Escrita por um dos grandes dramaturgos do século XX, e vencedor do Prémio Nobel da Literatura em 2005, Harold Pinter criou a peça teatral “O Amante” propositadamente para televisão, que a difundiu em março de 1963, antes de, em setembro desse mesmo ano, ser estreada no Arts Theatre.

Esta é a segunda vez que o espetáculo é levado à cena na Sala Estúdio do Teatro da Trindade Inatel, 28 anos depois de se ter estreado em palcos portugueses, pela mão de Diogo Infante.

A peça conta a história de um casal que, para quebrar a monotonia do casamento, constrói uma fantasia de infidelidade, na qual, em encontros à tarde, o homem se transforma num desconhecido que bate à porta de casa para se envolver com a mulher.

Através da libertação do desejo sexual, o casal alimenta todos os seus fetiches e, aparentemente, tudo parece resultar, até que o jogo da intimidade vai saindo do controlo, e a entrega à fantasia acaba por fazer cair as máscaras, provocando conflitos inesperados.

Na encenação partilhada por Albano Jerónimo e Cláudia Lucas Chéu, foi criado “um espaço cénico meio televisivo”, correspondendo à conceção original da peça, assente num “texto dos anos 60 escrito para televisão”, explicou à Lusa a encenadora.

O cunho pessoal desta adaptação reside numa “rutura a meio do espetáculo em que mudamos o jogo para algo mais experimental”, mas “sem desvirtuar o texto de Pinter”.

Sem querer detalhar muito em que consiste a referida rutura, para não desvendar parte essencial do espetáculo, Cláudia Lucas Chéu adiantou apenas que “o espaço cénico fica limpo a partir do momento em que aparece o amante”, e processa-se um “jogo um pouco infantil”.

Os encenadores procuraram “materializar o texto de Pinter no próprio espaço cénico”, disse.

A ideia de encenar este texto partiu de uma proposta da atriz Custódia Galego - que contracena na peça com Virgílio Castelo e Luís Puto -, que levou os encenadores à reflexão: “Por que não fazer um texto que saia da nossa linha, para experimentar outro tipo de linguagem?”.

Além disso, esta versão permitiu a liberdade de fazer o espetáculo com autores de idades que não são as propostas por Harold Pinter.

No original, os protagonistas andam na casa dos 30/40 anos, mas na encenação que se estreia agora no Trindade, a história desenrola-se em torno de um casal interpretado por atores na casa dos 60 anos.

Esta obra é descrita pelo biógrafo de Harold Pinter, Michael Billington, como “uma peça ardilosa” que “começa como comédia de costumes, passa para a exploração de ilusões fetichistas que tanto podem aguentar um casamento como sugerir um esgotamento nervoso e, finalmente, faz a reconciliação entre a realidade e a fantasia”.

Esta mesma frase é usada como apresentação da peça pelo Teatro da Trindade, o que leva Cláudia Lucas Chéu a admitir que aqueles pressupostos são rigorosamente cumpridos no desenrolar do espetáculo.

“É quase inevitável. Harold Pinter é um Nobel, é praticamente impossível fugir à linha que o texto aponta. Tem essa estrutura: há uma certa ironia, depois passa para um universo fetichista e depois, para o fim, é mais 'à David Lynch', um universo onírico, de sonho”, explicou.

Desta experiência nova de trabalhar um texto clássico, a “parte mais enriquecedora, como equipa, foi a troca com atores com quem nunca tínhamos trabalhado”.

Cláudia Lucas Chéu destaca a “troca de conhecimentos” que estes atores trazem consigo.

“Propuseram algumas coisas, não se limitaram a executar. Foi muito enriquecedor, até entre gerações diferentes”, acrescentou.

O espetáculo, que se estreia às 19:00 de 18 de setembro e fica em cena até dia 10 de novembro, é uma coprodução do Teatro da Trindade INATEL e do Teatro Nacional 21.

Harold Pinter, nascido em Londres, em 1930, foi um ator, diretor, poeta, argumentista e considerado um dos grandes dramaturgos do século XX, além de ter sido ativista político.

Harold Pinter escreveu a sua primeira peça - "The Room" - em 1957, mas o seu primeiro trabalho em prosa, “Kullus”, data de 1949. Escreveu ainda para rádio, televisão e cinema.

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