Videoclips de Paul McCartney:

Novos voos depois dos Beatles

O facto de ter deixado os Beatles não parece ter prejudicado a inspiração do então baixista, uma vez que "McCartney", o seu primeiro disco a solo, foi editado no mesmo ano (1970). E resultou numa autêntica declaração de independência, contando apenas com os seus préstimos em todos os instrumentos. A única colaboração foi a de Linda McCartney, em alguns apontamentos vocais, a abrir caminho para uma parceria que ganharia outra dimensão com os Wings, em 1971. Além do casal, o grupo incluiu o ex-guitarrista dos Moody Blues, Denny Laine, e o baterista Denny Seiwell, quarteto fundador de um projeto que consolidou a popularidade de McCartney.

O segundo álbum a solo, "McCartney II", chegou só na década seguinte, em 1980, um ano antes da dissolução dos Wings. Mais experimental e revelador de uma paixão pelos sintetizadores, o disco afastou-se do formato canção abraçado pela sua banda anterior e, em retrospetiva, pareceu antecipar a versatilidade que se seguiu. Afinal, nos anos 1980 McCartney colaborou com Stevie Wonder, Michael Jackson, Elvis Costello e até protagonizou o musical "Give My Regards to Broad Street" (1984), filme de Peter Webb do qual foi ainda argumentista e produtor.

Nos anos 1990, McCartney juntou à sua discografia experiências ligadas à música clássica ("Liverpool Oratorio", com Carl Davis, de 1991, ou "Standing Stones", de 1997), eletrónica (no projeto The Fireman, ao lado de Youth, dos Killing Joke e The Orb), rock ("Off the Ground", 1993) ou a coleção de atuações em acústico "Unplugged (The Official Bootleg)", de 1991. Mas mais do que pelo percurso criativo, a década marca a sua história por um dos momentos mais tristes da sua vida pessoal: a morte de Linda, em 1998, depois de uma batalha contra o cancro. A cantora, fotógrafa e ativista seria homenageada no disco "A Garland for Linda" (2000), editado pela organização de luta contra o cancro Garland Appeal, na qual Paul participou com o tema "Nova".

Depois de Linda, McCartney casou com a ex-modelo Heather Mills, em 2002, união que durou apenas quatro anos, e mais recentemente, em 2011, com Nancy Shevell, vice-presidente de um conglomerado de transportes. É a esta última que o ex-Beatle dedica "Kisses on the Bottom", o seu 15º álbum a solo, editado em abril deste ano. Em vez de experiências ligadas ao rock, à música clássica ou eletrónica, o disco é, nas palavras do seu autor, daqueles "para ouvir em casa, depois do trabalho, com um copo de vinho ou uma chávena de chá" e assume influências de atmosferas jazzísticas. Terá Paul recuperado, pouco antes de fazer 70 anos, o trompete que trocou aos 14?

@Gonçalo Sá