O tempo tem destas coisas. Os artistas carregam o passado, em palco apenas o de sucesso, e pouca volta há a dar. Mark Knopfler é, sem dúvida, um mestre da guitarra, um tocador exímio e em mais de três décadas de carreira, com Dire Straits ou sem eles, há criações que nunca podem faltar num alinhamento. Porque o público é exigente e porque só há possibilidade de o ver ao vivo de tempos a tempos.

Mais do que a apresentação de «Get Lucky», a tournée do artista britânico é um reavivar de canções que nunca são esquecidas e, por isso mesmo, convém lembrar. «Romeo and Juliet», «Brothers in Arms», «Sultans of Swing», são uma bênção para os ouvidos e isso sentiu-se no pulsar do público, na forma como a plenos pulmões se foi acompanhando o artista.

Num Campo Pequeno praticamente cheio, Mark Knopfler e os seus músicos, dois deles da velha guarda, brindaram o público com um concerto de quase duas horas, entre guitarras e acordeão, entre flauta transversal e contrabaixo, sempre com a bateria de fundo. O legado dos Dire Straits sofre alterações, as canções continuam a fluir. Mas em algumas delas («Border River», «Piper to the end» – as únicas pertencentes ao novo álbum - «Speedway to Nazareth» ou «Marbletown») sente-se a música celta e a folk norte-americana, mais distante da banda que o consagrou, mas sublime na mesma.

E para que ninguém perdesse aquilo que de melhor sabe fazer, foi instalada no pé do microfone uma pequena câmara. No ecrã, por detrás da bateria, Knopfler mostrava ao pormenor como se toca uma guitarra, como os dedos deslizam pelas cordas.

«Get Lucky», o álbum de 2009 e o último editado por Mark Knopfler, foi pouco mostrado neste concerto e merece ser ouvido. E, mais uma vez se prova, que quando se é bom a idade só amadurece. Não estraga.

@Inês Henriques