreveu ainda outros episódios de fúria, incluindo um que ocorreu num restaurante de Los Angeles, onde Diddy alegadamente deu um murro no estômago de Cassie.
Durante o contra-interrogatório, uma advogada do rapper tentou desacreditar Dawn Richard, que atualmente move um processo cível contra Diddy por abuso sexual, alegando que a sua versão dos factos mudou entre a declaração inicial e o testemunho em tribunal.
Dawn Richard admitiu que as suas declarações mudaram com o tempo, explicando que, no início, tentou esquecer “aqueles anos difíceis”: "Mas, com o passar do tempo, tornou-se mais fácil recordar".
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