
O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, lamentou hoje a morte do compositor e intérprete Bernardo Sassetti, considerando-o «um dos mais talentosos músicos portugueses de sempre». Numa mensagem de condolências enviada à família do pianista, Cavaco Silva afirma que sentiu «profunda consternação» ao tomar conhecimento da morte de Bernardo Sassetti. «A solo ou acompanhado, sobressaía sempre o seu virtuosismo, quer interpretasse composições suas ou de outros. Nas suas inúmeras atuações em Portugal e no mundo, Bernardo Sassetti foi sempre um embaixador da nossa cultura», acrescenta o Presidente da República na mensagem. Para Cavaco Silva, «o desaparecimento tão prematuro [de Bernardo Sassetti], deixa a música e a cultura portuguesas consideravelmente mais pobres. Fica a sua obra e a certeza do seu enorme talento».
Rui Lopes Graça
O coreógrafo Rui Lopes Graça destacou hoje a «rara genialidade artística, a capacidade de diálogo e a generosidade» do compositor e intérprete Bernardo Sassetti. Lopes Graça foi um dos nove coreógrafos que trabalharam com Bernardo Sassetti na conceção do bailado «Uma Coisa em Forma de Assim», criado no ano passado, a convite da Companhia Nacional de Bailado para assinalar o Dia Mundial da Dança. Sassetti criou a composição original e também fez a interpretação ao vivo, no palco, interagindo por vezes com os bailarinos, enquanto tocava. «Foi um espetáculo marcante, pelos coreógrafos envolvidos e pela possibilidade de trabalhar com Bernardo Sassetti, que colaborou de forma extraordinária», recordou Rui Lopes Graça, acrescentando que o conhecia há anos, e ficou chocado com a notícia da morte. «Foi uma enorme surpresa. A sua morte deixa uma grande mágoa porque era uma pessoa de grande generosidade e de uma rara genialidade que desaparece de forma prematura», lamentou o coreógrafo.
Guilherme d’Oliveira Martins
O presidente do Centro Nacional de Cultura (CNC), Guilherme d’Oliveira Martins, considerou hoje a morte de Bernardo Sassetti uma «perda irreparável» no mundo da criação musical portuguesa contemporânea. «A originalidade do artista tinha a ver com a versatilidade de estilos e de temas, e com a grande qualidade do intérprete e do compositor", assinala o presidente do CNC numa mensagem de pesar. Guilherme d’Oliveira Martins destaca igualmente que, no trabalho de Sassetti, «a criação artística, a literatura e a música ligavam-se naturalmente». Lamenta ainda o desaparecimento de «um grande amigo do Centro Nacional de Cultura, ao qual o ligavam laços muito antigos, familiares e artísticos».
Sérgio Godinho
O pianista Bernardo Sassetti foi «um músico superior», «absolutamente cativante», disse à agência Lusa o músico Sérgio Godinho. Sobre o pianista, que convidou para participar no álbum «Mútuo Consentimento», editado no final do ano passado, Godinho recordou «um entusiasmo infantil - infantil no sentido mais nobre da ingenuidade, de pureza», na forma como encarava a música. «Tínhamos uma grande admiração musical e era uma pessoa que, em termos humanos, era absolutamente cativante. É tão triste que uma pessoa com aquela energia de viver morra», disse. Para Sérgio Godinho, Sassetti era «um músico superior», que estava «completamente desperto para a vida e para as artes", "que queria fazer muitas outras coisas e crescer sempre».
Carlos Martins, saxofonista
Um dos primeiros músicos com quem o pianista Bernardo Sassetti trabalhou, no começo da carreira, foi o saxofonista Carlos Martins, que o descreveu hoje à Lusa como um intérprete «que parecia que tinha vindo de outro planeta. Começou a tocar comigo quando tinha 17 anos. Era um miúdo muito sensível, muito particular, fora de todos os cânones das pessoas que tocavam nessa altura música em Portugal». Sassetti entrou em vários discos de Carlos Martins e ambos tinham planeado voltar a colaborar, referiu o saxofonista. «É uma dor que fica».
Luís Tinoco
«Hoje, para mim, é um dia profundamente triste, não só por perder uma pessoa extraordinária e um querido amigo de quem eu muito gostava, mas também por ser um génio, uma pessoa com um talento musical absolutamente ímpar no nosso país. Era uma grande pessoa e um músico absolutamente maravilhoso e inigualável», frisou o compositor Luís Tinoco.«Não sei muito bem pôr em palavras o que está a acontecer hoje, é a perda de um grande amigo, de um grande companheiro», disse Luís Tinoco, sublinhando que teve o «privilégio» de acompanhar o percurso pessoal e profissional de Bernardo Sassetti, durante «muitos anos».
Mário Laginha
O pianista e compositor Mário Laginha lamentou hoje a perda de Bernardo Sassetti, considerando a morte do pianista e compositor seu amigo «uma coisa estúpida». «Encaro a perda com estupefação», disse Mário Laginha, sublinhando que Bernardo Sassetti era «um enorme amigo e um músico maravilhoso». Visivelmente emocionado e sem conter as lágrimas, Mário Laginha sublinhou que, além dos trabalhos que fizeram em conjunto, ambos continuavam a ter projetos em comum. «É uma coisa estúpida de todo», concluiu.
Francisco José Viegas
O secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, recebeu hoje com «surpresa e choque» a notícia da morte do pianista e compositor, destacando a obra notável «de uma alma grande». Num comunicado enviado à agência Lusa, José Viegas salientou que Sassetti «era uma personalidade musical marcante, denotando uma sensibilidade palpável e empática com o público nas suas interpretações e nas suas obras, além de ser um dos melhores intérpretes do jazz, como pianista notável”, sublinha ainda o secretário de Estado na nota de pesar. O secretário de estado considera ainda que a morte de Sassetti «tem alguma coisa de absurdo e de chocante. E de irremediável para todos nós”, deixando "um vazio na música e na cultura portuguesa com este inesperado e abrupto desaparecimento».
Inês de Medeiros
Por seu turno, a vice-presidente da bancada do PS Inês de Medeiros considerou que a morte de Bernardo Sasseti constitui o desaparecimento de «um talento absoluto», e que traduz «um ano negro a todos os níveis no país», também «ao nível da cultura». «É o desaparecimento de um talento absoluto e de um jovem pianista e compositor ímpar. Em meu nome pessoal, é igualmente a perda de um amigo e um momento de grande tristeza e de grande dor», declarou a deputada socialista. Inês de Medeiros enviou depois profundas condolência à família e aos amigos mais próximos de Bernardo Sasseti. «O país está de facto cada vez mais pobre e cada vez mais triste. Vamos ter muitas, muitas saudades de Bernardo Sasseti. Deixou-nos uma obra que só aumenta as saudades que vamos ter dele», acrescentou.
Pedro Costa, editor da Clean Feed
Já Pedro Costa, editor discográfico do artista na Clean Feed, afirmou que Sassetti era «um iluminado» que tinha «um grande compromisso com a música. O Bernardo era uma personalidade, um iluminado, com grande energia, muito acima das coisas materiais», acrescentando que «com ele nunca falei de dinheiro». O editor sublinhou emocionado que o músico «foi a pessoa mais generosa que eu conheci», afirmando que «o Bernardo trouxe uma lufada de ar fresco porque ele era o que tocava, e ficava admirado quando as pessoas lhe diziam que a sua música era triste porque era tão bela, quando era de uma grande alegria e iluminada». Pedro Costa referiu ainda a paixão de Sassetti pela fotografia, tendo sido autor das capas de todos os seus álbuns editados pela Clean Feed.
O corpo de Bernardo Sassetti foi encontrado quinta-feira pela Polícia Marítima na zona do Abano, no Guincho. Segundo fonte próxima da família, o músico terá morrido acidentalmente quando fazia fotografia, na zona de Cascais, nos arredores de Lisboa. Bernardo Sassetti tinha cancelado, recentemente, vários concertos alegando motivos de saúde e estava a preparar um livro de fotografia.
Considerado um dos mais criativos pianistas da sua geração, Bernardo Sassetti nasceu em Lisboa a 24 de junho de 1970. Bisneto do antigo Presidente da República Sidónio Pais, era casado com a atriz Beatriz Batarda, com quem tinha duas filhas. Começou a estudar piano aos nove anos, tem formação clássica, mas foi no jazz que fez caminho, influenciado por Bill Evans e Keith Jarrett.
O percurso, feito desde os 18 anos, quando começou a tocar com Carlos Martins e com o Moreiras Quartet, foi transversal na música portuguesa, tendo trabalhado com músicos de jazz, de fado, de pop rock e hip hop. Entre os últimos registos do pianista contam-se «Carlos do Carmo - Bernardo Sassetti», uma participação no disco «Mútuo Consentimento», de Sérgio Godinho, e «3 Pianos», com Mário Laginha e Pedro Burmester. O pianista tinha uma particular paixão pela imagem e pelo cinema.
Sassetti trabalhou com realizadores portugueses e estrangeiros e compôs, para os filmes como «Alice», de Marco Martins, «A Costa dos Murmúrios», de Margarida Cardoso, e «Um Amor de Perdição», de Mário Barroso, entre outros.
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