Palco Principal – Espero que não se importem de voltar um bocadinho atrás na história dos Harem Scarem e esclarecer os fãs portugueses sobre as razões que vos levaram a declarar a carreira da banda como concluída, em 2008. Os Harem Scarem sempre tiveram liberdade criativa para experimentar e criar; os músicos sempre tiveram carreiras a solo paralelamente, e continuaram a trabalhar juntos e a colaborar nos projetos individuais uns dos outros, portanto, não se trataram de problemas pessoais. E, quando pensávamos que não haveria volta a dar, é anunciada a reunião da banda para celebrar o 20º aniversário do “Mood Swings”. Afinal, por que é que acabaram e por que é que decidiram regressar neste momento em particular?

Pete Lesperance – Bem, pareceu-nos que agora era a hora certa. Cerca de 130 canções depois... Tínhamos feito 12 álbuns de estúdio e o que nos pareceu como uma centena de compilações, álbuns ao vivo e coisas que tais. Pessoalmente, senti, naquela altura, que já tinha dito, musicalmente, tudo o que tinha a dizer com esta banda. Todos nos damos maravilhosamente bem e nunca, em toda a nossa carreira, tivemos um problema desse tipo. Apenas estávamos todos cansados e achámos que estava tudo dito. Passando à frente, rapidamente, cinco anos... O nosso amigo Kieran [Dargan], que gere o festival Firefest no Reino Unido, pensou que seria uma boa ideia regressarmos ao festival e tocarmos o álbum “Mood Swings” na sua totalidade, para assinalar o 20º aniversário do lançamento do disco. Uma coisa levou à outra e aqui estamos, já com uma regravação do álbum e digressões a acontecerem.

P.P. – Esta nova versão do “Mood Swings” inclui todos os temas regravados num pack muito interessante, com vários extras. Pode explicar aos fãs o que é que vão encontrar no “Mood Swings”, versão 2013?

P.L. – O pack do “Mood Swings” consiste nos 11 temas originais do álbum completamente regravados, três novos temas bonus, um vídeo com o “making of” do álbum e três temas divididos em faixas individuais de gravação, para que os fãs possam descarregá-las para o computador e fazer as suas próprias remisturas, e brincar um bocadinho com as faixas.

P.P. – Sabemos que a ideia de regravar o álbum teve muito que ver, também, com questões legais ligadas à recuperação dos direitos sobre o material que compuseram durante o vosso tempo de contrato com a Warner. Mas como é que foi, para vocês, a experiência de se encontrarem, novamente, em estúdio, a trabalhar em temas como “No Justice” ou “Stranger Than Love”? Ainda conseguiram encontrar os sentimentos que vos levaram a escrever esses temas, há mais de 20 anos?

P.L. – Foi um processo muito interessante. Como parece que é, definitivamente, o nosso álbum mais popular, foi um pouco intimidante, no início, porque queríamos ter a certeza de que não se perdia nada do original no processo de regravação. Apenas queríamos dar-lhe um som mais atual e uma produção melhor, mas mantendo o mesmo espírito. Depois de trabalharmos nas duas primeiras canções, esse receio desapareceu e, depois, foi sempre em frente.

P.P. – Assim que anunciaram este lançamento e que se soube que seriam cabeças de cartaz do primeiro dia do Firefest deste ano, promotores de todo o mundo mostraram-se imediatamente interessados e uma digressão em larga escala começou a tomar forma muito rapidamente. Ficaram surpreendidos com esta reação? Com família e compromissos de trabalho nos vossos estúdios, tiveram que pensar muito tempo até decidirem embarcar nesta digressão e regressar à estrada, ou é o vosso habitat natural?

P.L. – Na verdade, tudo se resume ao facto de que queríamos voltar à estrada e tocar outra vez, por isso, quando as propostas começaram a chegar, tomámos a decisão de ir em frente e fazer todas as datas. Esta é, aliás, a maior digressão europeia que já fizemos alguma vez, por isso, estamos muito entusiasmados.

P.P. – Os vosso alinhamentos em palco costumavam ser muito heterogéneos, abrangendo um pouco de toda a vossa extensa discografia – até dos tempos menos consensuais do projeto alternativo “Rubber”. Agora, vão tocar apenas temas do “Mood Swings” e do álbum de estreia. Estão confortáveis com esta escolha ou acham que é o que os fãs querem ouvir?

P.L. – Estamos absolutamente confortáveis com esta escolha, afinal, trata-se da digressão de aniversário do “Mood Swings” e faz sentido que assim seja. Na realidade, é, até, muito porreiro... Sinto que estamos, finalmente, a dar aos fãs aquilo que eles querem, depois destes anos todos a confundi-los...

P.P. – A digressão já começou e tiveram oportunidade de fazer algumas datas nos Estados Unidos e no Japão, antes de chegarem à Europa. No último fim-de-semana, o público rendeu-se à vossa prestação no Firefest e à energia desta nova formação, com o regresso do Darren Smith. Como é que estão a correr as coisas? Estão a divertir-se?

P.L. – As coisas estão a correr muito bem! Temo-nos divertido imenso em todos os espetáculos e estamos a desfrutar bastante da companhia uns dos outros. Vamos ver se ainda digo o mesmo daqui a três semanas...

P.P. – Os fãs receavam que esta reunião fosse exclusivamente para marcar o aniversário do “Mood Swings” e que as coisas ficassem por aí, mas vocês já anunciaram um novo álbum de estúdio, que deverá estar na rua no próximo ano. Já estão a trabalhar nisso, podem desvendar alguma coisa?

P.L. – Basicamente, já andávamos a falar nisso há algum tempo. O facto de as pessoas parecerem entusiasmadas com a ideia e de a editora japonesa e os promotores nos terem apoiado foi, realmente, o fator decisivo. Agora já estamos a avançar a todo o vapor.

P.P. – Muitos músicos do rock melódico têm afirmado que é irrelevante continuar a lançar discos novos, já que os fãs de sempre só querem ouvir os temas antigos e os novos fãs já não compram música. Da sua vasta experiência, enquanto artista, compositor e produtor, acha que há verdade nestas afirmações ou ainda vale a pena continuar a lançar discos para o mercado? Como é que perspetiva o futuro da indústria?

P.L. – Bem, essas são algumas perguntas difíceis... Em primeiro lugar, os discos não se vendem, ponto final. O mercado parece o oeste selvagem e, se conseguires fazer algum dinheiro a partir da música, seja a que nível for, já és um felizardo. Estes são dias muito difíceis para os músicos, produtores, engenheiros e, basicamente, para toda a gente na indústria. Foge, se puderes... Senão, junta-te ao clube!

P.P.- Os fãs portugueses ainda recordam, com um misto de orgulho e saudade, o concerto dosHarem Scarem em Lisboa, no início da década de 90. Não conseguimos confirmar se foi, realmente, o vosso primeiro espetáculo fora do Canadá, mas se não foi o primeiro, foi um dos primeiros. Ainda se lembram desse espetáculo? Como é que foi para vocês, tão jovens, encontrar um sucesso mundial tão rápido, em particular na Europa e no Japão?

P.L. – Sim, julgo que foi o nosso primeiro concerto internacional e ainda tenho memórias fantásticas dessa noite e das pessoas em Portugal. Os Harem Scarem conseguiram assinar contrato muito cedo na carreira mas, infelizmente, o nosso timing foi mau e o rock estava prestes a ser “varrido” de cena quando os Harem Scarem apareceram, por isso , não considero, realmente, que tenhamos chegado a ter esse grande sucesso. Mas, apesar de não termos chegado a ser uma banda de topo, sempre apreciámos muito os nosso admiradores e parece que ainda temos por aí alguns fãs espalhados pelo mundo, que são poucos, mas muito dedicados. O que é que podíamos pedir mais?

P.P. – Não é necessário dizer que o vosso regresso a Lisboa tem sido um dos concertos mais aguardados do ano pelos rockers portugueses. Entusiasmados com estes espetáculos pela Europa?

P.L. – Mal podemos esperar!

P.P. – Muito obrigado pelo vosso tempo, vemo-nos em Lisboa!

P.L. – Até lá!