O ditado já diz "NOS Primavera Sound molhado, NOS Primavera Sound abençoado". E foi isso que aconteceu no arranque do primeiro dia da edição de 2018 do festival que se realiza anualmente no Parque da Cidade do Porto. Ao fim da tarde, a chuva "abandonou" o recinto e a festa começou.
Lorde, Tyler, The Creator e Father John Misty foram alguns dos protagonistas e marcaram os grandes momentos desta quinta-feira, 7 de junho. Mas o dia e a noite contaram com pequenas surpresas que conquistaram o público.
As portas do recinto abriram às 16h00, mas o arranque oficial só começou por volta das cinco e meia com os Fogo Fogo, no palco SEAT, a carimbarem o primeiro pequeno grande momento.
A banda de João Gomes, que convidou Francisco Rebelo, Márcio Silva, David Pessoa e Danilo Lopes, animou os primeiros festivaleiros que chegaram ao Parque da Cidade. Durante cerca de 45 minutos, os Fogo Fogo contagiaram toda a gente com os ritmos cabo-verdianos e ninguém disse não a um pezinho de dança.
À mesma hora, os Foreign Poetry - Moritz Kerschbaumer (austríaco a viver em Londres há mais de uma década) e Danny Geffin (londrino a viver em Brighton)-, começaram a aquecer o palco Super Bock.
Já o Palco NOS foi inagurado por Waxahatchee. A artista trouxe ao Parque da Cidade do Porto o seu grunge, que se mistura com emo e indie rock. A cantora trouxe na bagagem o seu último trabalho "Out in the Storm" e levou o público numa viagem pela sua história das desilusões, do vazio existencial e da procura pessoal.
Veja na galeria as imagens de ambiente:
O primeiro concerto a reunir uma pequena multidão na frente do palco NOS foi o dos Rhye, duo formado pelo canadiano Mike Milosh e o dinamarquês Robin Hannibal. Como sempre, a alegria e simpatia da dupla conquistou os festivaleiros, que se deixaram levar pelo soul.
No NOS Primavera Sound, os Rhye centraram-se no último disco, "Blood", mas os temas mais conhecidos, como "The Fall" e "Open", foram os mais celebrados do concerto.
As histórias de Father John Misty
Pouco depois do arranque do concerto da dupla Mike Milosh e Robin Hannibal, às 20h25, o Palco SEAT encheu-se para ouvir Father John Misty. O músico passeou pelos temas de “Pure Comedy”, disco que “aborda temas de progresso, tecnologia, fama, meio ambiente, política, envelhecimento, comunicação social, natureza e conexão humana, sempre com a sua habitual sinceridade, em termos tão oportunos quanto intemporais”.
Mas "God's Favorite Customer", o mais recente disco do norte-americano Father John Misty, nome artístico de Josh Tillman, foi o prato principal do concerto. Tal como no álbum, no palco do NOS Primavera Sound, o músico revelou a sua vulnerabilidade e provou mais uma vez ser um verdadeiro contador de histórias - o último registo de originais centra-se nos meses de exílio do músico, num quarto de hotel de Nova Iorque, e em que lidou com os seus fantasmas pessoais.
Ao vivo, a voz do norte-americano e o seu soft-rock, agora com pitado com ornamentações mais simples e sombrias, transportaram os festivaleiros para um mundo melancólico e onde há amor, lágrimas, morte, Deus e rock.
VEJA AS FOTOS DOS CONCERTOS:
O melodrama de Lorde
Pouco depois da 22h00, chegou a vez de Lorde subir a palco - a cantora neozelandesa é um dos grandes destaques da edição deste ano do NOS Primavera Sound. Ao Porto, a cantora trouxe o seu último disco, "Melodrama", mas também fez viagens ao início da sua carreira.
Com os temas do seu segundo disco, Lorde foi direta às emoções e de forma magistral. Canção a canção, a artista foi sendo aplaudida como uma estrela pop - em muitos aspectos, a artista é uma estrela pop, mas diferente -, conquistando o público com a sua voz e com a frieza minimalista da eletrónica.
Acompanhada por vários bailarinos, a jovem cantora também provou sentir-se em casa em cima do palco. Ao longo do concerto, dançou e surpreendeu com o seu carisma e simpatia - arriscou algumas palavras em português, como "boa noite" ou "obrigado".
O arranque do concerto foi vibrante com "Homemade Dynamite" e "Tennis Court". O clima de festa perdeu-se um pouco com temas mais lentos, como "Liability", mas a energia regressou na reta final. "Royals" também não ficou de fora do alinhamento e foi uma das canções mais abraçadas pelo público.
"Team" e "Green Light" fecham o concerto da neozelandesa e deixam o público a pedir mais - Lorde prometeu voltar em breve.
O rap de Tyler, The Creator
Tyler, The Creator também brilhou no primeiro dia do NOS Primavera Sound 2018. Às 23h00, as atenções centraram-se no Palco SEAT, onde o músico apresentou “Flower Boy”, lançado em 2017 e nomeado para o Grammy de Melhor Álbum Rap.
Durante o concerto, o rapper também relembrou temas do primeiro álbum de originais a solo, "Bastard", de 2009, e de "Goblin" (2011), "Wolf" (2013) e "Cherry Bomb" (2015). Mas foi mesmo “Flower Boy” que roubou todas as atenções.
Com as canções do seu último disco, considerado o mais sincero e completo pela Pitchfork, Tyler, The Creator partilhou a sua angústia e a dor de um amor não correspondido - as canções do disco não são tão profundas e não se centram nas questões sociais ou políticas, mas são um espelho dos pensamentos de um jovem que tenta descobrir o seu lugar no mundo.
Durante uma hora, Tyler, The Creator e o público provaram que poderiam bem estar no palco principal - o recinto do palco SEAT foi pequeno para tanta gente.
A festa continua pela noite fora com Jamie XX no Placo NOS. Esta sexta-feira, 8 de junho, o NOS Primavera Sound volta a abrir portas - no segundo dia, o grande destaque vai para outro rapper norte-americano, A$AP Rocky, que lançou, a 25 de maio deste ano, o mais recente trabalho de estúdio, “Testing”, sendo bem recebido pela crítica generalizada.
Na sexta-feira, outro dos momentos mais esperados é o regresso dos The Breeders, o grupo norte-americano liderado por Kim Deal, ex-Pixies, que este ano editaram “All Nerve”, um regresso aos discos depois de dez anos de ausência.
O segundo dia arranca pelas 17:00 com dois grupos portugueses - Black Bombaim, no Palco Super Bock, e Solar Corona, no Palco SEAT -, num dia que inclui ainda Zeal & Ardor, a presença habitual dos Shellac, mais Vince Staples, Fever Ray ou Unknown Mortal Orchestra, caracterizado pela mistura de géneros musicais através dos quatro palcos do evento.
Fotos: João Rocha
Comentários