“Era um homem tão humilde, tão discreto, que quando ia cantar fora e lhe perguntávamos como tinha corrido, limitava-se a dizer ‘correu bem, é trabalho’, e não contava que tinha surgido nas primeiras páginas dos jornais ou recebido qualquer homenagem, como aconteceu. O Fado era a sua vida”, disse Maria de Lourdes Carvalho, que conviveu durante mais de uma década com o fadista e para quem escreveu “Penitência Para o Meu Fado” e “Apenas por te Deixar”, produzindo ainda um disco seu.

Em declarações à agência Lusa, a autora reconheceu que no decorrer da investigação ficou a conhecer factos que desconhecia, como a atuação de Manuel de Almeida na Coreia do Norte.

"Quando mergulhei na tarefa desta fotobiografia deparei-me com provas de uma vida profissional que, para qualquer um, teria sido a 'bandeira' da exibição gratuita e que para ele foi 'trabalho'. Manuel buscava apenas a realização pessoal e a honra de tudo fazer com honestidade", afirmou.

A fotobiografia é apresentada a 08 de setembro, no Museu do Fado, em Lisboa, e, pela primeira vez, reúne toda a poesia de Manuel de Almeida que foi também autor de melodias fadistas, como o fado “Preciso de ti”, com letra sua, além de um assinalável conjunto de fotografias do artista.

O título da fotobiografia é retirado de um fado de autoria de Almeida, “Eu fadista me confesso”, que Rão Kyao musicou.

Para a autora, esta fotobiografia é “um registo para a história do Fado, daquele fado que ele gostava”, de um dos seus “maiores criadores”.

A fotobiografia divide-se oito capítulos: “Infância e Juventude”, “O Fadista”, “Autor e Compositor”, “Atleta e Aficionado”, em que revela a faceta de atleta de várias modalidades, e aficionado da tauromaquia, “Discografia”, em que elenca todas as edições discográficas do criador de “A Casa da Malta” (António Vilar da Costa/Nóbrega e Sousa), desde as primeiras gravações na Estoril Discos até aos álbuns.

O último disco do fadista saiu em 1995, pela Movieplay Portuguesa, e incluiu, entre outros, o tema “Alma do Ganhão” (Rosa Lobato de Faria/Rão Kyao”, que foi o genérico da telenovela “Roseira Brava”, da RTP.

A autora dedicou um capítulo às homenagens ao fadista e outro aos troféus que recebeu, e ainda “Aniversário Ausente”, sobre uma iniciativa de amigos e colegas que, anualmente, se reúnem no dia do seu aniversário (27 de abril) para confraternizarem e celebrá-lo.

Para Maria de Lourdes Carvalho, tal como Camões escreveu, Manuel de Almeida é um “daqueles que da lei da morte se vão libertando”.

A fotobiografia inclui vários testemunhos sobre o fadista, do poeta Carlos Conde (1901-1981) que em verso o apontou como “dos poucos e dos bons”/fadistas à ‘antiga’”, da fadista Fernanda Maria com quem trabalhou, de 1965 a 1976, no seu restaurante Lisboa à Noite e que referiu que Manuel de Almeida “não lembrava ninguém, não imitava ninguém”, dono de um estilo de cantar “pessoalíssimo”.

O livro conta também com registos da fadista Mafalda Arnauth, que o conheceu, do fadista Rodrigo, ou do editor discográfico Emílio Mateus, da ex-etiqueta Estúdio que o apontou como um “verdadeiro estilista do fado”.

Para a autora da fotobiografia, esta é um contributo para dar a conhecer a arte e o percurso biográfico de um fadista que afirmava: “Aos colegas devo respeito e admiração, aos amigos solidariedade e afeto, e a quem me escuta, gratidão”.

A fotobiografia “Eu fadista me confesso”, de Maria de Lourdes de Carvalho, é uma edição EGEAC-Museu do Fado, e vai ser apresentada no Museu do Fado, no dia 08 de setembro, pelas 19:00, com a presença da autora e de dois amigos do fadista, poeta e compositor: o músico Rão Kyao e o fadista Rodrigo.

A sessão conta com a participação do fadista André Baptista acompanhado na guitarra portuguesa por Bruno Chaveiro e na viola por José Quaresma.

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