João Afonso lançou este mês um novo álbum, sucessor de "Outra Vida", que conta com as letras dos amigos Mia Couto e José Eduardo Agualusa. Virado para a diversidade, o artista fala da lusofonia, da amizade e outros sentimentos em "Sangue Bom".
É correcto falar numa tripla nacionalidade deste álbum?
É um álbum cheio de afinidades. A musicalidade e a riqueza dos poemas de Mia Couto e de Zé Eduardo Agualusa fizeram-me viajar para imagens da minha infância ou mistérios e lendas e narrativas, introspectivas ou não, que fazem pensar... Naturalmente Moçambique, Portugal e Angola estão lá não só por nós os três mas também por músicos que colaboraram do mundo lusófono.
Sente que as comunidades portuguesa, moçambicana e angola têm valorizado um verdadeiro sentimento de lusofonia?
Acho que sim. As diversas expressões de arte de Moçambique, Angola e de Portugal a que se juntam Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Timor Leste são a expressão dessa afirmação como identidade...
"Outra vida" remonta a 2006. O que tem acontecido nos últimos anos?
Desde "Outra vida" não tenho parado. Fiz entretanto com o meu amigo João Lucas o "Um redondo vocábulo", um olhar pessoal nosso sobre algumas das belas canções de José Afonso. Continuo a compor para outras pessoas e para mim próprio. E, claro, continuo a cantar e a tocar por aí, por Portugal e além fronteiras. Continua a ser um prazer cantar e comunicar ao vivo por aí.
Como se formaram as amizades com Mia Couto e José Eduardo Agualusa?
Sou fã da obra de ambos e grande admirador da forma de ser e estar do Mia e do Agualusa. Entretanto tive a sorte de os conhecer pessoalmente (o Agualusa foi meu colega na Agronomia) e sinto-me feliz por os ter como dois grandes amigos.
O álbum tem uma musicalidade geralmente alegre, mas algumas músicas a apontar tristeza ("Canção da Despedida", "A Dor e o Tempo" ou "Onde o Amor termina"). Quais são os sentimentos predominantes em "Sangue Bom"?
Acho que o "Sangue Bom" é variado, de uma multiplicidade de universos sonoros e temáticos. É alegre, melancólico, tem humor, introspectivo, sensual e há poemas que fazem meditar, filosóficos. São cheios de cheiros, de cor, de calor, amores, desamores, paixões...
As aproximações a Zeca Afonso são notáveis. Em ano de celebração dos 40 anos de Democracia, esta é também uma forma de homenagear um dos cantores da revolução?
É sempre com prazer que evoco a obra do meu tio. E é com a conquista da liberdade e das independências, como a Democracia, que podemos celebrar a língua Portuguesa que cantamos e escrevemos.
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