As autoridades do Irão libertaram Jafar Panahi sob caução, anunciaram uma ONG e um jornal do país esta sexta-feira.

O jornal Shargh publicou uma foto abraçando um dos seus apoiantes ao deixar a prisão de Evin, em Teerão.

Na quarta-feira, o aclamado cineasta, preso em Teerão em julho de 2022, anunciou que começara uma greve de fome para protestar contra as condições da sua detenção, num comunicado divulgado pela sua família.

"Hoje, como muitas pessoas presas no Irão, não tenho outra escolha a não ser protestar contra este comportamento desumano com o meu bem mais querido: a minha vida", afirmou o dissidente.

"Em protesto contra o comportamento ilegal e desumano do aparato judicial e de segurança e desta tomada de refém, iniciei uma greve de fome a 1 de fevereiro. Vou recusar-me a comer e beber qualquer alimento e remédio até ao momento da minha libertação". Permanecerei neste estado até que, talvez, o meu corpo sem vida seja libertado da prisão", acrescentou.

Panahi, 62 anos e um dos cineastas mais premiados do Irão a nível internacional, foi preso antes da onda de protestos que abalam o regime iraniano desde setembro, quando entrou na Procuradoria de Teerão para acompanhar o caso do seu colega Mohammad Rasoulof, detido uns dias antes.

Em 2010, ele fora preso e condenado a seis anos de prisão com 20 anos de proibição de dirigir ou escrever filmes, viajar ou até mesmo falar com a comunicação social, após ser declarado culpado de "propaganda contra o sistema", mas continuou a trabalhar clandestinamente e a viver no seu país.

Em outubro, o seu advogado contestou com sucesso junto do Supremo Tribunal que a sentença de seis anos já não era aplicável pois passara o prazo de prescrição de 10 anos, o que dava direito automático a aguardar um novo julgamento em liberdade sob caução.

Mas com as autoridades a avançarem com várias explicações para frustrar a expectativa de ser libertado, o cineasta continuou na penitenciária de Evin, na capital iraniana, conhecida pelas suas condições duras.

Panahi venceu o Leão de Ouro no Festival de Veneza em 2000 por "O Círculo" e o Urso de Ouro do Festival de Berlim em 2015 por "Táxi".

O mais recente filme, “Ursos não há”, premiado em 2022 em Veneza, está atualmente nas salas de cinema em Portugal.

Várias personalidades do mundo cultural estão entre os milhares de detidos no Irão como parte da repressão aos protestos iniciados após a morte, na prisão, da jovem curda Mahsa Amini, em meados de setembro.