Organizado por João Barrento e Maria Etelvina Santos, e publicado pela primeira vez em 1988, pelas edições Rolim, este livro é agora reeditado, não se limitando a reproduzir essa primeira edição, mas acrescentando-lhe um núcleo significativo de textos inéditos, provenientes da alargada fase de escrita desta obra, que ocupa os anos de 1980 a 1984, fase final do exílio da autora na Bélgica, como explica a nota introdutória.

A génese de “Da sebe ao ser” é “complexa e prolongada, num processo de escrita dispersa mas persistente” ao longo de vários cadernos do espólio da autora, “um livro de trabalho lento”, referem os organizadores da obra.

A sua estrutura é diferente de todos os outros livros de Gabriela Llansol, mais fragmentada e em “versículos” inspirados nos salmos, o que poderá explicar a maior dispersão da escrita e a consequente maior “complexidade da trama narrativa”.

A própria autora fez a isso alusão em outros textos, referindo, por exemplo, tratar-se de “um livro complexo e talvez ainda mal definido em sonoridade e claridade reflexiva”.

Aliás, como contam os organizadores da obra, já o livro tinha o seu título final e ainda a autora sugeria que o seu fim poderia estar distante: “’Da sebe ao ser’ podia ter o nome de um sistema planetário, a órbita imaginária não encontra termo”.

Os textos inéditos que integram este volume foram compilados durante a recolha e transcrição dos textos que compõem o sexto volume dos Livros de Horas.

Segundo explicam os organizadores, quando faziam esse trabalho de recolha e transcrição, aperceberam-se de que os últimos anos do exílio foram em grande parte já ocupados com escrita intermitente para este livro, razão por que decidiram associar parte dessa escrita dispersa a esta reedição.

“Os fragmentos inéditos que agora se dão a conhecer centram-se em grande parte na panóplia figural e na interação (e iteração!) entre figuras recuperadas de outros livros (…) e novas figuras”, ora imaginadas, ora centradas na saga dos descobrimentos, acrescentam.

O tema é descrito pela própria Gabriela Llansol da seguinte forma: “Circunscrevi-me ao problema do poder e à meditação sobre as diferentes naturezas de quem é pobre”.

Maria Gabriela Llansol nasceu em Lisboa, em 1931, e morreu no dia 03 de março de 2008.

É apontada por muitos como um dos nomes mais inovadores e importantes da ficção portuguesa contemporânea, tendo levado às últimas consequências a criação de um universo pessoal sem paralelo na literatura desde os anos 1960, e esbatendo as fronteiras entre o que se designa por ficção, diário, poesia, ensaio ou memórias.

Assumindo-se como “escrevente”, Maria Gabriela Llansol afirmava não ter uma razão especifica para escrever, que não o podia justificar, apenas afirmar: “eu escrevo”.

Maria Gabriela Llansol estreou-se com "Os Pregos na Erva" (1962), seguindo-se títulos das trilogias - "O Livro das Comunidades", "A Restante Vida", "Na Casa de Julho e Agosto", "Causa Amante", "Contos do Mal Errante", da "Da Sebe ao Ser" -, somando-se depois obras como "Um Beijo Dado Mais Tarde", "Lisboaleipzig 1: O Encontro Inesperado do Diverso" e "Lisboaleipzig 2: O Ensaio de Música", "Onde Vais Drama Poesia?" ou os diários "Um Falcão em Punho" e "Finita".

Grande parte da sua obra encontra-se publicada atualmente pela Assírio & Alvim e a Relógio d'Água.