O anúncio foi feito hoje pelo Teatro Nacional D. Maria II (TNDM), a instituição teatral portuguesa abrangida neste projeto STAGES, que será lançado numa conferência-debate durante o Festival d'Avignon, no dia 15 de julho, e decorrerá entre janeiro de 2022 e dezembro de 2025.

A ideia desta iniciativa, que envolve 14 teatros parceiros, é testar soluções experimentais para os maiores desafios colocados pela crise climática, revelou o TNDM, em comunicado.

A STAGES – Sustainable Theatre Alliance for a Green Environmental Shift recebeu dois milhões de euros em cofinanciamento da União Europeia para testar, ao longo de quatro anos, “soluções radicais para os maiores desafios impostos pela crise climática”.

Estes “desafios” incluem o impacto do carbono nas digressões internacionais: os parceiros apresentarão novos espetáculos sobre a crise climática, em vários países europeus (e até em Taiwan) sem movimentar pessoas ou objetos.

A transformação sustentável de longo e curto prazo, através de um processo de autoanálise, que identificará as principais áreas de mudança nos teatros parceiros, inclusive em temas como ‘design’ de figurinos, deslocações do público e equilíbrio entre vida profissional e pessoal dos trabalhadores, é também visada.

Outro desafio deste projeto é desenvolver uma série anual de eventos e ‘workshops’ participativos num Fórum que reunirá artistas, cientistas e público, para sonhar com “futuros desejáveis”.

“O projeto surge numa altura em que os teatros procuram urgentemente novas formas de se tornarem resilientes e inclusivos, após dois anos de pandemia, ao mesmo tempo que reconhecem a clara necessidade de compensar o tempo perdido na implementação dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU”, refere o comunicado.

O STAGES parte de um trabalho iniciado pelo Théâtre Vidy-Lausanne, um dos 14 parceiros do projeto, que passou vários anos a examinar a possibilidade de usar o conceito de Economia Donut – que propõe a criação de um modelo de desenvolvimento sustentável, que permita a prosperidade da humanidade, sem que sejam ultrapassados os limites planetários – no processo de fazer teatro.

A experiência deste teatro será agora replicada noutros teatros europeus, com a criação de pontos de contacto entre os membros da STAGES e parceiros académicos, para mudar a forma como os teatros e o público se relacionam com o conceito de sustentabilidade.

Assim, fica estabelecido entre os teatros envolvidos o compromisso de repensar os processos de digressão, reencenando duas performances criadas por Katie Mitchell e Jérôme Bel para o Théâtre Vidy-Lausanne, usando elencos locais, cenários locais e até eletricidade gerada no palco.

O processo começa a partir de um mesmo guião, compartilhado entre os parceiros, que vem acompanhado de orientações e notas de rodapé, cabendo a cada equipa utilizá-las durante a sua própria reencenação ou fazer algumas adaptações.

Um dos primeiros resultados positivos deste projeto foi o apoio solidário a Trafó, teatro húngaro cujos recursos, depositados num banco de propriedade russa, foram vedados na sequência da invasão da Ucrânia.

Metade dos parceiros do STAGES consentiu a partilha de fundos para que Trafó produza a adaptação da peça de Jérôme Bel e ainda coproduza um espetáculo adicional, na segunda metade do projeto.

Serge Rangoni, diretor artístico e diretor Geral do Theatre de Liège, um dos principais parceiros do projeto, afirmou que o “STAGES tem um foco na sustentabilidade social e ambiental, que é especialmente relevante para os teatros no contexto da pandemia de COVID-19, pois as instituições em todo o continente procuram novas formas de serem resilientes e restabelecer um relacionamento com o público que viveu imensas transformações sociais”.

“Também tenta responder a uma pergunta difícil: é possível que os teatros continuem o seu trabalho presencial, indispensável com o público, em todo o mundo, sem aumentar ainda mais o seu impacto na Terra? E, ao mesmo tempo, o poder abrangente da cultura pode ser usado para ampliar a ambição, a criatividade e a inventividade exibidas durante o périplo STAGES, para mudar a forma como todos interagem com a sustentabilidade?”, acrescentou.

Rui Catarino, presidente do Conselho de Administração do TNDM, sublinhou que esta instituição teatral “tem feito um trajeto, ao longo dos últimos anos, de melhoria contínua do seu desempenho nestas áreas”.

“Isto reflete-se no incremento do serviço público prestado pelo teatro a públicos diversificados, às iniciativas de inclusão social que promove, à diversificação das fontes de receita e, entre outros, ao desempenho ambiental do seu edifício e das suas práticas”, recordou.

Para o responsável do Teatro D. Maria, o STAGES é da maior importância para o Teatro Nacional D. Maria II, ao colocar um foco na sustentabilidade ambiental e social das artes performativas, servindo como um laboratório de novas práticas artísticas e operacionais que permitam a redução da pegada carbónica dos teatros, e promovendo ao mesmo tempo a participação de grupos tradicionalmente sub-representados no contexto cultural.

“Ao dedicar-se à ‘transição verde’, irá incentivar os 14 parceiros internacionais a desenvolver, adotar e disseminar práticas sustentáveis, o que, num contexto de preparação da obra de remodelação que o TNDM irá sofrer em 2023, se afigura também como uma oportunidade única”, assinalou Rui Catarino”.

Além do TNDM e do Théâtre de Liège (Bélgica), integram o projeto os teatros MC93 — Maison de la Culture de Seine-Saint-Denis (França); Croatian National Theatre in Zagreb (Croácia); The Royal Dramatic Theatre, Dramaten, Stockholm (Suécia); Lithuanian National Drama Theatre (Lituânia); Piccolo Teatro di Milano – Teatro d’Europa (Itália); Trafó House of Contemporary Arts (Hungria); NTGent (Bélgica); Maribor Slovene National Theatre - Slovensko narodno gledališče Maribor (Eslovénia); Riga Technical University - University of Latvia (Letónia); European Theatre Convention (Alemanha); Théâtre Vidy-Lausanne (Suíça) e National Theater & Concert Hall (Taiwan).

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