No filme realizado por Fellini em 1978, uma orquestra encontrava-se num oratório para ensaiar, enquanto no espetáculo com texto e dramaturgia de Tónan Quito e Filipe Melo é a Orquestra de Jazz do Hot Club “que vai ao CCB para fazer um ensaio, naquele dia aberto ao público, e está a ser gravada para um documentário”, disse Tónan Quito à agência Lusa.

Uma orquestra “em falência coletiva e individual” à semelhança dos músicos e da música usados por Fellini como metáfora de uma sociedade em crise onde cada elemento tinha uma visão egocêntrica do seu papel e que apenas se une com o objetivo de destronar o maestro, que ao assistir à revolta do grupo tenta restituir a ordem.

O espetáculo é filmado ao vivo, através de entrevistas que vão sendo feitas aos músicos para que o público os possa ir conhecendo a título individual e ao comportamento que têm no contexto do grupo.

Em simultâneo com as filmagens, as imagens serão também exibidas como se o público estivesse a assistir a um ensaio e a um documentário feito ao vivo.

A diferença entre o filme de Fellini e o espetáculo reside no final, já que, ao contrário da orquestra de Fellini, a que se apresenta no palco do CCB acaba por se encontrar enquanto coletivo, descartando a ordem que o maestro lhes tentara impor.

Ultrapassadas as alegrias, tristezas, frustrações e ressentimentos dos músicos, estes apercebem-se de que é possível tocarem juntos e encontrarem-se, descobrindo que afinal gostam de fazer aquilo, disse Tónan Quito.

Um final oposto ao do filme de Fellini, que apesar de o realizador afirmar que não tinha interesse nenhum na política lhe valeu acusações de estar a fazer uma apologia do fascismo, já que os músicos acabam por aceitar o papel regulador do maestro.

Na versão que sobe ao palco no CCB, os criadores recusaram essa leitura e assumiram que a orquestra “não precisa de um mestre”, acrescentou Tónan Quito.

“Aqui resolvemos recusar essa leitura para tentar perceber se é possível a história não ser circular e haver outro tipo de hipóteses de as pessoas se organizarem mesmo em épocas de caos”, concluiu.

A música original da peça é de Filipe Melo e a interpretar estão Ana Brandão, António Fonseca, Crista Alfaiate e Tónan Quito, que também dirige o espetáculo.

Na Orquestra de Jazz do Hot Clube de Portugal estão António Quintino, António Morais, Bernardo Tinoco, Eduardo Lála, Eugénia Contente, Gonçalo Marques, Jéssica Pina, João Capinha, José Soares, Luís Cunha, Margarida Campelo, Paulo Gaspar, Pedro Felgar, Ricardo Sousa, Rui Pedro Bandeira, Rui Ferreira e Tomás Marques.

A cenografia é de F. Ribeiro, o desenho de luz de Daniel Worm, os figurinos de José António Tenente, o desenho de som de João Pratas e o vídeo de João Gambino.

No CCB, “Ensaio de orquestra” é representado na sexta-feira, às 21h00, e, no sábado, às 19h00. Depois do CCB, o espetáculo regressará ao palco em 2023, com espetáculos previstos para Faro, Guimarães, Aveiro e Guarda.