Às 22 horas em ponto, Manuela Azevedo entoa os primeiros versos de «Vamos Esta Noite», tema de abertura do último álbum. Prestes a terminar a digressão de Cintura , os
Clã encontram numa Aula Magna quase cheia um público conhecedor. No palco vislumbramos aviões de papel suspensos, um barco também de papel bem atracado ao solo, bateria e teclados alguns palmos acima dos restantes instrumentos. Uma gigante placa de metal como pano de fundo, sobre a qual são projectadas simples (mas interessantes) nuances coloridas. Tudo tem a aparência de estar «em obras». O próprio centro de operações está «vedado», rente ao chão, por uma fita vermelha e branca isoladora de acontecimentos imprevistos (ou acidentados).
A incursão por Cintura prossegue com «Mandarim» e «Tira a Teima», sem Paulo Furtado dos Wraygunn, que se faz substituir por uma máscara de si próprio que Manuela Azevedo faz questão de colocar à frente da sua cara. A «embalagem» não é desaproveitada e «GTI» serve para matar saudades de Kazoo , álbum que soprou este ano dez velas. A viagem não é em vão e do mesmo álbum escuta-se «O Meu Estilo». E rapidamente se salta até Lustro para uma rendição impoluta de «H2omem», com direito a coreografia no público.
Puxando os galões ao álbum lançado este ano, Manuela Azevedo e companhia interpretam, de uma penada, «Pequena Morte», «Sexto Andar» e «Ponto Zero». Tons de Rosa Carne apresentam «gente feia» em «Carrossel dos Esquisitos». Um dos momentos mais altos da noite é atingido com enorme economia de meios: apenas voz (de Manuela Azevedo, em grande forma) e guitarra acústica (de Hélder Gonçalves) fizeram de «Sopro do Coração» um daqueles momentos-arrepio para levar para casa.
Nova recarga de baterias com «A Grande Pirâmide» (Kazoo novamente), intersectada com «Road To Nowhere» dos Talking Heads. Há ainda «Topo de Gama» e um muito suado «Dançar na Corda Bamba», que funciona aqui como mola propulsora. E no final de «Adeus (Bye Bye»), Manuela coloca o barco (que se encontrava em mar tranquilo, à direita de Hélder Gonçalves) a tiracolo e saca lá de dentro aviões de papel coloridos, que faz questão de fazer voar em direcção à plateia.
«Eu Ninguém», escrita por Arnaldo Antunes, tem vitaminas disco-funk (e Manuela dança sem medo, apesar dos finos saltos altos); «Problema de Expressão», da pena de Carlos Tê, é sinónimo de partilha a muitas vozes; «Amigos de Quem», vénia a Manuel Cruz (Ornatos Violeta), é a penúltima de vinte e quatro canções e antecipa o fim. E que fim! Um inédito muito new-wave, ainda mais punk, despachado em pouco mais de um minuto a alta velocidade e que Manuela Azevedo apresenta como «uma música nova mas que não é deste disco; é preciso vir aos concertos». Foi preciso vir a este concerto para nos lembrarmos que os
Clã são como o homem da Regisconta - aquela máquina.
Fonte(texto):
Blitz - Luís Guerra
Fotografias por Pedro Mendonça -
www.PedroFotos.com
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