
Hoje, as ilhas fazem da música uma marca e um investimento – que inclui diversas celebridades internacionais –, com alguns festivais anuais a projetar Cabo Verde para o mercado internacional.
“Em 1996, comecei a trabalhar com os Ferro Gaita” e o seu funaná, por natureza, irrequieto: “Trabalhei com eles durante 28 anos, como ‘manager’, até agosto [de 2024], quando entrei para o Governo”, conta Augusto Veiga, em entrevista à Lusa, a propósito do que meio século de independência significou para o mundo da música.
“A primeira gravação foi na Holanda, durante 15 dias. Gravámos em tempo recorde”, para caber no orçamento disponível.
“O técnico teve de ficar mais tempo, para finalizar o processo e enviar os CD para Cabo Verde”, recorda.
No arquipélago, “fazia-se sempre alguma coisa, de uma forma mais rudimentar ou então vinha alguém de fora, fazer cá as gravações”, mas muitos preferiam os estúdios, no exterior.
O segundo disco dos Ferro Gaita foi gravado durante uma digressão junto da diáspora, pelos EUA, num estúdio dos cabo-verdianos Mendes Brothers e só o terceiro foi, finalmente, gravado em Cabo Verde: “Foi num estúdio que eu criei em parceria com Ricardo Pinheiro. A partir daí, as gravações foram acontecendo, essencialmente, em Cabo Verde, mas antes não havia essa hipótese”.
Fez-se a independência, em 1975, e durante toda a década, “grandes grupos cabo-verdianos como Tubarões, Bulimundo, quase todos gravavam fora”, por falta de infraestruturas no país.
Estúdios em Portugal, Holanda, França ou EUA eram pontos de passagem quase obrigatória para quem queria chegar ao sucesso.
Os direitos de autor também eram registados fora, “só há uns 10 anos, começámos a registar a nossa própria música, aqui, em Cabo Verde”, recorda Augusto Veiga.
“Era tudo muito diferente do cenário atual. Agora, mesmo havendo ainda alguma informalidade, está tudo muito melhor”, descreve.
A agenda cultural cabo-verdiana cresceu com a música e tem ajudado a projetar o país.
O Atlantic Music Expo (AME), festival que reúne produtores de todo o mundo e serve de montra de artistas, anualmente, em abril, na capital, Praia, “é realizado há 11 edições e tem contribuído muito para a evolução dos artistas”.
“Obrigou-os a trabalhar de uma forma mais organizada, a ter uma ‘pen’ com os trabalhos, a ter um CD, a ter um cartão-de-visita, a ir aos encontros particulares [com produtores] e a começar a internacionalizarem-se”, assinala.
O AME acontece sempre na semana que antecede o Kriol Jazz Festival, atração consagrada na agenda de visitantes e que não é caso único – o Festival da Baía das Gatas, na ilha de São Vicente, é outras dos destaques anuais.
A música e a cultura “foram um fator fundamental para a afirmação da independência de Cabo Verde. Já em 1975, a música de intervenção foi muito importante para a implantação política do partido [Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde] e tem estado sempre presente, como nossa identidade”, refere.
“A música e a cultura cabo-verdiana são dos maiores embaixadores do país”, considera Augusto Veiga, justificando o facto de, “agora, nas comemorações de 50 anos, o maior relevo ser mesmo dado ao programa cultural, além da parte diplomática”.
Na sexta-feira, a noite que antecede o Dia da Independência será preenchida com diversos espetáculos no centro da capital, reunindo dezenas de músicos e bandas – um programa que se estende pela noite de 05 de julho, em que atuam os Ferro Gaita, Tubarões e Bulimundo.
O programa de festejos, que prossegue até final do ano, inclui uma feira do livro, com o apoio da cooperação portuguesa, debates literários e outros concertos, como o que vai juntar a Orquestra da Gulbenkian com Mário Lúcio, dias 25 e 26 de julho, nas instalações da Assembleia Nacional, na capital, Praia.
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