António Cordeiro morreu este sábado, dia 30 de janeiro, aos 61 anos. O ator sofria de paralisia supranuclear progressiva, uma doença rara e degenerativa, desde 2017. A notícia foi confirmada pela Academia Portuguesa de Cinema nas redes sociais.

"É com tristeza que informamos que nos deixou hoje o Actor António Cordeiro. Com um longo percurso em televisão iniciado com 'Duarte & Companhia' (1987), em séries, mini séries e telefilmes, mas também em curtas e longas metragens como nos filmes de João Mário Grilo, 'O Processo do Rei' (1990), 'Os Olhos da Ásia' (1996) e 'Duas Mulheres' (2009), 'Milagre de Lourdes' (2011) de Jean Sagols, 'Índice Médio de Felicidade'(2017) de Joaquim Leitão e 'Um Gato, Um Chinês e o Meu Pai' (2019) de Paco R. Baños. Para a sua família o nosso comovido abraço e sentidas condolências", escreveu a Academia Portuguesa de Cinema em comunicado publicado no Facebook.

Segundo a TV 7 Dias, o ator estava internado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa deste esta sexta-feira, dia 29 de janeiro. “Ele estava muito fraquinho”, contou fonte próxima da família à publicação.

No ano passado, no início da pandemia, António Cordeiro esteve internado durante 14 dias com uma pneumonia bacteriana. "Disseram-me várias vezes que o António não ia sobreviver. Inclusive, disseram-me que, se houvesse uma paragem cardiorrespiratória, não o reanimariam devido à doença dele”, revelou a sua mulher em entrevista à TV 7 Dias.

De "Duarte e Companhia" a "Espelho d'Água"

Atores voltam a unir-se em solidariedade com António Cordeiro
Atores voltam a unir-se em solidariedade com António Cordeiro

António Cordeiro estreou-se na televisão portuguesa em 1987, ao encarnar um psiquiatra na série “Duarte e Companhia”. Em 1991, foi protagonista de outra produção da RTP1, o policial "Claxon". A personagem, um detetive, foi uma das mais marcantes da sua carreira.

O ator fez também parte de projetos como "Major Alvega" (RTP, 1998/1999), "A Minha Sogra é uma Bruxa" (RTP, 2002/2003), "Segredo" (RTP, 2004/2005), "Inspector Max" (TVI, 2005), "Morangos com Açúcar" (2006), "Ilha dos Amores" (TVI, 2007), "Ainda Bem que Apareceste" (RTP, 2008) ou "Liberdade 21" (RTP, 2008/2009).

"Feitios", "Espelho d'Água", "Coração d'Ouro", "Bem-Vindos a Beirais", "Mar Salgado", "Depois do Adeus" e "Dancin' Days" foram alguns dos seus trabalhos na última década.

Entrou ainda, como convidado, em produções televisivas como "Bem-vindos a Beirais", "Mulheres de Abril", "Mata Hari", "Pai à Força". Fez também parte dos elencos dos telefilmes "Jogos Cruéis" e O Segredo de Miguel Zuzarte".

António Cordeiro trabalhou também no teatro e no cinema, nomeadamente nos filmes de João Mário Grilo "O Processo do Rei" (1990) e "Os Olhos da Ásia" (1996). Mais recentemente fez "Índice Médio de Felicidade"(2017), de Joaquim Leitão, e "Um Gato, Um Chinês e o Meu Pai" (2019), de Paco R. Baños.

A telenovela "Espelho d'Água" (2017/2018), da SIC, está entre os seus últimos trabalhos.

A escola do teatro

Formado pela Escola Superior de Teatro e Cinema, em Lisboa, o trabalho de António Cordeiro no teatro foi regular desde os anos de 1980, com companhias como a Cassefaz e a Persona - Teatro de Comédia, grupo de que foi fundador e com quem fez "O circo dos desenganos", sobre textos de Miguel Rovisco, e "Auto da Índia e d'outras andanças", a partir de Gil Vicente.

Na década de 1990, o seu trabalho nos palcos passa sobretudo por companhias de Lisboa, como a Escola de Mulheres e o Teatro Aberto, com quem interpretou autores como Henrik Ibsen, Bertolt Brecht e Botho Strauss.

Desse período destacam-se os desempenhos em "Danças a um deus pagão", de Brian Friel, e "Sétimo céu", de Caryl Churchill, como ator convidado da Escola de Mulheres - Oficina de Teatro.

A colaboração com o Novo Grupo - Teatro Aberto estende-se pelos anos 2000, em peças como "Top dogs", de Urs Widmer, "Lucefécit", de Conor McPherson, "A última batalha", de Fernando Augusto, "A Visita", de Eric-Emmanuel Schmitt, "Peer Gynt", de Ibsen, "Demónios menores", de Bruce Graham, "O bobo e a sua mulher esta noite na Pancomédia", de Botho Strauss, e "Homem branco, homem negro", de Jaime Rocha.

No Teatro Aberto interpretou ainda duas peças de Brecht: "Galileu" e "A ópera de 3 vinténs", com a música de Hanns Eisler e Kurt Weill.

A antiga Companhia Teatral do Chiado contou com António Cordeiro para "Hedda Gabler", de Ibsen.

No Teatro Nacional D. Maria II, fez "Cenas de uma tarde de Verão", Jorge Guimarães, com encenação de Antonio Rama, e "Harper Regan", de Simon Stephens, com Ana Nave.

Em 2004, entrou em "Portugal - uma comédia musical", de Nuno Artur Silva e Nuno Costa Santos, com encenação de António Feio, que esteve em cena, no Teatro São Luiz, em Lisboa.

Como encenador, António Cordeiro dirigiu "Perdi a mão em Spokane", de Martin McDonagh, que pôs em cena no Teatro Villaret, em 2012.

"Um ator talentoso e, dizem os seus amigos, um ser humano adorável"

Nas redes sociais, vários colegas e amigos prestaram homenagens e recordaram o ator.

"A morte do António Cordeiro não nos apanhou de surpresa, mas não deixa de ser um choque. O António era um ator talentoso e, dizem os seus amigos, um ser humano adorável. Foi apanhado por uma doença terrível que o deixou longe de nós ao longo dos últimos anos. Curvo-me perante a sua memória. E perante o seu talento", escreveu Nuno Santos, diretor de programas da TVI, as redes sociais.

"Querido António Cordeiro. Descansa na Luz e em Paz. Obrigada por teres cruzado o meu caminho e até sempre. Querida, maravilhosa Lena, abençoada sejas, pelo teu amor e dedicação, sempre de sorriso pronto. O António teve uma grande companheira", escreveu Isabel Medina nas redes sociais.

O ator Luís Aleluia também recordou o colega de profissão. “O melhor da Vida são as lembranças que fica e são como velas que alumiam o escuro da ausência. Descansa em Paz”, escreveu nas redes sociais.

"Querido, António... Até já", escreveu Maria João Luis nas redes sociais.

O músico Rogério Charraz também recordou o ator. "Creio que é daquelas perdas que toca a todos os portugueses, pelo seu percurso marcante na TV e pela simpatia e simplicidade que transpareciam da sua forma de estar. Mas quem, como eu, teve a oportunidade de o conhecer fora do grande ecrã, sabe que se perdeu um belo ser humano, um homem bom que gostava de gostar dos outros", escreveu no seu perfil no Facebook.

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