"In Transit" assenta na voz humana, com um coro sem qualquer acompanhamento instrumental. "Os atores cantam, dançam e são a orquestra", resume Kathleen Marshall, a encenadora e coreógrafa do novo musical, que estreia em 11 de dezembro.

Há mais de 20 anos, "Avenue X" foi o primeiro musical a capella, mas encenado "off Broadway", ou seja, num circuito paralelo, caracterizado por um conteúdo mais experimental, e no qual os meios e riscos financeiros não são os mesmos.

Mais recentemente, a série de televisão "Glee" ajudou a dar uma notoriedade sem precedentes a este estilo musical.

Milhares de grupos a capella foram criados em universidades ao redor dos Estados Unidos e muitos deles participaram em competições regionais e nacionais, e até na de um reality show.

Em mais um indício de que o canto a capella deixou de ser um nicho, o grupo Pentatonix, que só utiliza vozes, liderou em novembro de 2015 a venda de álbuns nos Estados Unidos.

Quando a voz se torna instrumento

Kristen Anderson-López tem o projeto em mente desde 1999. A autora, premiada com um Óscar pela canção "Let it go", do filme de animação "Frozen - O Reino do Gelo", associou-se a três amigos compositores, nova-iorquinos como ela, para o concretizar

O espetáculo conta as aventuras de 11 personagens que se cruzam, se reencontram ou se apaixonam no metro de Nova Iorque, tudo ao ritmo frenético de uma cidade que nunca faz uma pausa.

O musical é também uma metáfora sobre os itinerários da vida, com as suas voltas e imprevistos, que ressalta a importância dos pequenos momentos da existência.

"É uma comédia musical sobre Nova Iorque, mas ao mesmo tempo fala de pessoas que tentam encontrar-se ou atingir um ponto das suas vidas onde podem dizer: 'É isso, consegui'", explica James Snyder, que no espetáculo interpreta Nate, um financeiro desempregado.

"É emocionante fazer parte de algo que tenta forçar um pouco os limites", afirma à AFP Chesney Snow, um dos dois atores encarregados do "Beat box", que consiste em imitar a percussão com a voz.

Para que o exercício tenha êxito, os atores tiveram de modificar as suas vozes, sob a direção de Deke Sharon, grande mestre do a capella nos Estados Unidos.

"Temos de pensar na voz como um instrumento", descreve James Snyder.

"Muitas vezes, temos uma voz branca (sem efeito) que pode misturar-se com as outras e criar o som de instrumentos, mais que de vozes", diz David Abeles, Dave em "In Transit".

"Às vezes, Deke (Sharon) fazia-nos imitar o instrumento que deveríamos estara tocar", assinala. "Isso ajuda a visualizar o som".

"O a capella é uma metáfora incrível" da vida, porque temos de nos ajustar a outras pessoas e ouvir com atenção", disse Anderson-López à revista Entertainment Weekly.