A premiada cineasta Naomi Kawase foi acusada de comportamento violento contra membros da sua equipa, a mais recente revelação de uma onda de abusos na indústria que está a ser descrita como um #MeToo com atraso no Japão.

Uma das favoritas do Festival de Cannes desde que ganhou o prémio da secção Câmara de Ouro para Melhor Primeiro Filme em 1997 com "Suzaku", os seus filmes têm sido escolhidos frequentemente para concorrer à Palma de Ouro, com "The Mourning Forest" a receber o Grande Prémio do Júri em 2007 e "Esplendor" o Prémio do Júri Ecuménico em 2017. Outros trabalhos conhecidos são "A Quietude da Água" (2014) e "Uma Pastelaria em Tóquio" (2015).

Frequentemente convidada para os júris de festivais, o prestígio de Naomi Kawase é tão grande que foi selecionada pelo Comité Olímpico Internacional para fazer o documentário oficial dos Jogos de Tóquio de 2020 (adiados um ano por causa da pandemia), que foi apresentado no último Festival de Cannes.

Em abril, a revista japonesa Shukan Bunshun, citada pela The Hollywood Reporter, avançou com a notícia que a realizadora de 53 anos tinha atacado fisicamente um assistente de realização durante a rodagem de "As Verdadeiras Mães" (2020).

No alegado incidente em maio de 2019, que levou toda a equipa do diretor de fotografia Yuta Tsukinaga a demitir-se, um assistente terá tocado em Kawase para apontar que havia um problema com uma cena. Embora o gesto não tenha sido descrito como inapropriado, a visada perguntou aos gritos o que ele estava a fazer e deu-lhe um pontapé no estômago.

Numa declaração posterior publicada no 'site' da sua produtora, a realizadora não desmentiu o incidente e disse que o assunto tinha sido resolvido internamente.

A 25 de maio, a revista escreveu sobre outro incidente, em outubro de 2015, quando Kawase terá alegadamente agredido um membro da sua equipa, continuando depois de o derrubar enquanto outros funcionários fugiam do escritório com medo. Quando regressaram, o rosto da vítima estava visivelmente inchado.

O funcionário, que imediatamente se demitiu, confirmou o ataque à revista, mas não quis fazer declarações públicas.

Sem qualquer aparição pública da realizadora, a primeira parte do seu documentário sobre os Jogos Olímpicos, "Tokyo 2020 Side A", foi lançada discretamente nos cinemas na sexta-feira, já após a segunda notícia, e teve uma estreia desastrosa nas bilheteiras.

A The Hollywood Reporter recorda que a indústria de cinema do Japão, frequentemente acusada de discriminação, foi atingida por uma onda de acusações de abusos que indicam que pode estar à beira de um movimento #MeToo com atraso: várias atrizes acusaram o ator e realizador Hideo Sakaki e o seu amigo, o ator Houka Kinoshita, de assédio e agressões sexuais em março, e as mesmas acusações atingiram um mês mais tarde o cineasta de culto Sion Sono, que dirigiu Nicolas Cage no aclamado "Prisioneiros de Ghostland" (2021).