O prémio, no valor pecuniário de 10.000 euros, inclui ainda a edição da obra, através de um protocolo com a Editorial Gradiva.

Sem adiantar o número de candidaturas, a Estoril Sol afirma que se registou este ano "uma afluência recorde de concorrentes", o que "exigiu um trabalho aturado ao júri".

Sobre a obra vencedora, o júri considerou "Escavadoras" um "romance que atrai não só pelas vertentes oníricas como a narrativa se organiza, mas também pelo sentimento de perda que une o universo existencial das personagens. Um ponto de vista lutuoso orienta e organiza as relações humanas e, facto não menos relevante, a própria tragédia familiar vivida no romance".

No mesmo comunicado sobre o romance, a autora afirma: "Comecei a costurar a tessitura de fragmentos até o texto ganhar corpo e expandir-se. Esse curso tornou-se num forte impulso para fazer da escrita oficina diária e concretizar a primeira experiência em ficção. Resultou num primeiro esboço pouco antes da minha filha nascer, agora com um ano. A candidatura ao Prémio surge como passo natural de quem tem algo em mãos que não sabe ainda defender e procura uma avaliação, tenta a sorte".

"O cenário de fundo da trama familiar é uma paisagem esventrada até às entranhas pelas escavadoras ininterruptas. A família vive num lugar em tensão com um não-lugar em potência, o novo troço da autoestrada", refere a autora.

Marta Pais Oliveira acrescenta: "desde cedo que sinto grande necessidade de ler. Os livros são para mim objetos mágicos, sempre me rodearam como portas para perguntas, poucas respostas. Acredito muito no poder da palavra. Ao longo dos vintes escrevi principalmente crónicas, poemas ou tentativas. Escrevo porque preciso, é uma dimensão que me abre mais sentido para a vida. E ajuda a serenar alguma inquietação".

Para Marta Pais Oliveira, o prémio "é um reconhecimento" que a "deixa muito feliz" e a "incentiva a escrever mais e a melhorar".

"Agora o texto pertencerá a quem o quiser ler. A possibilidade de chegar a leitores alegra-me muito, expectante pelos caminhos que farão e que não ponderei. Espero sinceramente que possam ter o prazer que tive ao escrevê-lo", afirmou.

Marta Pais Oliveira refere como influências Agustina Bessa-Luís, "o que torna ainda mais desconcertante receber um prémio com o seu nome". Outros autores referenciados são José Saramago, Fiódor Dostoievski, Emily Dickinson, Machado de Assis, Maria Velho da Costa, Clarice Lispector, Manoel de Barros e Gonçalo M. Tavares.

Marta Pais de Oliveira nasceu em Vila Nova de Gaia, em 1990, e vive em Miramar, no mesmo concelho. É licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade do Porto e Universidad Complutense de Madrid e pós-graduada em Comunicação Empresarial pela Porto Business School.

Depois de breve passagem pelo jornalismo, Pais Oliveira desenvolveu projetos de comunicação e gestão de marca, viveu em Moçambique, onde implementou sistemas de ensino à distância.

Atualmente, trabalha em publicidade e tem colaborado, como colunista em alguns jornais.

O júri foi presidido por Guilherme D`Oliveira Martins, em representação do Centro Nacional de Cultura, e incluiu ainda José Manuel Mendes, pela Associação Portuguesa de Escritores, Maria Carlos Gil Loureiro, pela Direção-Geral do Livro, das Bibliotecas e dos Arquivos; Manuel Frias Martins, pela Associação Portuguesa dos Críticos Literários; e, ainda, Maria Alzira Seixo, Liberto Cruz e José Carlos de Vasconcelos, convidados a título individual, e Dinis de Abreu, em representação da Estoril Sol.

O Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís foi instituído em 2008, pela Estoril Sol, no âmbito das comemorações do cinquentenário da empresa, visando distinguir e divulgar novos talentos literários, sem obra publicada.