O álbum, editado em fevereiro último, é constituído por 14 canções, todas compostas por João Afonso e exclusivamente com poemas dos escritores José Eduardo Agualusa e Mia Couto, de quem é amigo e “grande admirador das suas obras”.

“Sangue Bom” é o quarto disco de originais, que sucede a “Redondo Vocábulo”, o álbum de 2009 em que João Afonso revisitou o repertório do tio, José Afonso. Em termos de material da sua autoria, o seu anterior trabalho, intitulado “Outra Vida”, data de 2006.

“Não estive parado neste oito anos, tanto mais que compor canções é uma necessidade minha, quase física, mas fiz coisas para outros intérpretes, envolvi-me em diferentes projetos, tenho aliás um com o Rogério Cardoso Pires, que se chama Buganvília, e há a família”, disse João Afonso à Lusa.

Referindo-se a “Sangue Bom”, o músico salientou que, “além de todos os considerandos, este é um disco nascido no universo da amizade, com a ajuda dos músicos amigos que participaram de forma generosa”. “Acredito que ‘Sangue Bom’ é um álbum conseguido, muito graças à vivacidade dos diferentes músicos que participaram, e também porque revela uma grande multiplicidade de sons e universos”, afirmou o músico, para acrescentar em seguida: “É um disco do universo da lusofonia, mas fala da infância, da amizade e das paixões”.

Para o resultado final, que qualificou de “singular e grande delicadeza”, João Afonso salientou o trabalho do produtor Vítor Milhanas, que também participa como músico e é o autor dos arranjos musicais. “Neste disco, o jogo entre a minha voz e a do meu irmão, António, que aconteceu noutros CD, neste está mais forte, e outro fator que o singulariza são as guitarras do Miguel Fevereiro e do António Pinto, assim como o jogo de percussões do Quiné e do Vítor Milhanas, com as percussões eletrónicas”, referiu.

“As canções são todas elas diferentes entre si, apesar de se puder fazer famílias, por exemplo ‘Astros’, de Agualusa liga-se à canção ‘Lagarto’, de Mia Couto, e ‘Sementes’ a ‘Sem Volta’ e ‘Na grande casa branca’”, disse.

"Na grande casa branca”, de José Eduardo Agualusa, foi uma das canções que o cantor destacou “por falar da infância e partilhar o mesmo sentimento com o poeta, que nos dá no poema quase a cheirar aquele espírito do retornado”. “Eu identifico-me com esse paradigma perdido do retornado, mesmo não sabendo onde regressar, mas esta canção está cheia disso”, acrescentou. “A casa branca é a infância, onde fomos felizes, com largas varandas viradas para o mar, algo que é perene”, argumentou.

“Na grande casa branca” é a segunda canção no alinhamento do álbum, que abre com “Estrada do Sumbe”, também de Agualusa, e que conta com três duetos. “Não sendo apologistas de duetos, estes surgiram de forma muito natural, são com músicos que admiro e com quem há um espírito de partilha”, disse. Os cantores são a angolana Aline Frazão, com a qual interpreta “Canção da despedida”, o moçambicano Stewart Sukuma, na canção “A paixão só atrapalha”, e o brasileiro Fred Martins, em “Na grande casa branca”.

Na próxima quinta-feira, às 23:00, João Afonso apresenta “Sangue Bom” no B’Leza, ao Cais do Sodré, em Lisboa, partilhando o palco com os músicos Vitor Milhanas (contrabaixo e baixo), António Pinto (guitarra), Miguel Fevereiro (guitarra) e Quiné Teles (bateria e percussão).

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