O ator e comediante Ary Abittan, popularizado com um dos genros com sogros preconceituosos na trilogia "Que Mal Fiz Eu a Deus?" (2014, 2019 e 2022), viu na terça-feira ser arquivado um caso em que era acusado de ter violado uma mulher em outubro de 2021.
No entanto, a decisão poderá ser posta em causa pelo anunciado recurso interposto pela queixosa.
Na sequência de uma notícia do jornal Le Figaro, a informação foi confirmada à France-Presse (AFP) esta quarta-feira por fontes próximas do caso e posteriormente pela Procuradoria de Paris.
Esta decisão era esperada, uma vez que o ator, de 50 anos, vira confirmada o fim da acusação e a colocação na qualidade de assistente no processo a 20 de julho do ano passado.
Durante o inquérito judicial ocorreram várias audiências, perícias e confrontos das versões.
"Nada foi deixado de lado", disse à AFP Caroline Toby, advogada do ator.
"Estou muito feliz por Ary Abittan e espero que possa finalmente dedicar-se à carreira e que o cinema volte a estender-lhe a mão", acrescentou.
Por sua vez, Charlotte Plantin, que representa a queixosa, indicou à AFP a sua intenção de recorrer do arquivamento.
A audiência poderá realizar-se no prazo de um ano, de acordo com os prazos habituais da Câmara de Instrução do Tribunal de Recurso de Paris para este tipo de casos.
A jovem, funcionária de uma plataforma digital, que mantinha encontros com o ator há várias semanas à data dos alegados factos, acusa-o de lhe ter imposto a sodomia durante uma noite na sua casa, no dia 30 de outubro de 2021.
Com 23 anos na época, apresentou queixa poucas horas depois, às 2h00, numa esquadra de Paris. As lesões foram observadas clinicamente e eram compatíveis com uma relação sexual anal.
Detido na manhã seguinte, Ary Abittan foi indiciado por violação e colocado sob supervisão judicial.
Durante o inquérito, a jovem descreveu o ator como obcecado pela prática da sodomia, mas esclareceu que tinha, até então, sempre aceite a sua recusa.
Naquela noite, afirma ter primeiro dito não e depois gritado de dor durante o ato.
"Pedi-lhe para parar"
Numa série de mensagens com uma amiga no WhatsApp logo após o incidente, escreveu: "Ele / como dizer / Ele foi para o 'buraco errado' / E magoou-me muito / Pedi-lhe para parar / E ele continuou (...) / Tenho a certeza que ele não estava enganado / Estava com dores e o resto / E pedi-lhe para parar / Mas nada".
Mas em julho do ano passado, os dois juízes de instrução levantaram as acusações contra Ary Abittan, justificando a sua decisão pela ausência de provas sérias ou consistentes a favor de um ato de penetração sexual imposto por violência, coerção, ameaça ou surpresa, de acordo com o seu veredito na altura, cujas fundamentações constam no arquivamento assinado na terça-feira e também consultado pela AFP.
Para os magistrados, outros elementos fragilizaram o valor probatório dos indícios inicialmente registados, como os depoimentos das ex-namoradas do ator, descrevendo-o como um parceiro respeitador, bem como uma perícia psiquiátrica e psicológica desprovida de elementos de personalidade que indiciem uma sexualidade desviante ou impulsos sexuais agressivos.
Tal como o Ministério Público, que solicitou este arquivamento, os juízes também consideram que as declarações da queixosa sobre os factos da noite evoluíram, afetando a sua credibilidade, especialmente porque certos pontos foram contrariados pela investigação.
No final, uma certa equivocidade da queixosa na conduta e nos sinais enviados ao ator foi registada pelos magistrados.
Os dois juízes, no entanto, reconheceram o seu indiscutível stresse pós-traumático.
Ary Abittan, que começou nos palcos com espetáculos de humor, é mais conhecido do grande público pelo seu papel como o genro judeu de Christian Clavier na saga "Que Mal Fiz Eu a Deus?", com três filmes de Philippe Chauveron lançados entre 2014 e 2022.
Presença habitual nos programas do apresentador Arthur no canal TF1, também entrou em telefilmes.
Após ter melhorado a sua situação judicial no verão passado, começou a regressar aos palcos, surgindo por exemplo no final de março em Clermont-Ferrand num espetáculo centrado nos seus problemas, segundo o Le Figaro.
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