Ao longo de pouco mais de hora e meia e perante um auditório da Câmara Municipal de Matosinhos praticamente cheio, o autor de “Einstein entre nós” descreveu o autor da teoria da relatividade como “um andarilho, um judeu errante”, que para além de viajar um pouco por todo o mundo a título lúdico, fê-lo também para combater a pseudociência vigente no seu tempo.

“Ele foge da falta de liberdade [da Alemanha nazi], mas também dessa característica da falta de liberdade que é querer adaptar a ciência aos nossos desejos”, explicou à Lusa Carlos Fiolhais, à margem do colóquio em que louvaria a convicção de Einstein de que “cada um de nós tem direito ao seu tempo”.

Relativamente ao recente regresso de políticas e movimentos anticientíficos que passam pela negação de alterações climáticas ou da eficácia da vacinação, Carlos Fiolhais lembrou as “teorias de cientistas nazis, como a da Terra oca, ou do regime de Estaline, com uma teoria alternativa à evolução que estava errada e que teve consequência catastróficas para a economia soviética”.

“Há, nos tempos mais recentes, neste planeta, sinais de restrição de liberdade”, considerou Carlos Fiolhais, concluindo que “quando alguém, à frente de um país, e logo os Estados Unidos, diz que os cientistas estão errados, que diz que não há alterações climáticas, que diz que há certas coisas que causam cancro sem conhecimento nenhum disso, coisas baseadas na mentira – chamar-lhes pós-verdade é um eufemismo – é a ciência que está em risco.”

Para o professor universitário, “o exemplo da vida de Einstein é de uma expressão livre, que foi incomodada pela chamada ciência alemã, de que se quis distanciar, dizendo que nunca se sentiu alemão.”

“Isso é uma lição ainda nos dias de hoje: a ciência precisa de liberdade como do pão para a boca”, resumiu o físico, interrogando-se: “Quem poderia imaginar, num tempo em que pensávamos que estavam assegurados os direitos, e que, ao fim ao cabo, pensamos que todo o conforto que temos hoje é derivado da ciência, que voltaríamos a um tempo obscurantista?”

“A liberdade de que Einstein precisava é a liberdade de que precisamos”, disse à Lusa.

O Literatura em Viagem (LeV) prossegue, à semelhança dos anos anteriores, na Biblioteca Municipal Florbela Espanca, em Matosinhos, até este domingo, sob o conceito de ‘Abel e Caim – Os Irmãos Europeus’, em que se pretende abordar o contexto político e social do continente e respetiva Cultura.

Hoje, sábado, às 21h30, prevê-se a apresentação do novo livro do jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho, ‘O Pianista de Hotel’.

O LeV encerra às 18h de domingo com uma discussão sobre se “Serão as notícias da morte da Europa exageradas?”, com a participação de Ana Margarida de Carvalho e João Todo, e moderação de Hélder Gomes.

Todas as sessões têm entrada livre.