O caixão foi recebido por militares na Praça Botero, junto ao Museu de Antioquia, complexo que abriga centenas de pinturas e esculturas de bronze que o artista doou à cidade.

Medellín inicia três dias de homenagens ao artista antes dos seus restos mortais serem sepultados ao lado dos da sua mulher, a artista grega Sophia Vari, que morreu em maio.

Dezenas de fãs tiravam fotos com as obras de Botero, que tinha 91 anos. Outros aguardavam na fila para se despedir do "mestre", que morreu de pneumonia no último dia 15, em Mónaco.

"É uma referência cultural. Sei o impacto que teve na cidade, principalmente com as obras que produziu na época em que Medellín estava mergulhada na violência", disse à AFP o universitário Juan Pablo Góngora, de 20 anos.

"É como vir fazer um gesto de agradecimento por tudo o que fez pela cidade", rematou o jovem.

O corpo de Botero ficará até esta quarta-feira no Museu de Antioquia e será cremado no dia seguinte.

Para a administradora reformada May Pérez, Botero "foi um diplomata da cultura colombiana". "Nunca deixou de retratar os costumes, a vida, as coisas positivas e negativas: guerra, paz, pobreza, abundância", frisou.

Centenas de fãs aplaudiram longamente durante a manhã o cortejo fúnebre que se dirigia ao Museu de Antioquia. "Botero para sempre!", gritava uma mulher de cerca de 60 anos, que assistia ao evento atrás de uma cerca de segurança, enrolada na bandeira da Colômbia.

A cerimônia continuou com discursos de pessoas que eram próximas do artista. "Acho que a coisa mais valiosa que o meu avô nos deixou foi o amor profundo pelo trabalho e a importância de descobrir uma vocação que nos ajude a dar sentido à vida", disse Felipe Botero.

Um universo próprio

O jornalista Juan Pablo Botero, um dos filhos do artista, disse que o seu pai "criou um universo próprio e original, povoado por centenas de personagens, a grande maioria inspirada na sua terra natal". "Tudo saiu deste país tão belo e sofrido que é a Colômbia, torturado pela pobreza e atormentado pela violência, que ele amou com todo o seu coração até o dia de sua morte", acrescentou.

Enquanto no mundo Botero expôs suas obras em cidades como Madrid, Paris, Barcelona e Veneza, na Colômbia o artista destinou parte da sua fortuna à cultura, doando dezenas de obras a museus e parques públicos, numa tentativa de levar a arte às classes populares.

"Sempre admirei a sua qualidade humana e seu desapego em relação às coisas materiais", disse Julio Ernesto Guarín, trabalhador de 56 anos, que não quis perder a despedida do filho preferido da segunda maior cidade da Colômbia.