O interesse dos Heróis do Mar pelo fado, presente desde os primeiros dias do grupo, tornou-se mais evidente do que nunca em "Fado", single do seu terceiro disco, "Macau", de 1986.

Embora nesse tema a ligação tenha sido mais explícita, em muitos outros - desde o início da década - a banda já tinha "tentado explorar o assunto dominante do fado: o amor por algo que está ausente, a saudade", conta Pedro Ayres Magalhães. "Queríamos partir daquelas canções em que o fadista elabora, filosoficamente, sobre a sua vida, sobre a condição de estar vivo. Para mim, os fados mais interessantes são essas reflexões existenciais com um poema acompanhado à guitarra. Acho isso fantástico", acrescenta o ex-baixista.

Se agora o fado tem peso suficiente para chegar a Património Imaterial da Humanidade, na altura era bem mais difícil encontrá-lo, relembra o músico: "O fado aparece de uma forma bastante prática no nosso percurso. Tínhamos curiosidade em conhecê-lo, éramos relativamente jovens e havia muito poucas ocasiões para o ouvir. Havia o Vai Tu [casa de fados na Bica], um ou outro sítio com fado vadio, e pouco mais".

Três décadas depois, tudo mudou. "O que me parece é que agora só há fado e não se pode fazer nada de diferente", salienta Paulo Pedro Gonçalves, que considera que, "como qualquer outro género, o fado tem de evoluir". O ex-guitarrista dos Heróis do Mar criou, aliás, um dos discos mais ousados na abordagem das fronteiras do fado, "Por Este Andar Ainda Acabo a Morrer em Lisboa", do projeto Ovelha Negra, editado em 1998 (álbum que deverá conhecer um sucessor em 2012). E embora esteja satisfeito com a mais recente distinção da UNESCO, o músico acredita que "toda a música é património mundial, não só o fado".

@Gonçalo Sá