"The End is the Beginning is the End", a canção que os Smashing Pumpkins criaram para a banda sonora de "Batman Para Sempre" (1995), não marcou presença no concerto dos norte-americanos na Praça de Touros do Campo Pequeno, esta quinta-feira - na primeira de duas noites nesse espaço que assinalam o regresso da banda a Portugal. Foi pena, porque além de ser uma das melhores que nos deixaram, o seu título seria o mais apropriado para resumir o que o espetáculo de Billy Corgan e companhia nos ofereceu.

Ao longo das suas duas horas e pouco, só os derradeiros minutos, que concentraram canções-chave do quarteto, lembraram a grande parte de um público quase sempre estático que estava num concerto. Até então, contam-se pelos dedos de uma mão os momentos em que os espetadores reagiram com algo mais do que aplausos respeitosos mas pouco entusiasmados, sintoma de uma atuação que, mais do que à contemplação, convidava ocasionalmente à dormência. Infelizmente, esse arranque a sério - com uma multidão agitada, de pé, entre gritos, palmas e headbanging - chegou com mais de uma hora de atraso para terminar pouco depois.

Sim, já sabíamos ao que íamos: Billy Corgan é o único membro que se mantém da formação original do grupo e, nos últimos dez anos, pouquíssimas das novas canções atingem o nível das menos impressionantes de discos como "Siamese Dream" (1993), "Mellon Collie and the Infinite Sadness" (1995) ou "Adore" (1998). Se isso já poderia gerar alguma desconfiança quanto ao estado atual dos Smashing Pumpkins, não era preciso reforçá-la com uma qualidade de som discutível (nos temas com mais distorção, a voz de Corgan ficou soterrada) e uma atuação cumpridora, mas algo monolítica.

O passado é o presente é o passado?

Ao vivo, as novas canções - algumas a incluir no próximo álbum do grupo, "Oceania", previsto para 2012 -, mostraram uma banda a voltar às origens: ou seja, ao psicadelismo de "Gish" (1991), mesmo que sem a mesma surpresa e fulgor de há vinte anos. Cenicamente, o imaginário também enveredou por aí, com um palco que teve na iluminação a sua mais-valia, dispensando extras e optando quase sempre por tons púrpura e azuis.
Esse efeito, que no início se mostrou parte hipnótico, parte enigmático, foi sendo desfeito por um concerto que, tirando a tal reta final, se fez em modo "tocar e andar". É certo que por vezes a interação da banda com o público não é uma prioridade, embora ajude quando as canções nem sempre envolvem. Houve exceções, sobretudo quando a banda olhou para trás: "Soma", "Geek U.S.A." ou "Siva" foram glórias passadas que gostámos de revisitar entre o material novo - e até aplaudimos o fato de nem serem das mais óbvias. Por outro lado, dispensávamos os momentos "guitar hero" de Billy Corgan - e não foram assim tão poucos -, com solos a lembrar a faceta mais "virtuosa" (ou bocejante) de veteranos do rock.

30 minutos de êxitos

Corgan pode não nos ter encantado com as guitarradas, mas no final venceu-nos pela nostalgia. "Thru the Eyes of Ruby", "Cherub Rock" e "Tonight, Tonight", disparados de seguida na derradeira meia-hora, foram trunfos esmagadores para que de alguma indiferença nascessem milhares de sorrisos. Todos estes temas continuam a condensar algum do melhor rock dos anos 90 e o público, aí sim, fez questão de não os deixar passar ao lado.

Se o princípio do fim foi flamejante, o encore subiu a fasquia quando Corgan, repentinamente comunicativo, tirou mais uma carta forte da manga. "Vamos tocar mais uma. Não costumamos tocar muito esta... querem que toquemos?", perguntou ao público, depois de justificar a ausência da baixista no tema anterior (indisposta, como o próprio revelou ter estado no concerto de quarta-feira, em Madrid). "Today" revelar-se-ia a surpresa anunciada e não demorou a despertar mais reações efusivas. Com um efeito comparável, "Zero" e "Bullet with Butterfly Wings" deixaram boa parte dos espetadores a cantar a plenos pulmões. Depois de um final destes, é difícil não comparar o que o concerto foi com o que poderia ter sido a partir daqui. Ou talvez faça sentido que tenha sido assim... Afinal, seo percursodos Smashing Pumpkins acabou por se tornar tão bipolar, até é natural que os concertos lhe sigam os passos.

Texto @Gonçalo Sá/ Fotos @Eduardo Santiago