Fernanda Maria Carvalheda Silva, de seu nome completo, nasceu em Lisboa, a 06 fevereiro de 1937, e criou "fados que perduram na memória", senhora de uma voz "límpida e segura", como afirmou o júri do Prémio Amália, que a distinguiu em 2007 com o Prémio de Carreira.

"O seu estilo interpretativo caracteriza-se pela eficácia na utilização de técnicas expressivas como o 'rubato', os melismas e a mudança de estilo", segundo a "Enciclopédia da Música Portuguesa no Século XX".

O investigador de fado José Manuel Osório, em declarações à agência Lusa em 2006, afirmou que Fernanda Maria era "não só uma das figuras mais marcantes do século XX, como a maior, a grande herdeira dos maiores intérpretes de repertório tradicional".

José Manuel Osório coordenou uma antologia de fados editados pela discográfica Movieplay Portuguesa, "Fados do Fado" (2011), na qual incluiu Fernanda Maria, e organizou uma antologia da fadista publicada pela mesma discográfica em 2006.

A antologia reúne 30 êxitos seus, entre 1962 e 1973, uma escolha entre os mais de 80 discos da fadista, entre ‘singles’, ‘Extended Play’ (EP) e ‘Long Play’ (LP).

Entre as gravações da fadista, José Manuel Osório salientou as "magníficas interpretações" de "O Meu Marialva", de Frederico de Brito, na melodia do Fado Triplicado, de José Marques, "Aquela Velhinha", de João Linhares Barbosa no Fado Cigana, de Armando Machado, e "Rosa Enjeitada", "uma criação de Hermínia Silva, mas que Fernanda Maria dá substância interpretativa e grande intenção nas palavras".

A obra de Fernanda Maria está ainda editada nas coleções "O Melhor de", da discográfica EMI/Valentim de Carvalho (2009), e "Estrelas da Música Portuguesa" (2015), da Ovação.

Fernanda Maria encarou o Fado como razão e explicação da sua existência, afirmou em 1968. Em declarações à revista Magazine, a fadista afirmou: "Não sei se foi a pobre existência que tive, se foi a influência de ouvir cantar fado, que gravaram em minha alma esta forma de sentir".

Aos 12 anos tornou-se independente e começou a trabalhar como empregada de mesa na casa de fados A Parreirinha de Alfama, de Argentina Santos (1924-2019), onde se estreou como fadista, e mais tarde, cantou n'O Patrício, na calçada de Carriche, também em Lisboa.

Com "15 para 16 anos" apresentou-se na Emissora Nacional por insistência do cantor Alfredo Lopes. Entre 100 candidatos foi uma das escolhidas, passando a fazer parte dos quadros da emissora, apresentando-se nos programas "Serão para Trabalhadores", "Estrelas no Odeon", "Comboio das Seis e Meia" ou "Passatempo PAC".

No final da década de 1950 a sua carreira ganhou maior visibilidade e em 1964 foi "atração nacional" na revista "Acerta o Passo!", levada à cena no Teatro ABC, na capital.

Fernanda Maria fez parte do elenco da casa de fados A Severa. No total, foram 20 os álbuns gravados para os Estados Unidos, de onde recebeu várias propostas para atuar, mas recusou sempre.

A única saída além-fronteiras foi uma atuação nos Países Baixos, num cartaz que incluiu o músico espanhol Paco de Lucía. Esta pouca disponibilidade para atuar nos palcos internacionais deveu-se ao facto de, a partir de 1964, ter aberto a sua própria casa de fados, Lisboa à Noite, no Bairro Alto, na capital, onde passou a centrar a sua carreira, e que, segundo a Enciclopédia da Música Portuguesa, era "uma das casas de fado de referência", com um elenco que incluía, entre outros, os fadistas Manuel de Almeida (1922-1995), e António Rocha, e os músicos Francisco Carvalhinho (1918-1990) e Domingos Camarinha (1915-1993).

"Fadista castiça, como dizemos no meio, a Fernanda, a uma carreira internacional, terá preferido o seu retiro de fado e o convívio com fiéis admiradores", disse à Lusa o investigador de fado Luís de Castro, fundador da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado.

Luís de Castro sublinhou "a capacidade emotiva da interpretação e a intenção que colocava em cada uma das palavras que cantava".

"Indubitavelmente é uma das grandes referências do fado pela interpretação cuidada; sabe dividir os versos, tem dição, compasso, sendo uma estilista de exceção", realçou Luís de Castro.

Para o estudioso, ouvi-la "é uma lição de fado", opinião partilhada por José Manuel Osório.

Fernanda Maria referia-se a si como "uma cantadeira de casa de fados". A fadista foi também autora de algumas letras que cantou, como "A razão do meu viver", que gravou na melodia do Fado Menor, e, recentemente, o fadista Ricardo Ribeiro gravou da autoria de Fernanda Maria "Prédio em Ruína", numa melodia de Domingos Camarinha.

Fernanda Maria gravou com Alfredo Marceneiro (1891-1982) "Bairros de Lisboa" (Carlos Conde/A. Marceneiro) e "A Camponesa e o Pescador" (Henrique Rêgo/Armandinho).

Em declarações à Lusa, Maria de Lourdes de Carvalho, que escreveu para a fadista "Nessa Noite, a Esta Hora", "Meu Nome de Lamento" e "Os Dois Impossíveis", disse que "quase tudo o que a Fernanda Maria gravou anda nas bocas do mundo".