“A Celeste tem uma caixinha de música na garganta, à qual alia uma interpretação sentida”, disse numa entrevista à Lusa Argentina Santos, que trabalhou com Celeste Rodrigues na sua casa de fados Parreirinha de Alfama e, mais tarde, no espetáculo “Cabelo Branco é Saudade”, uma criação de Ricardo Pais.

Com uma carreira de 73 anos, Celeste Rodrigues começou a cantar “por brincadeira”, numa “roda de amigos” em que estava o empresário de espetáculos José Miguel (1908-1972), que a convidou para fazer parte do elenco de uma das suas casas de fado, o Café Casablanca, em Lisboa, onde se estreou em 1945.

"O meu sonho não era ser artista, gostava imenso de cantar no meio dos fadistas, não em público, mas aconteceu", afirmou a fadista à Lusa.

Em maio último, quando celebrou em palco o seu aniversário com amigos, no Teatro TivoliBBVA, em Lisboa, Celeste Rodrigues em entrevista à Lusa, afirmou: “Cantar é sempre uma alegria, mas ainda mais nesta idade, porque não é fácil ter ainda um bocadinho de voz para me atrever a cantar”.

“Eu canto como posso”, acrescentou Celeste Rodrigues, referindo que, no fado, “as palavras, cada palavra tem um peso, e é esse o sentimento do fado”.

"Para mim, é muito importante o poema. E depois oiço o trinar das guitarras e acontece, mais não sei dizer [explicar], até porque não percebo nada de fado, o fado é para se sentir", disse.

Sobre a sua carreira afirmou: "O público tem sido muito bom para mim, não me posso queixar. Só tenho tido coisas boas na minha carreira, fui-me mantendo, não levantei nem desci”.

“O Meu Xaile”, “Trago na Voz o Vento”, "Ouvi Dizer que me Esqueceste”, “O Meu Nome Baila no Vento”, “Saudade vai-te Embora”, “A Lenda das Algas”, “Noite de Inverno”, “Fado Celeste”, “Praia de Outono” foram alguns dos fados do repertório de Celeste Rodrigues, ao lado de canções que fizeram também sucesso como “Ó Ai ‘Steja Quedo”, "Chapéu Preto" e “Olha a Mala”.

Celeste Rodrigues, depois do convite para cantar no Casablanca, fez parte de uma companhia teatral que seguiu em digressão para o Brasil, e em que era vedeta a sua irmã Amália Rodrigues (1920-1999), e que apresentava a opereta "Rosa Cantadeira" e a revista "Bossa Nova".

Ao longo da carreira, Celeste Rodrigues fez parte dos elencos de várias casas de fado, como o Café Latino, o Marialvas, Café Luso, Adega Mesquita, Tipoia, Adega Machado, Parreirinha de Alfama, Embuçado, Bacalhau de Molho, Casa de Linhares e Mesa de Frades.

Além do Brasil, onde regressaria no início da década de 1950, a fadista atuou em Espanha, Inglaterra e em África, ainda antes das independências, em territórios como o do então Congo Belga, em países que então se encontravam sob administração britânica e sob administração portuguesa, como Angola e Moçambique.

Em 1953 casou-se com o ator Varela Silva (1929-1995), de quem se divorciou décadas mais tarde, e, em 1957, tornou-se proprietária do restaurante típico A Viela, em Lisboa, ao qual renunciou quatro anos depois.

Ainda em finais da década de 1950, foi das primeiras fadistas a atuar no período experimental da RTP, no teatro da Feira Popular, e “a primeira a enfrentar as câmaras, quando os estúdios do Lumiar passaram da fase de experiências para as emissões regulares”, segundo o "Álbum da Canção”, de maio de 1967.

Em 2005, o encenador Ricardo Pais, então diretor do Teatro Nacional São João, no Porto, convidou a fadista a participar no espetáculo "Cabelo Branco é Saudade", ao lado de Argentina Santos, Alcindo de Carvalho (1932-2010) e Ricardo Ribeiro, com o qual fez uma digressão europeia.

Em 2007, editou o álbum “Fado Celeste”, produzido por Luís Varatojo, no qual gravou fados tradicionais e inéditos com letras de autores contemporâneos, como Helder Moutinho, José Luís Gordo e Tiago Torres da Silva.

Nesse ano de 2007, foi homenageada pela Associação Portuguesa dos Amigos do Fado (APAF), no Museu do Fado, num reconhecimento da “voz bonita, capacidade interpretativa e regularidade de uma carreira”, segundo declarações de Julieta Estrela de Castro, presidente da APAF, à Lusa.

No ano seguinte, a fadista fez uma digressão à Holanda, que passou pelo palco do Concertgebow de Amesterdão.

Em 2010, foi estreado o documentário sobre a sua vida, “Fado Celeste”, realizado pelo seu neto Diogo Varela Silva, e recebeu a Medalha de Prata da Cidade de Lisboa, no cinema S. Jorge. Em 2015, pelos seus 70 anos de carreira, a secção Heart Beat do Festival DocLisboa abriu com uma remontagem do documentário, intitulado, apenas, “Celeste”.

O ex-Presidente da República Aníbal Cavaco Silva condecorou-a, em 2012, com a Ordem do Infante D. Henrique, grau de comendador.

Em 2013, Celeste Rodrigues foi homenageada no Museu do Fado, em Lisboa, com a apresentação de um vídeo de Bruno Almeida e de um CD/DVD, comemorativo do seu 90.º aniversário.

O vídeo contou com a participação de Camané, Carminho, Ricardo Ribeiro, Aldina Duarte, Hélder Moutinho, Fábia Rebordão, Jorge Fernando, Pedro Moutinho, Ana Sofia Varela e Gisela João, entre outros.

Celeste Rodrigues atuou em abril passado no Town Hall, em Nova Iorque, ao lado de Carlos do Carmo, no âmbito do Festival de Fado.

No último ano a fadista estreitou relações com Madonna, atualmente a viver em Lisboa, com quem passou a última passagem do ano, em Nova Iorque.

Em dezembro do ano passado, a cantora fez um dueto espontâneo com Celeste, que considerava "uma lenda viva", na Mesa de Frades, em Lisboa, interpretando "Can't Help Falling in Love", uma canção Elvis Presley, um dos ídolos da cantora norte-americana, apesar de a fadista portuguesa preferir David Bowie, como confessou publicamente.

Numa das suas entrevistas à Lusa, Celeste Rodrigues afirmou: "O fado não pode acabar e, ao lado da guitarra e da palavra saudade, é uma característica portuguesa".

“Acho que o fado é uma música linda, maravilhosa. Com palavras bonitas, ainda mais maravilhoso fica. Portanto, é natural que faça sucesso. E [o fado] entra em nós, está nas veias de todos os portugueses”, acrescentou.