"Por acaso a ideia partiu de mim... Sugeri à Espelho da Cultura [produtora de espetáculos] fazer um concerto, uma gala com todos os seus artistas. Ainda por cima somos todos amigos e, apesar de musicalmente termos percursos diferentes, há pontos e influências que se cruzam", recorda-nos António Zambujo a propósito do mote para "É que Narciso acha feio o que não é Espelho", concerto que sobre hoje ao Grande Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa.
Já o nome da iniciativa surgiu, de acordo com o fadista, de uma sugestão de Luanda Cozetti, que foi buscar um dos versos de "Sampa", de Caetano Veloso. A cantora brasileira será outro dos nomes a pisar o palco esta noite, dividindo-o com Norton Daiello, Raquel Tavares, Pedro Jóia, JP Simões, Afonso Pais e Couple Coffee, a sua banda. O espetáculo promete fazer a ponte entre o fado, a MPB, o jazz ou a world music, apenas algumas coordenadas de "uma grande salganhada que será certamente muito engraçada", aponta Zambujo.
Boa música por uma boa causa
"Este espetáculo é, acima de tudo, um encontro de amigos que chegam das mais diferentes áreas da música. É um espetáculo de fusão e o que pretendemos é uma noite bastante divertida", explica Raquel Tavares, destacando ainda que esta será uma noite solidária, uma vez que parte dos lucros revertem a favor da associação BIPP - Banco de Informação de Pais para Pais -uma Instituição Particular de Solidariedade Social que apoia e orienta pais e famílias de crianças ou adultos com necessidades especiais. "Tendo em conta que este é um período tendencialmente mais solidário, achámos que era uma boa altura para fazer a nossa parte, e também por isso é uma noite que nos deixa muito entusiasmados", acrescenta.
"O objetivo é não ser nada previsível. Claro que o fado vai estar presente mas o intuito aqui é arriscar outras áreas, áreas de que gosto muito e de que sofro bastante influência, como a MPB ou o flamenco. Por isso, embora saia da zona de conforto, estou confortável", avança ainda.
Uma festa sem medo de arriscar
Para Afonso Pais, este espetáculo "é muito o espelho do Espelho da Cultura: artistas que decidiram não ficar fechados naquilo que ouviram. Todos os artistas que estão ali representados têm essa filosofia como primeira premissa, procuram um lugar que risco que eventualmente venha a transformar-se noutro, e noutro e noutro...". O guitarrista acrescenta que esta "vai ser uma colaboração muito interessante para os músicos e para o público, com uma irreverência saudável, genuína e forte". António Zambujo também realça o lado "descontraído" deste desafio: "É uma celebração, digamos assim, de um ano muito bom para mim em termos profissionais, uma celebração com músicos que admiro. É uma noite em que nos podemos divertir enquanto ajudamos os outros".
É uma noite imprevisível, portanto, a que aguarda quem estiver no CCB a partir das 21 horas, realça Afonso Pais: "Tudo pode acontecer, o que é um pouco a filosofia do idioma que represento, o jazz. Acho que a colaboração é um dos elementos-chave da música e da arte em geral, porque todos aprendemos com todos. É quase como se todos fôssemos convidados de todos".
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