A literatura escandinava já circula em Portugal há uns bons anos - um pouco como em todo o lado a partir do esmagador sucesso encontrado por Sven Larsson e a sua série “Millenium”. Vários escritores lhes seguiram as pegadas - ao ponto onde não é estranho a ninguém encontrar nas prateleiras das livrarias nomes muito diversos do universo lusófono ou anglo-saxão.
“Quem Matou Bambi?” segue a vida de três homens envolvidos, de diferentes maneiras, num terrível crime ocorrido quando eram adolescentes: a violação em grupo de uma jovem na casa de um deles. Paralelamente, duas amigas de origens interioranas vivem uma relação de amizade temperada por longos períodos de cortes de relacionamento.
Crime, castigo e ostracismo
Conforme explica a autora ao SAPO Mag, a história da violação é contada pela ótica de um dos perpetradores que, imediatamente após o sucedido, tenta fazer a coisa certa e contar tudo à polícia. Isso para depois compreender que jamais o deveria ter feito, pois isso o coloca em sérios problemas com a comunidade rica onde ele vive - levando-o ao ostracismo.
“A história começa anos depois, quando este rapaz que agora é um homem já não consegue guardar o que tinha acontecido”, diz. Para piorar as contas dos outros envolvidos, ele agora é bem-sucedido produtor de cinema que pretende adaptar essa história que foi diligentemente esquecida por todo o grupo social do qual ele fazia parte…
Intensidade "punk"
Ao contar a sua história de modo, aliás, nada linear, Monika Fagerholm atira para dentro do seu texto, a tempos bastante denso, uma série de referências - especialmente musicais (em particular do “rock indie”) e cinematográficas.
“Quem Matou Bambi?”, num primeiro momento refere-se diretamente à música homónima dos Sex Pistols (“eu queria uma intensidade ‘punky’, diz) mas, conforme salienta, tem outros significados com a evolução do enredo. De qualquer forma, o importante é que elas surjam organicamente dentro da narrativa.
Trauma e silêncio
Quanto ao estilo entrecortado, onde os pensamentos dos personagens misturam-se com factos que observam e torrentes de memórias (e citações) irrompem pelo meio, a escritora salienta que a forma não pode ser separada do conteúdo. “Essa é uma história de silêncio e trauma, então a forma como (e porque) o passado ressurge influencia a escrita”.
Fagerholm já ganhou diversos prémios na Escandinávia. Que importância eles têm para ela? “Sinto-me honrada, mas não é o que me faz escrever. Eu continuaria a escrever da mesma forma”, completa.
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