Esta semana, o prolífico músico exigiu que o gigante do streaming retirasse as suas canções (com 2,4 milhões de seguidores e mais de seis milhões de ouvintes mensais), a menos que o Spotify estivesse disposto a dispensar Rogan, cujo programa é o mais popular da plataforma, mas é repetidamente acusado de propagar teorias da conspiração.

Rogan desaconselhou a vacinação em jovens e promoveu o uso não autorizado da ivermectina, um medicamento antiparasitário, para tratar o coronavírus.

"Percebi que não podia apoiar mais a desinformação no Spotify, que ameaça a vida do público amante de música", disse Young numa carta aberta.

A sua contestação veio após uma ação judicial apresentada por centenas de profissionais médicos pedindo ao Spotify que impedisse Rogan de promover "várias falsidades sobre as vacinas contra a COVID-19", que, segundo eles, estariam criando "um problema sociológico de proporções devastadoras".

Rogan, que tem um contrato de exclusividade de vários anos com o Spotify, prevaleceu na decisão do Spotify.

Na quarta-feira, os êxitos de Young, incluindo "Heart of Gold", "Harvest Moon" e "Rockin' In The Free World" foram retirados da plataforma.

A empresa, que na quarta-feira lamentou a decisão de Young e citou a necessidade de equilibrar "tanto a segurança dos ouvintes quanto a liberdade dos criadores", não respondeu a um pedido de comentário da AFP.

No ano passado, o diretor executivo da plataforma, Daniel Ek, disse à Axios que não achava que o Spotify, que recentemente começou a investir em podcasts, tivesse responsabilidade editorial por Rogan.

Ek comparou o podcaster a "rappers muitobem pagos", dizendo que "também não ditamos o que eles estão a colocar nas suas canções".

"Preocupações comerciais"

A atitude do Spotify atraiu aplausos virtuais de organizações como o Rumble, uma plataforma de streaming de vídeo popular entre a direita, que elogiou a empresa sueca por "defender os criadores" e "a liberdade de expressão".

Neil Young turnS 75

Mas Young também recebeu muitos elogios por se posicionar, inclusivamente do chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS). O músico pediu a outros artistas que sigam o seu exemplo.

Summer Lopez, diretora sénior de programas de liberdade de expressão da organização sem fins lucrativos PEN America, enfatizou que "Young é provavelmente um dos únicos artistas que se podem se dar ao luxo de fazer esse tipo de ultimato".

No entanto, Lopez expressou preocupação com "pedidos mais amplos para boicotar o Spotify", porque "é um lugar essencial para os artistas alcançarem o seu público e uma fonte de receita".

O papel de plataformas como o Spotify na moderação de conteúdo é complexo, destacou López, porque, ao contrário das redes sociais, é um serviço "projetado principalmente para amplificar a arte e as obras de arte".

"Acho que o verdadeiro problema aqui é que o Spotify não tem uma política clara sobre isso", analisou, levantando questões sobre se "há alguma independência significativa" entre "o processo de tomada de decisão e as suas preocupações comerciais".

"Experiência pessoal"

Nos últimos anos, referências dos media online, incluindo o Facebook e o YouTube, foram criticados por permitir que teóricos da conspiração divulgassem os seus pontos de vista.

Mas, apesar do seu crescimento explosivo, o podcasting passou despercebido.

Valerie Wirtschafter, analista de dados sénior da Brookings Institution que estuda os media contemporâneos e o comportamento político, explicou que isso se deve principalmente ao facto de o podcasting ser "um espaço tão grande e descentralizado".

No entanto, admitiu que o áudio é um meio particularmente poderoso para espalhar falsas verdades: "Há um tipo de experiência pessoal a acontecer aí".

A intimidade do som combinada com o estilo conversacional dos podcasts permite que os ouvintes processem a informação de uma forma que "potencialmente a torna um meio mais forte para essas falsidades".